Provavelmente,todos nós temos a ilusão que vivemos ou estamos em vias de viver em uma 'era de ouro',em que viveremos mais,melhor.Uma era em que os ganhos da tecnologia nos parecem quase inacreditáveis.Em que a liberdade de expressão(pelo menos no ocidente),é uma realidade palpável.Um tempo em que nunca tantas pessoas viveram tanto e melhor.Essa ilusão de um mundo ordenado,tem se tornado recorrente,como se esse fosse mesmo,o melhor dos mundos possíveis.Mas nada mais ilusório.Talvez,esse mundo de hoje,com todos os seus horrores da guerra tecnológica e do controle do bio-poder,tenha pouco de ordenado.O capital lança -se de formas sutis e o consumismo mantém a muitos de nós anestesiados.Mas a aparência do mundo melhor tem suas brechas,nas quais podemos enxergar a paisagem.E embora ela não seja tão aprazível como gostaríamos,é possível tentar enxergar o real.O real que existe por trás do que é alienado pela mídia e pelo capital.
Ingmar Bergman foi um desses grandes cineastas que tentaram ler nas entrelinhas do que nos é dado pelo mundo,e de,desesperadamente,procurar respostas ao enigma humano.Filho de um pastor luterano,Bergman teve uma educação rígida,pautada por um certo imaginário cristão da culpa e do pecado.Mas já na adolescência,descobre o teatro e literalmente joga-se na profissão.
O Sétimo Selo(Det Sjunde Inseglet em sueco),foi a primeira das obras primas de Ingmar Bergman.
No século XIII,o cavaleiro Antonius Block(Max von Sydow) retorna da cruzada com seu escudeiro Jöns(Gunnar Bjornstrand) para sua Suécia natal,em plena época da epidemia conhecida como Peste Negra.Mas,a morte também chega para leva-lo.Block a conclama para um jogo de xadrez,e a morte concorda em mante-lo vivo,enquanto ela não tiver vencido.Embora saiba da temeridade de querer vencer a morte,Antonius Block quer ganhar tempo.Esse é o pretexto para Bergman mostrar todo um mundo em caos,do horror da peste negra,até a superstição mais crassa(baseada na religião onipresente e quase onipotente),da caça às 'bruxas',tão comum então.O medo da morte,da aniquilação no nada,o poder da natureza frente à impotência dos seres humanos,a superstição,a ignorância,o desrespeito pelo outro,o controle social,a falsa aparência das coisas;todos esses são temas que o diretor trabalha.A estupenda direção de atores,a deslumbrante fotografia em preto e branco sépia,o roteiro brilhante,são razões para assistir a esse filme,que é uma das obras primas do século XX.
Bergman nos mostra como é falsa a idéia de um mundo ordenado,como nos iludimos ao pensar que controlamos o que quer que seja.E nos mostra que o real pode ser algo muito diverso do que aparenta.