Há um mito persistente que diz que o mundo da moda é fútil e redundante.Mas quando colocamos a moda como arte,e não como matéria prima do mundinho idealizado das celebridades e equivalentes,percebemos claramente que antes de ser uma indústria,ela depende essencialmente do talento e da imaginação.Antes da roupa ser um bem de consumo,a roupa também é uma colagem de idéias que pairam em um determinado momento em uma cultura.Transcendendo as tão faladas 'tendências',a moda é hoje,talvez,algo eminentemente 'pós-moderno'.E é pós-moderna onde a chamada 'arte séria'(a literatura,a pintura,as artes plásticas em geral)apenas tateia,muitas vezes.Se antes de ser indústria a moda é algo que depende de um processo criativo,ela é pós-moderna ao fazer desse mesmo processo uma imensa colagem que poderiamos chamar de 'História da Moda'.Ao criar e reciclar inúmeros e polimorfos períodos da história cultural, a moda como arte realiza a tarefa realmente hercúlea de superar a passagem do tempo.
Por mais que esse conceito seja considerado um tanto ingênuo,ele é tão real que a moda vista como processo industrial somente.Ambas são as pontas desse mundo que reflete não só a cultura pós-moderna mas a cultura da humanidade em si.Quando revemos um desfile de Saint-Laurent,de Balenciaga,de Alexander McQueen ou de John Galliano,é possível imediatamente ,ver esse fascinante processo em ação:a reciclagem ,a recriação de fatores culturais que vêm e vão.É isso:a moda é essencialmente pós-moderna porque sua narrativa fragmentada não evoca só o hoje,ela evoca também 'mundos perdidos'.
Uma das mais talentosas e polêmicas figuras do mundo da moda hoje,é a inglesa Anna Wintour(1949).A poderosa editora da Vogue americana(a necessária bíblia da moda),é conhecida por seu perfeccionismo,seu humor oscilante,seu imenso conhecimento da História da Moda e sua excelência como editora.Satirizada pelos tablóides ingleses e americanos,assim como no grande sucesso "O Diabo veste Prada"(onde é mostrada como uma carrasca amarga-Meryl Streep brilha como sempre),Wintour segue soberana,colocando a moda em primeiro lugar,e sempre em altos píncaros.
"A Edição de Setembro"(The September Issue) é um documentário que mostra o processo de elaboração da edição especial da Vogue americana de Setembro de 2007.A revista,que saiu com 800 páginas e pesando 2,5 quilos,foi um 'tour de force' por parte de Wintour e sua equipe.Todos os detalhes de uma produção que é feita de minúcias,de meticuloso trabalho em grupo são mostrados:as reuniões muitas vezes estressantes,a preocupação constante com os resultados e manutenção de um altíssimo grau de exigência,as viagens,os ensaios fotográficos,a análise atenta de foto por foto,os conflitos estão lá-os conflitos inevitáveis e porque não necessários quando um grupo de pessoas talentosas trabalha junto por um mesmo objetivo de alto nível.
Aos que acham o mundo da moda desconectado de um suposto mundo real-nada mais falso.É feito de muito trabalho,muita pesquisa.A destacar a relação nem sempre harmônica entre Anna Wintour e a brilhante e maravilhosa diretora de criação Grace Coddington,uma ruiva flamejante que é ainda mais auto-exigente que a própria Wintour.
Um documentário que é uma excelente oportunidade de conhecer esse universo,que bem ou mal,é um referente da cultura planetária.
Assinar:
Postagens (Atom)