Livros-Memórias de Adriano-de Marguerite Yourcenar

Memórias de Adriano(1951) foi o romance que projetou Marguerite Yourcenar (1903-1987) internacionalmente,e fez que o mundo conhecer uma grande escritora.
Memórias de Adriano é a história romanceada do imperador romano Adriano(76-138 d.c.) na forma de longas cartas a seu sucessor Marco Aurélio.Essas cartas são divididas em:Animula Vagula Blandula(Pequena alma terna flutuante),Varius multiplex multiformis(vário multiplo multiforme),Saeculum aureum(século dourado),Disciplina Augusta e Patientia(paciência).
Em cada uma das diferentes epístolas,Adriano reconta uma parte de sua vida,desde seu nascimento na Espanha,sua infância solitária,sua juventude em Roma e depois sua ascensão ao poder e sua vida como imperador romano.
Obra prima da literatura,o romance é uma longa divagação sobre a vida,o amor,a sociedade,o poder.
O Adriano de Yourcenar,um imperador romano com poder absoluto se coloca como um ser humano muitas vezes frágil e amedrontado frente às armadilhas do destino,as ironias da sorte.
Yourcenar dá grande destaque ao romance entre Adriano e o jovem grego Antínoo-ela achava que a história desse relacionamento era a chave para entender a personalidade de Adriano.A parte que narra o romance-Saeculum Aureum-é a melhor do livro.A meditação do imperador sobre o amor é impressionante,mostrando como tudo muda,menos a verdade essencial da vida.
Marguerite Yourcenar recria todo um tempo em que em suas próprias palavras:"O deuses estando mortos e ainda não existindo o cristianismo,houve um breve momento em que só existiu o homem".
Um dos grandes romances do século XX,amado e sempre relido por seus fiéis admiradores.
Trechos:
"Nosso grande erro é tentar encontrar em cada um ,em particular,as virtudes que ele não tem,negligenciando o cultivo daquelas que ele não tem"
"Fui amado por alguns;estes me deram muito mais do que eu tinha direito de exigir ou mesmo de esperar deles:algumas vezes sua vida;outras sua morte."
"Foi dessa maneira,com uma mistura de prudência e audácia,de submissão e revolta cuidadosamente calculadas,de extrema exigência e prudentes concessões,que acabei finalmente por aceitar-me a mim mesmo."
"A moral é uma convenção privada:a decência,um assunto público;toda permissividade muito visível sempre me pareceu uma exibição de mau gosto."
"Quando tivermos reduzido o máximo possível as servidões inúteis,evitado as desgraças desnecessárias,restará sempre,para manter viva as virtudes heróicas do homem,a longa série de males verdadeiros:a morte,a velhice,as doenças incuráveis,o amor não partilhado,a amizade rejeitada ou traída,a mediocridade de uma vida menos vasta do que nossos projetos e mais enevoadas que nossos sonhos.Enfim,todas as desventuras causadas pela divina natureza das coisas."
"Tudo se desmoronava;tudo parecia extinguir-se.O Zeus Olímpico,o Senhor de Tudo,o Salvador do Mundo aluíram;de repente,existiu apenas um homem de cabelos grisalhos soluçando no convés de um barco."(ao saber da morte de Antínoo)
"Não sabia ainda que a dor contém em si estranhos labirintos,(...)"
"Tentei ir em pensamento até essa revolução pela qual todos nós passaremos,o coração que renuncia,o cérebro que se submete,os pulmões que cessam de aspirar a vida.Passarei por uma convulsão análoga;morrerei num dia.Mas cada agonia é diferente."

As Eleições e a Coerência Pessoal

Como todos podem ver aqui na barra lateral,voto Dilma em 3 de Outubro.Esse post não é uma explicação de voto,porque não tenho que explica-lo,mas uma declaração de intenções e motivos.
Voto Dilma por convicção pessoal,convicção essa que vem de muito tempo.Aprendi muito cedo na vida(às vezes a duras penas) que a direita é a coroação do supremo lugar comum da política,com seu conservadorismo dogmático,seu preconceito de classe,seu horror à transformação social,sua convicção absurda em uma humanidade monolítica e em uma suposta submissão de todos ao interesse econômico de uma minoria,em detrimento da maioria.
Não sou e nem nunca fui filiado a nenhum partido político-sou avesso a dogmas e ortodoxias.Mas jamais votaria na direita,por história de vida e de familia.Penso nos milhões de pessoas que melhoraram de vida nos últimos oito anos de governo Lula.E isso no país do 'elevador de serviço'-uma metáfora do nosso apartheid social,que sempre foi muito bem aceito por uma boa parcela da classe média que talvez pensasse-''pobres?sempre existirão!".O que Lula fez e penso Dilma continuará é algo muito fácil de definir-um choque de capitalismo,uma inclusão social,a criação de um mercado de consumo de massa.Nada de comunismo,de 'regime autoritário' que uma parte da mídia(saudosa da época casa grande e senzala)tenta apregoar.
Fico pasmo quando perguntam;porque 'os pobres' vão votar na esquerda?É preciso mesmo responder?
Não sou a favor de loteamento de cargos públicos,nem de corrupção no governo-em qualquer governo.
O que é preciso fazer agora é avançar as conquistas sociais:aumento real dos salários,redução da semana de trabalho para 40 horas,melhoria urgente da educação e do Sistema Público de Saúde,proteção mais efetiva às minorias,aos idosos e crianças,criação de mecanismos mais democráticos ,que deem oportunidades a todos,igualmente.Pelo fim da casta de privilegiados que tem governado esse país há 500 anos
Voto com coerência pessoal.Perdi a conta dos 'unfollows' que levei no twitter,até de mensagens ofensivas que recebi.A democracia é a união das diferenças-e parafraseando o que Voltaire  e tantos outros disseram-"Todos temos o direito de expressar nossas opiniões,respeitando também a dos outros".
Que essa eleição,independente do resultado,resulte em um país realmente melhor para todos,sem exceção.

Poesia-'Sinto"-de Pedro Penido

Sinto

seguia gallows pole,do led zeppelin,quando no papel caía o que se

segue...escorrido...

Às vezes eu sinto e...sou.
outras,poucas,sinto e vou.
sinto o que todo mundo sente.
penso que é truque do tempo,
mas o tempo,eu sei,não mente.

dele arranquei dúvidas.
confessei a loucura.
nele encontrei monstros.
encontrei bravura.

mas dói na carne o sentimento.
sinto,escorro...
sinto,sofro,peço socorro.

não vêm mãos ou olhares.
poucos sorrisos no horizonte.
enquanto naufrago no meu tempo.
onde sofri e escorri...e senti.

mantenho minha bandeira.
como sangue novo,escarlate.
resta pouco de humano.

e dói o vazio desta alma imensidão.
imersa na loucura ao som de gallows pole.
enquanto tropeço em busca de paixão,
sinto,sofro,morro,vivo...apemas,agora,sou.

despreendido,entorpecido por veneno e dor.
peçonha dos prédios apertados e muita,muita dor.
encurralado nos labirintos da insana solidão,
flagrado nos limites do absurdo vago amor.


Pedro Penido é um 'novo' poeta,e poeta de verdade,não mero versejador ou organizador de períodos.Sua poesia tem uma força na qual eu sinto a tradição e a vanguarda juntas.Não será esse o destino da poesia,um diálogo permanente entre  o passado,o presente o inconsciente?
Pedro Penido acontece de ser meu primo e fico honrado em apresenta-lo aqui  nesse espaço.

Música-Loser-Versão do elenco de Glee




In the time of chimpanzees
I was a monkey
Butane in my veins
So I'm out to cut the junkie
With the plastic eyeballs,
Spray-paint the vegetables
Dog food stalls with the beefcake pantyhose
Kill the headlights
And put it in neutral
Stock car flamin' with a loser
And the cruise control
Baby's in Reno with the vitamin D
Got a couple of couches,
Sleep on the love-seat
Someone keeps sayin'
I'm insane to complain
About a shotgun wedding
And a stain on my shirt
Don't believe everything that you breathe
You get a parking violation
And a maggot on your sleeve
So shave your face
With some mace in the dark
Savin' all your food stamps
And burnin' down the trailer park
(Yo. Cut it.)
Soy un perdedor
I'm a loser baby, so why don't you kill me?
(Double-barrel buckshot)
Soy un perdedor
I'm a loser baby, so why don't you kill me?
Forces of evil in a bozo nightmare
Banned all the music with a phony gas chamber
'Cuz one's got a weasel
And the other's got a flag
One's on the pole, shove the other in a bag
With the rerun shows
And the cocaine nose-job
The daytime crap of the folksinger slop
He hung himself with a guitar string
Slap the turkey-neck
And it's hangin' from a pigeon wing
You can't write if you can't relate
Trade the cash for the beef
For the body for the hate
And my time is a piece of wax
Fallin' on a termite
Who's chokin' on the splinters
Soy un perdedor
I'm a loser baby, so why don't you kill me?
(Get crazy with the cheeze whiz)
Soy un perdedor
I'm a loser baby, so why don't you kill me?
(Drive-by body-pierce)
(Yo, bring it on down)
Soooooooyy....
[chorus backwards]
(I'm a driver, I'm the winner;
Things are gonna change
I can feel it)
Soy un perdedor
I'm a loser baby, so why don't you kill me?
(I can't believe you)
Soy un perdedor
I'm a loser baby, so why don't you kill me?
Soy un perdedor
I'm a loser baby, so why don't you kill me?
[repeat]
(Sprechen sie Deutches, baby?)
Soy un perdedor
I'm a loser baby, so why don't you kill me?
(Know what I'm sayin'?)
*[Translation: "I'm a loser"]
Crítica perfeita ao obsessivo  culto americano pelo sucesso,a canção de Beck ganha nova e ótima roupagem em Glee.Glee,que vira e mexe é desqualificada como série brega,'gay'(oi?),sentimentalóide,etc.Glee fala dos supostos losers,ou seja,dos que são constantemente desqualificados pelos supostos bambambans.Glee vira isso tudo de cabeça para baixo,e nos diz,que literalmente,a coisa é muito mais complexa.


Enquanto isso no Brasil...




Imagens daqui e daqui

Poesia-"Traduzir-se" de Ferreira Gullar

Uma parte de mim é todo mundo
Outra parte é ninguém,fundo sem fundo
Uma parte de mim é multidão
Outra parte estranheza e solidão
Uma parte de mim pesa,pondera
Outra parte delira
Uma parte de mim almoça e janta
Outra parte se espanta
Uma parte de mim é permanente
Outra parte se sabe de repente
Uma parte de mim é só vertigem
Outra parte linguagem
Traduzir uma parte na outra parte
Que é uma questão de vida e morte
Será arte?

Filme-'Temple Grandin'-de Mick Jackson(2010)

O diagnóstico de uma criança com autismo quase sempre coloca os pais em desespero.E do desespero,perguntam-se:o que faremos agora?O estigma e a incompreensão que cercam o autismo,o modo como a sociedade encara os portadores,indo da piedade ao escárnio,pouco contribui para deixar esses pais mais tranquilos.Porém,mais e mais pais estão se juntando em associações que procuram mutuamente desfazer o pretenso estigma do autismo,querendo dar relevo ao que é realmente o autismo:uma disfunção global do desenvolvimento que 'afeta' a percepção da realidade(entre aspas porque esse 'afeta' se refere aos que não são autistas).O autista percebe e interage com a realidade,mas só que de uma forma diversa dos 'outros'.A maneira de usar o corpo de forma diferente provoca muitas vezes deboche das outras crianças e de pessoas ignorantes.
'Temple Grandin'é a cinebiografia da mulher do mesmo nome,feita para a televisão pela HBO.Temple,nascida em 1947,foi diagnosticada com autismo aos três anos.Sua mãe,inconformada,a manda estudar em escolas regulares.Ajudada pela família e por mentores,Temple(apesar de constantemente ridicularizada na escola por colegas insensíveis),forma-se em Psicologia,tendo mestrado e doutorado em Ciência Animal.Desenvolve um grande trabalho nas redes de proteção e amparo aos autistas,além de criar formas de 'humanização' das condições de abate de animais.
Seria lugar comum dizer que o filme é uma lição de vida.É uma lição de vida pela superação,por um ser humano,de obstáculos imensos,por mostrar,que temos sim,que lutar todos os dias contra o senso comum,que obstrui a sociedade,que nos impõe tantas vezes uma venda nos olhos.Temple Grandin é uma vitoriosa,não por ser uma pessoa realizada(só),mas por ter,contra todas as expectativas,realizado seu potencial como ser humano.
Fantasticamente dirigido por Mick Jackson,'Temple Grandin' levou,entre outros o Emmy de melhor filme para a televisão,e melhor atriz para Claire Danes.O trabalho de Danes é impactante,minucioso,um trabalho de grande atriz,procurando captar nos menores gestos,a Temple Gradin real.Merecidíssiomo prêmio para Danes,que prova que é sim,uma ótima atriz,madura,pronta para desafios como interpretar uma pessoa complexa como Temple Grandin.
Um grande filme,que nos faz questionar os 'comportamentos adquiridos',ou o 'que/quem é normal',passando pela pretensa idéia humana de sermos superiores aos animais por sermos mais inteligentes.

Música-Duran Duran -Come Undone




My immaculate dream, made of breath and skin.
I've been waiting for you.
Signed with a home tattoo.
Happy birthday to you, was created for you.


Can't ever keep from falling apart at the seams.
Cannot believe, you're taking my heart to pieces.


Oh, it'll take a little time, might take a little crime to come undone.
Now we'll try to stay blind to the hope and fear outside.
Hey child, stay wilder than the wind, and blow me in to cry.


Who do you need, who do you love, when you come undone?
Who do you need, who do you love, when you come undone?


Words, play me deja vu, like a radio tune I swear I've heard before.
Chill, is it something real, or the magic I'm feeding off your fingers?


Can't ever keep from falling apart at the seams.
Cannot believe, you're taking my heart to pieces.


Lost in a snow filled sky, we'll make it alright to come undone.
Now we'll try to stay blind to the hope and fear outside.
Hey child, stay wilder than the wind, and blow me in to cry.


Who do you need, who do you love, when you come undone?
Who do you need, who do you love, when you come undone?
Who do you need, who do you love, when you come undone?


Can't ever keep from falling apart.
Who do you need, who do you love, when you come undone?
Can't ever keep from falling apart.
Who do you need, who do you love?
Can't ever keep from falling apart.
Who do you love, when you come undone?
Can't ever keep from falling apart..


Meu sonho imaculado, feito de fôlego e pele
Eu estive esperando por você
Marcado com uma tatuagem caseira
Feliz aniversário para você, foi criado para você

(Não consigo evitar entrar em crise
Não consigo acreditar, que você esteja deixando meu coração em pedaços)

Oh,vai levar um tempo, talvez até um pequeno crime para desmoronar
Agora, nós tentaremos ficar cegos para a esperança e o medo lá fora
Hey criança, fique mais selvagem que o vento e arrebata-me para o choro

De quem você precisa, quem você ama, quando você desmoronar?
De quem você precisa, quem você ama, quando você desmoronar?

Palavras,brincando comigo de 'deja-vu',como uma sintonia de rádio,eu juro que já ouvi isso antes
Arrepio,isso é algo real, ou a mágica que eu estou me alimentando dos seus dedos?

(Não consigo evitar entrar em crise
Não consigo acreditar, que você esteja deixando meu coração em pedaços)

Perdidos num céu preenchido de neve nós faremos isso certo para desmoronar-mos
Agora,nós tentaremos ficar cegos para a esperança e o medo lá fora
Hey criança, fique mais selvagem que o vento e arrebata-me para o choro

De quem você precisa, quem você ama, quando você desmoronar?
De quem você precisa, quem você ama, quando você desmoronar?
De quem você precisa, quem você ama, quando você desmoronar?

Não consigo evitar entrar em crise
De quem você precisa, quem você ama,quando você desmoronar?
Não consigo evitar entrar em crise
De que você precisa, quem você ama?
Não consigo evitar entrar em crise
De quem você precisa, quem você ama, quando você desmoronar?
Não consigo evitar entrar em crise


Manifesto Pelo Casamento Igualitário-Carta aberta aos candidatos brasileiros

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To:  Candidatos das eleições 2010Carta aberta aos candidatos brasileiros – Manifesto Pró-Casamento Igualitário no Brasil

Senhoras e Senhores Candidatos,

Por meio desta carta-manifesto, nós, abaixo assinados, viemos reivindicar aos candidatos concorrentes no pleito de 2010 e perante a sociedade brasileira a aprovação urgente, no Brasil, do chamado casamento gay, melhor definido como casamento igualitário. Conclamamos que candidatos e cidadãos brasileiros aproveitem o processo eleitoral para refletir seriamente sobre o assunto.

Nós, sejamos lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros ou heterossexuais, somos apoiadores de um direito básico do qual todos os brasileiros devem ter neste país: a Igualdade Civil. Por isso, defendemos que o casamento igualitário, recentemente aprovado na Argentina, o seja também no Brasil. Não pensamos que tal medida seja radical ou subversiva, assim como não pensaram ser radicais aqueles que instituíram o divórcio ou o sufrágio secreto e universal em nosso país. Trata-se simplesmente de uma questão de igualdade civil e justiça democrática. Os conservadores devem aceitar que o Brasil é uma República Laica desde 1889, ou seja, há mais de 100 anos. Também repudiamos veementemente a proposta de se fazer um plebiscito sobre a União Civil Gay. Pensamos que a proposta, mesmo travestida de “democrática”, é cruel, humilhante e degradante com a população LGBT.

As razões para que o casamento igualitário seja aprovado no Brasil são muitas. Entretanto, o principal argumento é que somente esta reforma no código civil daria igualdade legal entre cidadãos com orientações sexuais diferentes da heteronormativa.

Esperamos, com esta carta-manifesto, fazer com que todos os candidatos do Brasil e a sociedade em geral entendam a gravidade da situação de exclusão civil, social e de direitos humanos em que se encontra grande parte da comunidade LGBT – estimada por especialistas em aproximadamente 10\% da população brasileira. Queremos chamar a atenção, especialmente, dos candidatos aos cargos de deputado estadual e federal, governadores, senadores e, principalmente, à Presidência da República, e pedir para que se manifestem claramente, sem hipocrisia, sobre o assunto.


Todas as mulheres e homens são iguais perante a lei

A Constituição Federal Brasileira, desde 1988, garante que todos os brasileiros são iguais perante a lei, portanto, têm os mesmos direitos e deveres. Em seu artigo 5º, a Carta Magna afirma: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, (...)”

Os cidadãos homo, bi e transexuais cumprem os mesmos deveres que os heterossexuais para com a República, são obrigados a votar, a servir militarmente à pátria (no caso masculino), a pagar os impostos etc. Todavia, a elas e eles ainda são negados, por parte do Estado, vários direitos básicos, como a igualdade civil e jurídica e mesmo a garantia e manutenção de sua integridade física. Direitos básicos estão comprometidos no país, como a garantia à segurança e à vida nos casos de atentados homofóbicos, a que costumeiramente estão expostos os LGBTs em seu dia-a-dia. No Brasil ainda se faz necessária a urgente aprovação do PLC-122, que criminaliza a discriminação por orientação sexual, como em todas as nações modernas do mundo. Não fazê-lo é ser conivente com os assassinatos de gays, lésbicas e transgêneros que acontecem a cada dois dias no Brasil.

Além das violações diárias de seus direitos, os cidadãos LGBTs são, ainda, discriminados pelo Estado brasileiro. Ao não equiparar os direitos civis entre heterossexuais e homossexuais, o Estado fere a isonomia republicana, deslegitimando sua própria base jurídica. Inclusive, com isso, ainda fortalece as pretensões daqueles que querem continuar a discriminar e excluir “legalmente” uma parcela da população brasileira - a LGBT.

Entre os objetivos declarados na Constituição da República Federativa do Brasil, em seu artigo 1º estão: “II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; (...)”. Percebe-se, claramente, que estes dois valores ainda são aviltados a gays, lésbicas, bissexuais e transexuais ao terem negados os direitos civis relacionados ao casamento e a constituição de família.

Sem a equiparação dos direitos civis entre homossexuais e heterossexuais, a legitimidade republicana deve contestada, afirmando a injustiça formal existente no Brasil. Para que essas diferenças sejam progressivamente resolvidas, é necessário que, ao menos legalmente, todos sejam considerados iguais, sem qualquer distinção, inclusive aquelas motivadas pela orientação sexual. O Estado não pode ser agente desta distinção, e por isso, deve urgentemente reconhecer a existência legal das famílias homoafetivas.

A aprovação do casamento igualitário seria a correção da injustiça civil relacionada aos direitos dos cidadãos LGBTs de constituírem família e possuírem os mesmos direitos civis e familiares que os heterossexuais. Somente a aprovação da união civil entre pessoas do mesmo sexo não se justifica mais na atual conjuntura política e histórica. Além de estabelecer uma evidente separação entre aqueles que deveriam ser constitucionalmente iguais, os direitos limitados por ela concedidos já foram, em parte, contemplados pelas inúmeras decisões do poder judiciário brasileiro, ou concedidas por decisões administrativas de órgãos federais (Receita Federal etc) e empresas públicas (Caixa Econômica etc) e privadas.

Ou seja, somente o casamento igualitário estabelece a isonomia civil de direitos republicanos, sem criar diferenças. Pensamos que a não-equiparação de direitos civis ou a manutenção da desigualdade legal entre todos os cidadãos é tão grave que abre precedente perigoso para garantia da manutenção e da legitimidade do regime constitucional brasileiro.


O Brasil é um Estado Laico

O Brasil também se afirma constitucionalmente como uma democracia que prima pela liberdade de pensamento. Para garanti-la, determina a separação entre Estado e Igrejas: O Art. 19 da Constituição Federal proíbe à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios "estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público", e também “criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si”.

Apesar dessa clara norma legal, muitos eleitos, principalmente deputados e senadores, e funcionários públicos não respeitam essa separação entre Estado e Igreja(s), provavelmente por não entenderem o que é um Estado Laico. O laicismo, princípio que rege a base teórica das leis brasileiras, é uma doutrina filosófica que defende e promove a separação do Estado das igrejas e comunidades religiosas, assim como a neutralidade do Estado em matéria religiosa. A palavra "laico" é um adjetivo que significa uma atitude crítica e separadora da interferência da religião organizada na vida pública das sociedades contemporâneas.

Entretanto, alguns grupos religiosos conservadores impõe seu pensamento na forma de lobbies político-religiosos, obrigando o conjunto da sociedade a aceitar seus conceitos estritamente religiosos, regulando leis e ditando padrões de comportamento beseados na religião. Um bom exemplo é como os grupos religiosos, sobretudo católicos e neopentecostais, pretendem obrigar a grupos que não confessam seus preceitos a viver de acordo com suas normas e dogmas. Neste caso, eles violam a Constituição pretendendo enfraquecer a exigência do Estado Laico.

Duas modificações importantes instituídas a partir da declaração da laicidade do Estado foram a a criação do Casamento Civil (coexistindo a partir de então com o Matrimônio religioso) e a adoção do Registro Civil de Nascimento (que substitui o Registro de Batismo).

A lei de igualdade civil da qual os brasileiros LGBTs clamam pela aprovação quer ampliar os direitos ao casamento civil. Importante reafirmar que não cabe aqui nenhuma exigência que altere o matrimônio religioso ou que pretenda obrigar as doutrinas a incluir o casamento gay. Isto porque o Estado laico funciona em duas vias: nele não cabe nenhuma interferência religiosa, mas ele também se abstém de decisões que afetem qualquer religião. Não cabe ao Estado brasileiro decidir sobre como a Igreja Católica, por exemplo, casa seus fiéis: só a Santa Sé, no Vaticano, tem esta prerrogativa. Contudo, ao Estado brasileiro cabe proteger todos os seus cidadãos de todas as formas que possam cercear seu direito a liberdade.

O casamento civil é um direito que somente a parcela heterossexual da população brasileira possui. O clamor entre os indivíduos homossexuais, bissexuais e transexuais da República é para que este direito seja ampliado a todos, sem distinções. Assim, não haverá desigualdade jurídica instituída.

Pode-se constatar que o “argumento” mais poderoso contra o casamento gay origina-se do meio religioso, e começa sempre com citações da Bíblia Sagrada. Entretanto, esse discurso não serve como argumento quando se discute políticas públicas, leis e modelos de Estado. Em um Estado laico e democrático, crenças religiosas não podem, em absolutamente nenhuma circunstância, ser incluídas entre elementos formadores do pensamento legislador ou público. Nessas condições, nenhum preceito de base religiosa tem qualquer legitimidade na configuração normativa de leis, códigos ou regulamentos estatais.


Formar família é para poucos?

Um argumento comum dos setores conservadores contrários ao casamento é o de que um casal homossexual não forma uma família. Retrocedendo historicamente, também o modelo de família que se vê hoje em dia (homem, mulher e filhos) pode ser datado como posterior a Segunda Guerra Mundial (isto é, a partir da década de 1950). E isto somente se falarmos do ocidente.

A antropologia e a sociologia comprovam que, fora do mundo ocidental, ainda hoje, o modelo de família pode ser muito distinto do que se convencionou chamar de família. Já no ocidente, mais de 38 tipos de família coexistem hoje nas sociedades urbanas. O “modelo” de família não é unívoco mesmo no mundo ocidental: famílias de mães ou pais solteiros; divorciados que casam-se novamente e reúnem seus filhos, os filhos do cônjuge e os nascidos desse casamento; famílias formadas por pessoas que, na verdade, não têm nenhum parentesco sanguíneo. O modelo de família é extremamente mais amplo do que o texto da lei brasileira permite afluir.

Outro argumento contrário ao casamento gay é o de que duas pessoas do mesmo sexo não podem gerar filhos e, portanto, não podem per si constituir família. Este argumento, se for levado a sério, excluiria também os casais heterossexuais que, por um motivo ou outro, também não geram filhos. Casais estéreis ou casais idosos não deveriam mais constituir uma unidade familiar perante a lei. Isto absolutamente não faz sentido. Até porque a lei brasileira prevê o caso de adoção. Crianças são abandonadas por inúmeros motivos em abrigos e protegidas pelo Estado, e podem ser adotadas por estes casais heterossexuais que não podem gerar filhos. Porque não pelos casais homossexuais?

Outra afirmação usada contra a família homoafetiva é dar uma natureza “transviada” à relação de duas pessoas do mesmo sexo, crendo que os indivíduos não forneceriam bons modelos para a formação de uma criança. Argumenta-se que esta “má influência” seria prejudicial ao desenvolvimento destas jovens mentes.

Há os que sentenciam que o filho de um homossexual teria o mesmo comportamento afetivo sexual, ignorando aqueles que são frutos de lares heterossexuais. Com esse enunciado, nega-se outro direito aos gays: a adoção, em conjunto, de uma criança.

Os candidatos a cargos públicos devem a todos os cidadãos, no mínimo, um posicionamento claro sobre estas questões. Isso é fundamental para que a democracia possa tornar-se mais do que uma bela palavra.

Brasil, agosto de 2010
Sincerely,
The Undersigned

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Poesia-"Despedida" de Cecília Meireles(1901-1964)

Vais ficando longe de mim
como o sono,nas alvoradas;
mas há estrelas sobressaltadas
resplandecendo além do fim.

Bebo essas luzes com tristeza,
porque sinto bem que elas são
o último vinho e o último pão
de uma definitiva mesa.

E olho para a fuga do mar,
e para a ascensão das montanhas,
e vejo como te acompanhas
-para me desacompanhar.

As luzes do amanhecimento
acharão toda a terra igual.
-tudo foi sobrenatural,
sem peso de contentamento,

sem noções do mal nem do bem
-jogo de pura geometria,
que eu pensei que se jogaria,
mas não se joga com ninguém.

(Para H.)