Vida de escritor-Virginia Woolf

Virginia Woolf nasceu em Londres em 1882,filha do eminente homem de letras Sir Leslie Stephen e de sua segunda esposa,Julia Jackson,uma das mulheres mais bonitas da alta sociedade vitoriana.A família de Virginia tinha várias conexões com o mundo literário inglês,que iam de Thackeray(pai da primeira esposa de Leslie Stephen),passando por Henry James,George Eliot,até os amigos intimos da casa George Meredith e Edward Burne-Jones.Crescendo em um ambiente em que a literatura e a arte eram o dia a dia,Virginia recebeu uma educação esmerada,aprendendo francês,latim e grego clássico,enquanto devorava a imensa biblioteca do pai,lendo de tudo,isso numa época em que as mulheres não podiam ler'certos livros'.Seus três irmãos-Vanessa,Thoby e Adrian tiveram um papel importante em sua vida,especialmente os dois primeiros.Vanessa,que se tornou pintora,foi sempre sua melhor amiga,apesar da diferença de temperamentos.Thoby morreu aos 26 anos,após ter contraído febre tifóide na Grécia,e ela nunca foi tão íntima do irmão mais novo,o psicanalista Adrian Stephen.
Desde muito cedo,Virginia se decidiu pelas letras e escrevia compulsivamente ,aplicando à escrita tudo que lia,misturando estilos e técnicas,numa busca pela literatura como perfeição.A partir de 1905 começou a publicar resenhas no'Times Literary Suplement',enquanto prosseguia em sua busca de'uma outra escrita',que não fosse o realismo do século XIX.
Um dos aspectos mais importantes na vida de Virginia Woolf é a presença da doença mental em sua vida.Desde a morte da mãe,ela se viu presa a ocasionais crises de maior ou menor intensidade,do que é hoje geralmente chamado de TOC(transtorno obsessivo-compulsivo),periodos esses em que ficava inerte,na cama por semanas ou meses,apresentando um quadro de irritabilidade e delírio.Seria ingênuo afirmar que sua percepção de mundo não tivesse algum dado vindo da doença,ao mesmo tempo em que seria absurdo dizer que isso deteminou sua literatura.
O chamado 'Grupo de Bloomsbury'(do bairro de Londres onde Virginia e os irmãos foram morar após a morte do pai),foi sim,importante na vida da escritora.Seus melhores amigos da vida inteira vieram dali:o biógrafo Lytton Strachey,o crítico Clive Bell(que se casou com Vanessa Stephen),o pintor Duncan Grant(que viveu com Vanessa por 48 anos) e o grande economista John Maynard Keynes,entre outros.Também foi através desse grupo que conheceu Leonard Woolf,com quem casou-se em 1912.Mas o grupo de Bloomsbury hoje talvez seja mais famoso por sua vida sexual,digamos,complexa.Quase todos eram mais ou menos bisexuais,tendo casos entre si e com outras pessoas(isso na primeira metade do século XX),o que causava espanto e desprezo na sociedade puritana da época,fatos esses ao qual não davam a menor bola.E assim,em meio a um grupo de amigos sofisticados e engajados politicamente,Virginia,a despeito de suas crises esporádicas,pode escrever uma das obras mais complexas,fascinantes e essenciais do século XX.
Virginia quis ir além ,bem além do realismo então vigente na literatura européia.Como ela mesma disse,queria falar não sobre a parede,mas sobre o cimento,o arcabouço da parede.Na literatura de Woolf,o que interessa é o tempo que passa,o universo interior das personagens,a percepção que essas mesmas personagens têm do mundo,não uma percepção objetiva,mas subjetiva.É o universo da mente,as sensações do coração e do espírito que importam.Uma dos escritores pioneiros no uso do'fluxo de consciência'(o pensamento da personagem inserido na narrativa como parte da ação e do enredo),Virginia foi com Joyce,Proust e Hermann Broch,uma das pessoas que transformou o romance radicalmente,fazendo dele uma leitura do ser humano não somente como um ser social,mas um ser psicológico,hiper-complexo.
'A Viagem' e 'Noite e Dia' são aparentemente 'realistas',mas já contendo a semente da revolução woolfiana do enredo(e sua quase supressão).
Cito aqui minhas obras preferidas de Virginia,em ordem cronológica:
'O quarto de Jacob'(1922)-A primeira obra em que a escritora começa a aplicar seu método experimental,formando um romance quase impressionista.A vida de Jacob Flanders nos vem em quadros,nos quais a impressão psicológica é o que importa.O trabalho das metáforas é impressionante,com achados estilísticos de primeira grandeza.
'Mrs Dalloway'(1925)-O grande romance em que Virginia (o narrador)literalmente se insere na mente da personagem principal.Tudo se passa em 24 horas-o tempo em que Clarissa Dalloway prepara uma festa em sua casa.Magnífico romance,que ombreia com os maiores de seu século.
'Rumo ao Farol'(1927)-Homenagem emocionada de Virginia a sua mãe,num romance poético de intensidade rara,trabalhando o passar do tempo e a insatisfação dos seres humanos.
'Orlando'(1928)-Aqui Virginia faz sua homenagem à própria literatura e à leitura como fonte essencial do prazer de viver.A vida de Orlando,um ser humano imortal,ora homem,ora mulher,através dos séculos é também uma carta a Vita Sackville-West,aristocrata e escritora com quem Teve um caso.
'As Ondas'-Tour de force estilístico,em que 6 personagens,6 amigos de infância,discorrem sobre a solidão,a passagem implacável do tempo e a morte.Obra difícil,mas de grande beleza.
Essa é uma pequena lista,pois Virginia escreveu dezenas de obras entre romances e ensaios,isso para não falar de suas cartas e dos diários.

Escritora essencial para qualquer pessoa que queira ter uma visão da mais alta literatura,do que de melhor ela pode oferecer.Um verdadeiro monumento que o tempo só consolida a eminência ,a grandeza.

Esse texto faz parte da blogagem coletiva-Vida de escritor,que a sempre incansável amiga Vanessa Anacleto,do Fio de Ariadne idealizou e que,com certeza,vai ser outro grande sucesso.
imagem daqui

14 comentários:

Letícia Alves

12 de outubro de 2009 às 12:58
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disse...

Adorei conhecer mais da Virginia,claro que já ouvi falar e muito dela e de sua vasta obra, mas ainda não tive oportunidade de ler.
Seu texto nos convida a conhecer a obra e sua escritora.
Gostei muito! Parabéns pela participação.
Beijos Tempestuosos!

Vanessa Anacleto

12 de outubro de 2009 às 12:59
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disse...

Oi, James, obrigada pela sua participação com este belo texto . Confesso que ler Virginia Woolf para mim é uma tarefa e tanto. Mas gosto da sensação que o seu escrito deixa. É assim que eu avalio minhas leituras, coisa meio maluca , né?

Obrigada mais uma vez. Abração.

Luciano A. Santos

12 de outubro de 2009 às 14:06
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disse...

James,

Li muito a respeito de Virginia Woolf, mas li pouco. Há dois ou três anos estava lendo Flush quando cai doente. Acabei por abandonar a leitura, e até hoje não a retomei. Sei que devo, mas meio que ficou uma cisma - tola, e que deve ser sanada.

Excelente post. Abraços.

Janaina Amado

12 de outubro de 2009 às 14:39
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disse...

Olá, vim ler o seu post, pois também participo da blogagem. Gosto muito de Virgínia Woolf, mas sabia pouco sobre sua vida. Obrigada pelas informações e belo post!

Cristina e Márcia

12 de outubro de 2009 às 17:34
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disse...

Olá, James
Não li Virgínia Woolf, mas já ouvi falar muito bem de suas obras, o que vc reiterou com essa postagem minuciosa.
E, como uma insone assumida e bem resolvida, não posso deixar de citar uma frase dela que adoro:
"Sono, essa deplorável redução do prazer da vida."

Beijos, e parabéns pela sua postagem!
Marcia

Mari Amorim

12 de outubro de 2009 às 18:26
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disse...

Olá,James
que delicia de texto,adorei,sua participação.
Boa semana!
Boas energias
Mari

MARCOS DHOTTA

12 de outubro de 2009 às 18:57
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disse...

... E Quem tem medo de Virgínia Woolf? Nossa! Que mulher fantástica... Vida e Obra ousadas para uma época, sem falar na sua bipolaridade que tanto acrescentou ao bojo de suas narrativas... Parabéns pelo resgate. Abraços

Sandra

12 de outubro de 2009 às 18:58
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disse...

Ola!
Vim lhe dizer que a postagem já está lá.
Gostei do seu texto estou participando da blogagem coletiva com o meu blog: Uma Interação de amigos, agradece a sua visita.
http://sandrarandrade7.blogspot.com

Este é um momento em que se aprende muito, um com o outro.
Com carinho
Sandra

Tucha

12 de outubro de 2009 às 21:31
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disse...

Apesar da vida confusa, Virginia consegui construir uma obra densa, rica e interessantissima de ler. Foi bom saber mais sobre a autora.

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disse...

parabéns querido James por esta homenagem à grande Virgínia ... uma verdadeira Diva da literatura ...

boa semana querido

;-)

Valdeir Almeida

14 de outubro de 2009 às 17:24
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disse...

James,

Virginia Woolf e Clarice Lispector são minhas escritoras femininas favoritas. As duas são intimistas.

Abraços.

Valdeir Almeida

14 de outubro de 2009 às 17:25
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disse...

James,

Amanhã é o grande dia da Coletiva “Professores do Brasil”.

Você estará contribuindo para a valorização dos professores.

Até amanhã!

Dulce Miller

15 de outubro de 2009 às 00:49
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disse...

Falta grave, nunca li nada de Virgínia, mas vi o filme "As horas" e amei!!! Mas preciso corrigir meu erro e ler, porque os livros sempre são melhores que as adaptações em filmes, né?

Ótimo post, adorei!

Beijão querido!!!

Carla Martins

15 de outubro de 2009 às 14:41
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disse...

Flooor, me ajuda com um clickezinho? Preciso de um mutirão de todas as minhas amigas vistuais! Blogueiras, unidas, jamais serão vencidas! Vê meu post de hj e me ajuda...hein? hein? hein?