Nenhuma descoberta da genética reduz ou supera o que Proust sabia do fascínio ou do fardo da linguagem;cada vez que Otelo nos recorda a ferrugem do orvalho na lâmina brilhante,sentimos mais da transitória realidade sensorial na qual nossa vida deve transcorrer do que é tarefa ou ambição da física transmitir.Nenhuma sociometria da motivação ou da táticas políticas se compara a Stendhal[...]
A luz que temos sobre nossa condição essencial e íntima ainda é concentrada pelo poeta.[...]
A linguagem de Milton ou Shakespeare pertence a uma época da história na qual as palavras
detinham o controle natural da experiência de vida.O escritor de hoje tende a usar muito menos
palavras,e muito mais simples,tanto porque a cultura de massas diluiu o conceito de instrução
como porque diminuiu extraordinariamente o conjunto de realidades das quais as palavras podem dar conta e modo necessário e suficiente.[...]
O que mais -além de meias verdades,grosseiras simplificações ou trivialidades-pode,de fato ser comunicado àquela massa semiletrada que a democracia do consumo trouxe para o mercado?[...]
Não será importante hoje,para a sobrevivência do sentimento,que alguém conheça outra língua viva como um dia foi importante conhecer de perto os clássicos ou as Escrituras?[...]
Inexistem palavras para a experiência mais profunda.Quanto mais tento me explicar,menos me entendo.Evidentemente,nem tudo é indizível em palavras,apenas a verdade viva.[...]
(do livro'Linguagem e Silêncio',de George Steiner,Companhia da Letras,tradução de Gilda Stuart e Felipe Rajabally)
Marcadores: crítica literária, George Steiner, linguagem
Assinar:
Postagens (Atom)