A Revolução Iraniana de 1979,como a cubana de 1959,foi feita(à custa de muito sangue,suor e lágrimas) para mudar radicalmente um regime opressivo,que no Irã era a monarquia dos Pahlevi,absolutista,sanguinária e extremamente corrupta.Às vezes nos esquecemos que o Irã(como a Índia e a China) é um país antiquíssimo,com uma cultura milenar e sofisticada,cujo povo resistiu por séculos a imperadores absolutos e a invasões (foi invadido por Alexandre,o grande,pelos árabes,pelos ingleses).O povo persa tem existido há milhares de anos,e mesmo convertido ao islamismo,tem mantido seu legado cultural tão rico e diverso.
Pois a revolução liderada por Khomeini em 1979,não só foi vitoriosa como implantou um estado teocrático,supostamente baseado no Corão,que instituiu a opressão sistemática de mulheres,homossexuais,não-muçulmanos,intelectuais.São as revoluções,que tristemente,num sentido" à la George Orwell",se transformam,assim que vitoriosas,em outro estado de exceção,de repressão de grupos politicamente fracos ou minoritários.Os todo poderosos aiatolás xiitas começaram,rapidamente, a lotar as prisões com presos políticos.
Persepólis é uma animação em preto e branco baseada nos quadrinhos de Marjane Satrapi e dirigida por ela e Vincent Paronnaud.Conta a história da própria Marjane,nascida em Teerã de uma família da elite intelectual iraniana.A 'revolução' de 1979 muda radicalmente a vida de todos,e impõe a Marjane e sua família,não religiosos e cosmopolitas,todo o provincianismo religioso do clero iraniano,totalmente obscurantista.Em pouco tempo,leis draconianas são baixadas:imposição do xador compulsório para as mulheres,proibição do álcool,fechamento de bares e discotecas,criminalização da homossexualidade,proibição de livros e obras de arte "indecentes',etc.Marjane,aos 14 anos se vê,de repente nesse país que muda radicalmente e se revolta.Para evitar o pior,sua família a envia para estudar em Viena.Desenraizada,em profunda crise,a garota termina por mergulhar em depressão profunda e a família a traz de volta ao Irã.
Enquanto no país as leis são ainda mais restritivas,os iranianos fazem(ainda hoje)o que podem para driba-las.A figura fantasmática da mulher coberta com o xador,em casa inexiste.Festas são movidas,muitas vezes a álcool e muito rock'n'roll,o sexo não é tão tabu assim.São como dois países-o oficial e duro dos aiatolás e das leis repressivas e o real,dentro de casa,com as pessoas vivendo como podem.
É um belo trabalho,poético,sem concessões sentimentalóides,com belíssimas imagens e um sempre presente questionamento político.Marjane,no final das contas,não conseguiu viver na dura realidade do Irã e se mudou definitivamente para Paris,onde vive até hoje.
Enquanto o nosso governo(que eu tenho quase sempre apoiado),se põe a declarar sua solidariedade sem reservas ao feroz governo iraniano que sufoca um povo inteiro,Marjane em pouco menos de duas horas,desfaz o mito de uma suposta democracia islâmica.Não há democracia onde mulheres são espancadas nas ruas por não estarem 'decentemente vestidas',gays são enforcados ou bahais apodrecem em prisões medievais.O filme de Marjane é lírico,e fala do que todos nós já sabemos-o valor inconfundível da liberdade.
2 comentários:
Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz
23 de março de 2010 às 15:08
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legal não conheço mas fiquei interessado ...
vou tentar assistir ...
bjux
;-)
Alexandre Lucas
27 de março de 2010 às 02:41
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Tenho pena do atraso imposto ao povo iraniano, mas acho a autora genial!
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