COGITO-TORQUATO NETO(1944-1972)


eu sou como eu sou

pronome

pessoal intransferível

do homem que iniciei

na medida do impossível


eu sou como eu sou

agora

sem grandes segredos dantes

sem novos secretos dentes

nesta hora


eu sou como eu sou

presente

desferrolhado indecente

feito um pedaço de mim


eu sou como eu sou

vidente

e vivo tranquilamente

todas as horas do fim


PRÊMIO DARDOS


A professora Elaine dos Santos,do blog http://professoraelainedossantos.blogspot.com/

me outorgou o prêmio dardos.É a segunda vez que recebo o Dardos.Meu blogue completa dois meses precisamente hoje.Em tão pouco tempo ter um reconhecimento da comunidade blogueira,é uma alento a continuar blogando,e postando coisas de qualidade.Todos nós sabemos que um blog de qualidade toma tempo(e às vezes dinheiro hehe).Mas esse tempo é largamente recompensado com os que nos visitam ,comentam ,estimulam,e nos dão prêmios como esse.

Muito obrigado á professora Elaine e a todos que me visitam.Amanhã posto a minha lista de indicados.Um abraço a todos.


Carlos Drummond de Andrade-A poesia de Drummond é de uma fidelidade absoluta à precisão.À antiretórica,à vagueza da auto-indulgência e da autopiedade.

Maria Callas-Deve ser o que Ulisses ouviu,amarrado ao mastro,quando as sereias cantaram.È o que me lembra a voz de Callas no seu apogeu.

Albert Camus-Camus é de um palavrório estático,solene,pomposo,típico do provinciano que aprendeu as cadências majestosas dos clássicos franceses.

Capitalismo-Não há países ricos não-democráticos.

Cultura-Alta cultura é,na verdade,cultura,ponto.Ou seja,o máximo que o gênio humano produziu.

Salvador Dalí-O interessante sobre Dalí é que ele pintava bem,quando lhe dava na veneta.Ser espanhol,ter nascido no século XX e nada dever a Picasso ,estilisticamente,não é pouca porcaria.O Dalí palhaço,comercial,autor de n falcatruas que levam seu nome é que será lembrado.Mas,nos seus melhores momentos,sugere um discípulo meio doido de Velásquez.Poucos pintores do século XX foram capazes de recriar,really,com frescor,o figurativismo,como Dalí.

Emily Dickinson-Emily Dickinson foi a maior poeta mulher de todos os tempos.

Greta Garbo-Greta Garbo era única,e nunca houve atriz de cinema que lhe comparasse.O mais importante é que tinha um quê indefinível que faz dela a estrela absoluta do cinema durante duas décadas,uma qualidade na pessoa que mesmeriza o espectador.Garbo enchia uma tela e varria com quem contracenasse.

Judy Garland-Nenhum dos filmes de Judy Garland é memorável,nem mesmo Nasce uma estrela-A star is born.Ela é o que importa.Vê-la no palco.A única branca que nos toca no que temos de mais íntimo,quando canta.Exige nossa rendição incondicional.Seu rosto ansioso é hipnótico e sabemos que,naqueles filmes idiotas,está falando de coisas muito além do que aparece no script.

E por aí vai.Francis está a centenas de anos luz de distância de seus imitadores de quinta categoria,como o insuportável Diogo Mainardi e o inenarrável Olavo de Carvalho.Sua geração era aquela que podia discutir quase todos os assuntos numa mesa de bar,do cubismo à física de Einstein,e não se resumia a simplesmente jogar pedras nas vidraças alheias sem uma justificativa convincente.Aliás,que horror a idéia de colocá-lo no Manhattan Connection,onde destila seu mau humor constante e sua cultura de almanaque.Pobre Ricardo Amorim.

do livro-O diário da corte-organização de Daniel Piza,Companhia das Letras,1997.