Poema de Natal-(Vinícius de Moraes-1913-1980)

Para isso fomos feitos:
Para lembra e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos-
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos-
Por isso precisamos velar
Falar baixo,pisar leve,ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso talvez de amor
Uma prece por quem se vai-
Mas que essa hora não se esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte-
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem;da morte,apenas
Mascemos,imensamente.