ANACTORIA(FRAGMENTO) DE ALGERNON CHARLES SWINBURNE(1837-1909)


A minha vida tornou-se amarga com o teu amor;os teus olhos

Cegam-me,as tuas tranças queimam-me,os teus suspiros profundos

Dividem a minha carne e o meu espírito com um débil som,

E o meu sangue fortalece-se,e as minhas veias transbordam.

Peço-te que não suspires,não fales,não respires;

Deixa que a vida se reduza a cinzas e sonha que não é a morte.

Queria que o mar nos tivesse escondido,o fogo

(Terás tu medo disso e não receias o meu desejo?)

Quebrou os ossos que branqueiam,a carne que se fende,

E deixa que as nossas cinzas joeiradas caiam como folhas.

Sinto o teu sangue contra o meu;a minha dor

Atormenta-te,e os lábios esmagam os lábios,a veia dilacera a veia.

Que o fruto seja esmagado sobre o fruto,e a flor sobre a flor,

Que o seio desperte o seio e ambos ardam uma hora.

Porque hás tu de seguir um amor sem importância?É o teu

Demasiado fraco para sustentar estas minhas mãos e estes meus lábios?

Exorto-te a que apenas por mim,ó tão amada,

Esmagues o amor com teus belos pés cheios de crueldade,

Exorto-te a que afastes teus lábios dos dela ou dos lábios dele,

Tão doces,até que eles sejam mais doces que o meu beijo:

Para que assim eu não atraia,uma andorinha em vez de uma pomba,

Erotion ou Erinna para o meu amor.

Quem dera que o meu amor te matasse;fico saciado

vendo os vivos e de bom grado te queria morta.

Quem me dera a terra tivesse o teu corpo como fruto para comer,

E que nenhuma boca a nãos ser a de uma serpente te achasse doce.

Quem me dera encontrar maneiras cruéis de mandar matar,

Instrumentos violentos e um excessivo fluxo de dor;

Atormentar-te com agonias amorosas e ameaçar

A vida nos teus lábios e deixa-la aí para doer;

Retirar-te a alma com agonias demasiado suaves para matar,

Interlúdios intoleráveis e infinito mal;

Provocar reincidências e relutância do alento,

Melodias mudas e trêmulos murmúrios da morte.

Estou cansado de todas as tuas palavras e da tua estranha afabilidade,

De todas as noites escaldantes de amor e de todos os seus dias,

E de todos os beijos interrompidos,salgados como espuma,

Que lábios trêmulos tornam úmidos com um vinho mais leve,

E olhos mais azuis por todas aquelas horas escondidas

Que o prazer enche de lágrimas e alimenta de flores,

Cruel fogo no coração que principia a penetra-lo,

Mas deixando uma brancura de flor manchada à volta de azul;

A pálpebra inferior ardente,e a superior

Erguida com um sorriso ou confundida com o amor;


(Tradução de Maria de Lourdes Guimarães)

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