Visões de Virginia Woolf(1882-1941)




Marcelo Gomes dança "O Lago do Cisne"-ato 2



Marcelo Gomes,de 30 anos,nascido e criado em Manaus,é hoje o primeiro bailarino do prestigiadíssimo American Ballet Theater,em Nova York.Marcelo é o exemplo vivo de que a disciplina,o estudo ,a dedicação abrem portas sim.Porque não é todos os dias que garotos brasileiros se tornam primeiros bailarinos de uma das maiores companhias de dança do mundo.Aos 30 anos,ele já é reconhecido como um dos melhores do planeta,e nesse vídeo podemos ver porque.
Parabéns a Marcelo,que traz orgulho a nosso país.

Poema Visual (de Constança Lucas)´-Preconceito(altamente mortal)





Imagem daqui

Seria cômico se não fosse trágico.





Imagens daqui e daqui

Dia dos Professores-Blogagem Coletiva

O amigo Valdeir do blog Ponderantes,propôs essa blogagem coletiva para falarmos sobre os professores.
Ser professor no Brasil,e eu digo isso de cadeira,pois sou professor,tenho se tornado mais e mais uma tarefa hercúlea,uma luta contra os salários baixos e achatados,uma batalha contra o estresse constante,a apatia intelectual de grande parte dos alunos,contra direções escolares muitas vezes despreparadas ,ou que pura e simplesmente visam o lucro imediato,ou os resultados a qualquer curso.E quando digo isso,não penso e falo somente contra os heróicos professores do ensino de primeiro e segundo graus,mas também dos professores universitários,que algumas pessoas pensam ainda ter um certo status.Nada mais incorreto.
Enquanto a sociedade e os governos não tomarem nenhuma iniciativa real de mudança de paradigma em relação à educação,os professores brasileiros,os alunos,a sociedade,continuarão reféns de um sistema em que muitos tentam ensinar de maneira adequada,e muitos tentam aprender de alguma maneira.
Longe,muito longe dos colégios das zonas-sul da vida,se erguem as escolas de periferia-feias,estragadas,sem uma biblioteca que possa ser chamada de biblioteca,sem um laboratório de ciências digno desse nome,sem atividades extra-curriculares que insiram os estudantes numa parceria escola-comunidade,sem atividades d lazer,sem aulas de educação física em que os professores possam interessar os alunos em algum esporte(que não seja o futebol),e quem sabe criar campeões.Enfim ,a escola pública brasileira precisa criar cidadania plena,que não fique na eterna retórica vazia,de sentido e de resultados;precisa criar condições para que os médicos,os cientistas,os engenheiros,os futuros professores que tanto precisamos,realmente saiam dali.
A retórica é sempre árida,sem significado, quando ela não passa a fazer parte da realidade.Já vivemos séculos de discursos vazios,de politiqueiros,que querem manter o povo na ignorância,e no servilismo,pois isso lhes serve muito bem para melhor dominar e corromper.Precisamos discutir de verdade,que tipo de ensino queremos para nossas crianças-um ensino comprometido coma sociedade como um todo,interdisciplinar,com teoria e prática,ou um ensino eternamente engessado,que cria gerações de analfabetos funcionais e sociais?
Os professores brasileiros não têm a missão de ensinar boas maneiras,não têm a missão de serem arautos de políticas educacionais equivocadas,de grupos X ou Y.Os professores brasileiros têm a missão de ensinar,de ajudar os outros a conhecerem a sociedade e o mundo em que vivem,de dar-lhes senso crítico,de apontar-lhes diferentes caminhos para serem cidadãos responsáveis,comprometidos com a sociedade em que vivem.

Parabéns a todos os professores do Brasil.

Vida de escritor-Virginia Woolf

Virginia Woolf nasceu em Londres em 1882,filha do eminente homem de letras Sir Leslie Stephen e de sua segunda esposa,Julia Jackson,uma das mulheres mais bonitas da alta sociedade vitoriana.A família de Virginia tinha várias conexões com o mundo literário inglês,que iam de Thackeray(pai da primeira esposa de Leslie Stephen),passando por Henry James,George Eliot,até os amigos intimos da casa George Meredith e Edward Burne-Jones.Crescendo em um ambiente em que a literatura e a arte eram o dia a dia,Virginia recebeu uma educação esmerada,aprendendo francês,latim e grego clássico,enquanto devorava a imensa biblioteca do pai,lendo de tudo,isso numa época em que as mulheres não podiam ler'certos livros'.Seus três irmãos-Vanessa,Thoby e Adrian tiveram um papel importante em sua vida,especialmente os dois primeiros.Vanessa,que se tornou pintora,foi sempre sua melhor amiga,apesar da diferença de temperamentos.Thoby morreu aos 26 anos,após ter contraído febre tifóide na Grécia,e ela nunca foi tão íntima do irmão mais novo,o psicanalista Adrian Stephen.
Desde muito cedo,Virginia se decidiu pelas letras e escrevia compulsivamente ,aplicando à escrita tudo que lia,misturando estilos e técnicas,numa busca pela literatura como perfeição.A partir de 1905 começou a publicar resenhas no'Times Literary Suplement',enquanto prosseguia em sua busca de'uma outra escrita',que não fosse o realismo do século XIX.
Um dos aspectos mais importantes na vida de Virginia Woolf é a presença da doença mental em sua vida.Desde a morte da mãe,ela se viu presa a ocasionais crises de maior ou menor intensidade,do que é hoje geralmente chamado de TOC(transtorno obsessivo-compulsivo),periodos esses em que ficava inerte,na cama por semanas ou meses,apresentando um quadro de irritabilidade e delírio.Seria ingênuo afirmar que sua percepção de mundo não tivesse algum dado vindo da doença,ao mesmo tempo em que seria absurdo dizer que isso deteminou sua literatura.
O chamado 'Grupo de Bloomsbury'(do bairro de Londres onde Virginia e os irmãos foram morar após a morte do pai),foi sim,importante na vida da escritora.Seus melhores amigos da vida inteira vieram dali:o biógrafo Lytton Strachey,o crítico Clive Bell(que se casou com Vanessa Stephen),o pintor Duncan Grant(que viveu com Vanessa por 48 anos) e o grande economista John Maynard Keynes,entre outros.Também foi através desse grupo que conheceu Leonard Woolf,com quem casou-se em 1912.Mas o grupo de Bloomsbury hoje talvez seja mais famoso por sua vida sexual,digamos,complexa.Quase todos eram mais ou menos bisexuais,tendo casos entre si e com outras pessoas(isso na primeira metade do século XX),o que causava espanto e desprezo na sociedade puritana da época,fatos esses ao qual não davam a menor bola.E assim,em meio a um grupo de amigos sofisticados e engajados politicamente,Virginia,a despeito de suas crises esporádicas,pode escrever uma das obras mais complexas,fascinantes e essenciais do século XX.
Virginia quis ir além ,bem além do realismo então vigente na literatura européia.Como ela mesma disse,queria falar não sobre a parede,mas sobre o cimento,o arcabouço da parede.Na literatura de Woolf,o que interessa é o tempo que passa,o universo interior das personagens,a percepção que essas mesmas personagens têm do mundo,não uma percepção objetiva,mas subjetiva.É o universo da mente,as sensações do coração e do espírito que importam.Uma dos escritores pioneiros no uso do'fluxo de consciência'(o pensamento da personagem inserido na narrativa como parte da ação e do enredo),Virginia foi com Joyce,Proust e Hermann Broch,uma das pessoas que transformou o romance radicalmente,fazendo dele uma leitura do ser humano não somente como um ser social,mas um ser psicológico,hiper-complexo.
'A Viagem' e 'Noite e Dia' são aparentemente 'realistas',mas já contendo a semente da revolução woolfiana do enredo(e sua quase supressão).
Cito aqui minhas obras preferidas de Virginia,em ordem cronológica:
'O quarto de Jacob'(1922)-A primeira obra em que a escritora começa a aplicar seu método experimental,formando um romance quase impressionista.A vida de Jacob Flanders nos vem em quadros,nos quais a impressão psicológica é o que importa.O trabalho das metáforas é impressionante,com achados estilísticos de primeira grandeza.
'Mrs Dalloway'(1925)-O grande romance em que Virginia (o narrador)literalmente se insere na mente da personagem principal.Tudo se passa em 24 horas-o tempo em que Clarissa Dalloway prepara uma festa em sua casa.Magnífico romance,que ombreia com os maiores de seu século.
'Rumo ao Farol'(1927)-Homenagem emocionada de Virginia a sua mãe,num romance poético de intensidade rara,trabalhando o passar do tempo e a insatisfação dos seres humanos.
'Orlando'(1928)-Aqui Virginia faz sua homenagem à própria literatura e à leitura como fonte essencial do prazer de viver.A vida de Orlando,um ser humano imortal,ora homem,ora mulher,através dos séculos é também uma carta a Vita Sackville-West,aristocrata e escritora com quem Teve um caso.
'As Ondas'-Tour de force estilístico,em que 6 personagens,6 amigos de infância,discorrem sobre a solidão,a passagem implacável do tempo e a morte.Obra difícil,mas de grande beleza.
Essa é uma pequena lista,pois Virginia escreveu dezenas de obras entre romances e ensaios,isso para não falar de suas cartas e dos diários.

Escritora essencial para qualquer pessoa que queira ter uma visão da mais alta literatura,do que de melhor ela pode oferecer.Um verdadeiro monumento que o tempo só consolida a eminência ,a grandeza.

Esse texto faz parte da blogagem coletiva-Vida de escritor,que a sempre incansável amiga Vanessa Anacleto,do Fio de Ariadne idealizou e que,com certeza,vai ser outro grande sucesso.
imagem daqui

Para ler-"Rumo ao Farol"de Virginia Woolf(post número 300)

Virginia Woolf(1882-1941),escreveu 9 romances,desde o mais convencional "A Viagem",indo até o último,publicado postumamente,"Entre os Atos",quase um poema em prosa.Entre esses livros,destaco quatro obras primas indiscutíveis-"Mrs Dalloway"(1925),"Orlando"(1928),"As Ondas"(1931) e o sublime "Rumo ao Farol'(To the Lighthouse),publicado em 1927.
Dividido em três partes-"A janela","O Tempo passa"e "O Farol",o romance conta a saga da familia Ramsey.Mas quando se diz,conta,não se espere nenhum tipo de narrativa convencional,realista.Aqui,mais uma vez,Virginia trabalha o passar do tempo,o murmúrio do inconsciente,as dores do coração e da alma,a precariedade da vida-que se resume talvez,em um eterno presente acompanhado de um futuro incerto.
Fortemente calcados na própria família de Virginia,os Ramsey,o Senhor e a Senhora Ramsey e seus nove filhos,passam um verão no litoral norte da Inglaterra,em uma época indeterminada,entre o final do século XIX e a Primeira Guerra Mundial.A Sra Ramsey,uma mulher muito bonita,inteligente e sensível,sente-se sufocada com o marido mais velho e casmurro e os nove filhos,identificando-se com o mais jovem,James.A escritora faz uma homenagem emocionada à sua mãe,Julia Jackson(1846-1895),que morreu ainda jovem quando Virginia tinha 13 anos.Nessa parte,a ação se concentra em dois dias.
Obra prima da sensibilidade literária,e um milagre de estilo e técnica,é um dos livros mais profundos do século XX,afirmação essa que passa longe do lugar comum.A vida interior das personagens é analisada em detalhes,e parafraseando um crítico,não acontece nada no romance que não passe primeiro pela mente dessas mesmas personagens.Alguns trechos dão uma idéia desse livro essencial(tradução de Luiza Lobo)
-"-como o corpo de um jovem encerrado em turfa por um século,a carne vermelha dos lábios-sua amizade,em toda sua agudeza e realidade,conservada do outro lado da baía,por entre as dunas."

-"Nunca alguém pareceu tão triste.Amarga e escura,a meio caminho nas trevas,sob o feixe de luz que fugia do sol para encerrar-se nas profundezas,talvez uma lágrima se tenha formado;e uma lágrima caiu;as águas agitaram-se de um lado para o outro e receberam-na,depois acalmaram-se.Nunca alguém pareceu tão triste."(...)Sua simplicidade penetrava no que as pessoas hábeis falsificavam."

"-,mergulhou no ar noturno que,já menos espesso,privava as folhas e as sebes de sua forma,mas,como que em troca,restituía às rosas e aos cravos um brilho que não haviam tido durante o dia."

"Imediatamente a Sra Ramsey pareceu dobrar-se em copas,como se uma pétala se fechasse sobre outra e todo o conjunto tombasse exaurido sobre si mesmo,tanto que ela  mal tinha força para mexer o dedo,num delicioso abandono ao cansaço.por sobre a página da história fantástica de Grimm,enquanto palpitava através dela-como a vibração de uma  mola retesada ao máximo e que agora cessasse suavemente de pulsar -o êxtase da criação,vioriosa."
Uma das obras primas literárias do século XX,"Rumo ao Farol" é uma dessas experiências de mergulho muma experiência única de sensibilidade e de verdade.

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"Rumo ao Farol"-nas melhores livrarias e sebos-existem várias edições e a tradução de Luiza Lobo é excelente.

Folhas Secas-Elis Regina



Composição: Nelson Cavaquinho/Guilherme de Brito
Quando piso em folhas secas
Caídas de uma mangueira
Penso na minha escola
E nos poetas da minha Estação primeira
Não sei quantas vezes
Subi o morro cantando
Sempre o Sol me queimando
E assim vou me acabando
Quando o tempo avisar
Que eu não posso mais cantar
Sei que vou sentir saudade
Ao lado do meu violão e da minha mocidade

Elis,que continua a ser a maior cantora brasileira,e certamente será por muito tempo ainda,mesmo
depois de 27 anos de sua morte,veio de uma estirpe de cantoras populares,cuja origem se perde na bruma da história brasileira.Desde o fado,passando pelos ritmos africanos e sua junção genial na geléia geral brasileira,a canção brasileira eleva-se a píncaros de genialidade melódica,que se refletiria em cantoras como a super-brasileira nascida em Portugal-Carmem Miranda,a divina Elizeth Cardoso,Maysa,Silvinha Telles,Nora Ney,Maria Bethânia,Nara Leão,e tantas outras.Mas foi Elis quem vestiu o manto da brasilidade mais universal,mais radical,com uma técnica e uma emoção raras vezes vistas em uma cantora de música popular.Elis continua pairando pela música brasileira,como testemunha da fortaleza de nossa cultura euro-africana,mistura que deu ao mundo um de seus mais sofisticados cancioneiros populares.

Poema Visual-Artigo 6-de Rodrigo Ciríaco





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