Poema em Linha Reta-de Fernando Pessoa(1888-1935)
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Unknown
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segunda-feira, novembro 16, 2009
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Imagem daqui
Marcadores: Fernando Pessoa, Fernando Pessoa-Poema em linha reta
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6 comentários:
Carla Martins
16 de novembro de 2009 às 12:50
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talento é pra quem tem, né?
beijinhos!
Mauri Boffil
16 de novembro de 2009 às 16:27
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ai, mas... ser vil é tão classudo... as mocinhas desesperadas me dão raiva
Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz
16 de novembro de 2009 às 18:54
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não estou falando q estamos tendo transmissão de pensamento ... programei para os próximos dias uma postagem igual só q declamada ... kkkkkkkkkkkk ... ki meda disto ... é a segunda vez q isto acontece ...
;-)
Luciano A. Santos
17 de novembro de 2009 às 15:15
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James,
O último verso marcou : "Vil no sentido mesquinho e infame da vileza." Incostestavelmente lindo.
Abraços.
PS: Gostei muito do comentário do Mauri Boffil.
Caio Marques
18 de novembro de 2009 às 14:19
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Adoro esse "cara" (olha a intimidade rss)... minha mae tem uma obra repleta dele e aos poucos fui me apaixonando por sua poesia :)
Cristina Caetano
19 de novembro de 2009 às 12:16
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E é por essas e outras que gosto de Pessoa... ótima escolha, querido.
Beijinhos
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