Há muitos grandes filmes em nossas vidas,mas às vezes,assistimos aquele filme que de muitas maneiras mexe com nossa sensibilidade,que de alguma forma muda nossa percepção de algumas coisas,que desperta em nós uma reflexão,que literalmente,toca nosso coração.
Escolhi como o filme da minha vida,'As Horas',do diretor inglês Stephen Daldry.As razões,são todas essas de que já falei,e também por esse filme tratar de questões como a maneira que vivemos nossas vidas,a presença onipresente da morte no mundo,como conciliar nossos desejos com a realidade que nos circunda,enfim,como nos situarmos num mundo,numa realidade que às vezes parece fugir de nós.
'As horas' é baseado no grande romance do americano Michael Cunningham,que venceu com ele o prestigiado Prêmio Pulitzer de melhor romance.
A história trata de um dia na vida de três mulheres aparentemente muito diferentes entre si,mas vivendo dilemas e angústias muito parecidas.Apesar de separadas pelo tempo e pelo espaço,todas vivem um momento de angústia,de decisões a serem tomadas,que abrangem aspectos essenciais de suas vidas.
Laura Brown(julianne Moore) é uma dona de casa intelectualizada e sonhadora,totalmente inadaptada à vida que leva com o marido e o filho num próspero subúrbio da Califórnia de 1951,sufocando em meio ao convencionalismo de seu meio.Clarissa Vaughan(Meryl Streep) é uma editora de meia idade na Nova York do final do século passado,que tem que lidar com a iminente morte de seu ex-namorado soropositivo,com a rejeição da filha adolescente e com sua sensação de fracasso,que verdadeira ou não,a obseca.E por fim há a grande escritora inglesa Virginia Woolf(Nicole Kidman),que vivendo no subúrbio londrino de Richmond em 1923,tenta viver mais um dia com seu medo da loucura que a atormenta desde a adolescência,com suas crises intermitentes,com sua vontade de voltar para Londres,para seus amigos;enquanto escreve sua obra prima,o romance 'Mrs Dalloway'.
E é justamente 'Mrs Dalloway' que faz a ponte entre estas três mulheres que buscam um sentido da vida que lhes escapa.
Estão presentes no filme todos os dilemas existenciais que nos fazem refletir,tentar achar alguma resposta para o aparente caos do mundo:a vida,que de certa forma é só o momento presente(o passar das horas),a poderosa presença da morte(que nos causa medo e horror,mas que também nos define como seres humanos),a verdade e as contradições do amor,da amizade,dos laços de carinho que criamos com quem amamos,a maternidade,o horror e a beleza do mundo,a loucura,os pequenos detalhes que fazem,que compõem nossas vidas,e acima de tudo,a dificuldade metafísica de explicar o rolar do tempo,o passar contínuo das horas(as horas são tudo que realmente vivemos).
O filme tem uma direção de atores poderosa,com destaque para o trio de atrizes principais.A sempre impressionante Meryl Streep(para mim a maior atriz viva),faz uma Clarissa perdida,que acha que tudo que de bom que a vida lhe deu está desaparecendo sem que ela possa fazer nada para impedir.A interpretação de Meryl é sutil,marcando os pequenos detalhes da vida com a precisão de falas e gestos.Julianne Moore está magnífica,toda tensão e auto-piedade,refletidas no rosto e no corpo.E Nicole Kidman como Virginia Woolf,nos passa toda a gama de sentimentos ambíguos da escritora,sem cair por um só momento na caricatura.Nicole ganhou muito merecidamente o Oscar de melhor atriz por esse filme.
Enfim um grande filme sobre a vida e seus dilemas ,que também são os de todos nós.
Pela impressão duradoura que me causou,pela reflexão que me despertou e também pelo grande prazer de assisti-lo,é o filme da minha vida.