Para ler-"Rumo ao Farol"de Virginia Woolf(post número 300)

Virginia Woolf(1882-1941),escreveu 9 romances,desde o mais convencional "A Viagem",indo até o último,publicado postumamente,"Entre os Atos",quase um poema em prosa.Entre esses livros,destaco quatro obras primas indiscutíveis-"Mrs Dalloway"(1925),"Orlando"(1928),"As Ondas"(1931) e o sublime "Rumo ao Farol'(To the Lighthouse),publicado em 1927.
Dividido em três partes-"A janela","O Tempo passa"e "O Farol",o romance conta a saga da familia Ramsey.Mas quando se diz,conta,não se espere nenhum tipo de narrativa convencional,realista.Aqui,mais uma vez,Virginia trabalha o passar do tempo,o murmúrio do inconsciente,as dores do coração e da alma,a precariedade da vida-que se resume talvez,em um eterno presente acompanhado de um futuro incerto.
Fortemente calcados na própria família de Virginia,os Ramsey,o Senhor e a Senhora Ramsey e seus nove filhos,passam um verão no litoral norte da Inglaterra,em uma época indeterminada,entre o final do século XIX e a Primeira Guerra Mundial.A Sra Ramsey,uma mulher muito bonita,inteligente e sensível,sente-se sufocada com o marido mais velho e casmurro e os nove filhos,identificando-se com o mais jovem,James.A escritora faz uma homenagem emocionada à sua mãe,Julia Jackson(1846-1895),que morreu ainda jovem quando Virginia tinha 13 anos.Nessa parte,a ação se concentra em dois dias.
Obra prima da sensibilidade literária,e um milagre de estilo e técnica,é um dos livros mais profundos do século XX,afirmação essa que passa longe do lugar comum.A vida interior das personagens é analisada em detalhes,e parafraseando um crítico,não acontece nada no romance que não passe primeiro pela mente dessas mesmas personagens.Alguns trechos dão uma idéia desse livro essencial(tradução de Luiza Lobo)
-"-como o corpo de um jovem encerrado em turfa por um século,a carne vermelha dos lábios-sua amizade,em toda sua agudeza e realidade,conservada do outro lado da baía,por entre as dunas."

-"Nunca alguém pareceu tão triste.Amarga e escura,a meio caminho nas trevas,sob o feixe de luz que fugia do sol para encerrar-se nas profundezas,talvez uma lágrima se tenha formado;e uma lágrima caiu;as águas agitaram-se de um lado para o outro e receberam-na,depois acalmaram-se.Nunca alguém pareceu tão triste."(...)Sua simplicidade penetrava no que as pessoas hábeis falsificavam."

"-,mergulhou no ar noturno que,já menos espesso,privava as folhas e as sebes de sua forma,mas,como que em troca,restituía às rosas e aos cravos um brilho que não haviam tido durante o dia."

"Imediatamente a Sra Ramsey pareceu dobrar-se em copas,como se uma pétala se fechasse sobre outra e todo o conjunto tombasse exaurido sobre si mesmo,tanto que ela  mal tinha força para mexer o dedo,num delicioso abandono ao cansaço.por sobre a página da história fantástica de Grimm,enquanto palpitava através dela-como a vibração de uma  mola retesada ao máximo e que agora cessasse suavemente de pulsar -o êxtase da criação,vioriosa."
Uma das obras primas literárias do século XX,"Rumo ao Farol" é uma dessas experiências de mergulho muma experiência única de sensibilidade e de verdade.

Imagem daqui

"Rumo ao Farol"-nas melhores livrarias e sebos-existem várias edições e a tradução de Luiza Lobo é excelente.