"No século XVIII viveu na França um homem que pertenceu à galeria das mais geniais e detestáveis figuras daquele século nada pobre em figuras geniais e detestáveis.A sua história é contada aqui.Ele se chamava Jean-Baptiste Grenouille e se,ao contrário do nome de outros geniais monstros como,digamos,Sade,Saint-Just,Fouché,Bonaparte etc.;o seu nome caiu hoje no esquecimento,isto certamente não ocorreu porque Grenouille tenha ficado atrás desses homens das trevas mais famosos em termos de arrogância,desprezo à raça humana,imoralidade,ou seja,em impiedade,mas porque o seu gênio e a sua única ambição se concentravam numa área que não deixa rastros na história:o fugaz reino dos perfumes."
Assim começa "O Perfume-História de um assassino" do alemão Patrick Süskind(1949),publicado em 1985.A concepção do livro é literalmente fantástica-a história de um homem capaz de guardar em sua memória olfativa todo e qualquer cheiro que tivesse aspirado uma vez que fosse.Como diz Süskind no livro,os habitantes do ocidente hoje,dificilmemte poderiam entender a extensão do mau cheiro reinante em uma época como o século XVIII.A assepsia de qualquer espécie era praticamente desconhecida,e o mau cheiro reinava absoluto.Nesse reino desagradável da sujeira e da eterna fedentina,Grenouille tenta chegar á fragrância ideal,que o tornaria irresistível,amado até à loucura.Porque nascido em um mercado de peixes próximo ao nauseabundo Cemetiére des Inocents em Paris,filho de uma mãe totalmente indiferente á sua sorte e que certamente,o o teria deixado morrer ali,em meio às carcaças dos peixes retalhados,Grenouille muito cedo percebeu que ninguém o amaria por si só;a ele,feio,corcunda,apagado.Só o perfume supremo o salvaria,o conduziria ao caminho doce do amor,da adoração.
Asssitimos então às peripécias de Grenouille,de seu nascimento espúrio,passando por seus empregos (bem no espírito da época-em que era tratado como um escravo),até sua descoberta do perfume perfeito e suas nefastas consequências.
Sublime parábola sobre a busca desenfreada de uma felicidade que muitos pensamos ser e estar exterior a nós,"O Perfume"nos revela como a busca da perfeição pode encobrir meios e fins muito mais imorais(e mais ainda,amorais)que pensamos ou queremos.Alegoria política do mau cheiro eterno dessa mesma política,"O Perfume"não por acaso,se passa na época em que Voltaire e Rousseau elaboraram sua filosofia da liberdade,do questionamento da opressão política.O contraste é óbvio entre sujo-limpo,assim como entre loucura-normatização.Romance psicológico,obra erudita(à moda de Umberto Eco),tratado sobre a crueldade ou a intolerância,esse é um livro de reais e múltiplas leituras,que nos causa,porque não um "estranho'prazer em ler.Grande obra.
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