Depois do fragor da tempestade,a água subiu.Agarrada a Peri,no tronco da palmeira à deriva,ela viu o céu transmutar-se de azul muito escuro em um negro de fumaça.Relâmpagos amarelo-alaranjados cruzavam o poente em toda as direcões.O barulho dos trovões,ela pensou,nunca acabaria.Peri a segurava com força,seus braços enormes a amparando.Esgotada,abandonou-se,não mais ao pavor e ao medo da morte,mas à estranha situação que vivia.Deitada sobre o tronco da palmeira,tinha a sensação que a qualquer momento iria ao fundo,e tudo finalmente terminaria.O mundo agora era só água,e aquele céu escuro e iluminado a cada segundo.E todos de sua casa certamente estavam mortos:seu pai,sua mãe,Álvaro,Isabel.Massacrados a flechas;seus pobres corpos desfigurados imóveis sobre a terra molhada,seus olhos esbugalhados,os cabelos sujos de sangue e lama.Sentiu sua garganta travar e seus olhos encheram-se de lágrimas.As lágrimas que ninguém nunca mais veria.Via flores que boiavam na água,maravilhosamente azuis e vermelhas,salpicadas de gotículas escuras,levadas para longe,longe.Não me leve,não me leve,murmurou baixinho.Peri não parecia esgotado.Como um ser divino,um homem de um outro lugar que não aquele a olhava com o mesmo olhar de devoção e doçura.
Tão fraca estava,tão molhada,tão esgotada,que já não não lhe doía mais o corpo.Seu vestido encharcado não a incomodava mais.O medo a deixava,finalmente.A cada momento pensava ser o fim.Até quando ele vai suportar?Quando por fim,mesmo em um esforço magistral,seus braços não o obedecessem mais?
Marés se erguiam pela terra inundada.Soltou um leve grito.era assim então.
Marcadores: ceci e Peri na tempestade, conto
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