Quando vi "O Paciente Inglês" pela primeira vez,me pareceu só mais um filme de amor bem realizado.Na segunda vez,que assisti com amigos e pudemos trocar impressões,tive uma epifania.
É uma obra,que sob a aparência inicial de ser mais um filme sobre as idas e vindas do amor,é uma encenação grandiosa sobre viver e perder,ganhar e perder;sobre o acaso que parece mesmo tudo reger,sobre nossa eterna insatisfação com os outros e conosco mesmos,sobre o quanto o amor e o desejo podem conter de trágico e porque não-de absoluto.
A tragédia grega,as obras primas trágicas de Shakespeare(Hamlet,Macbeth,Rei Ler,Antônio e Cleópatra,Romeu e Julieta),os clássicos da era de ouro de Hollywood(Grande Hotel,Rainha Cristina,Casablanca,E o vento levou,Nasce uma estrela,entre tantos)discutem e quase esgotam os temas do desatino do amor,da incompreensão,do sofrimento humano,da sempiterna( e não muito bem aceita e compreendida) solidão humana(quer dizer-a verdadeira solidão conosco mesmos-estar com alguém também não é garantia de nada).
"O Paciente Inglês"(que não é inglês,e sim húngaro) coloca em tintas fortes e turvas a impossibilidade da realização ideal do amor(entre aspas por ser sempre tão desejada e sempre impossível,assim então,ela nos foge).O Conde László de Almásy(Ralph Fiennes,em grande interpretação)é um arqueólogo suspeito de ser espião no Egito sob ocupação nazista na Segunda Guerra.Lá conhece Katharine Cliffton(Kristin Scott-Thomas-em mais um grande momento-linda,elegante,entre o desespero,a frivolidade e a impassível fleuma britânica)que acompanha o marido arqueólogo,Geoffrey(Colin Firth-sempre ótimo)em uma escavação no deserto..Aqui,se instala na vida colonial inglesa,sempre separada dos 'nativos',em seu orgulho colonialista de suposta civilização superior(e branca),com toda sua vida complacente de 'garden-parties'(sob 40 graus),chás das cinco,bailes e fofocas;o que quer dizer-toda uma vida em que as aparências e encenação constante são o 'modus-vivendi'.Katharine se ressente de um casamento que a seus olhos é(ou tornou-se)morno sem emoção o suficiente para que ela se interesse por Almásy.O desejo,por mais que alguns 'politicamente corretos' digam o contrário,é sempre carnal,e por ser carnal subjuga o corpo e a mente.Por mais que resistamos ou o neguemos,ele está ali,em tortura constante.Ele exige reparação física,é premente.E Katherine(uma mulher inteligente e sofisticada),começa um caso com Almásy,sabendo desde o começo,que é uma história de alguma forma
condenado ao fracasso,à não-realização.
A trama vai e vem em flashbacks.Almásy,depois de um acidente de avião que o deixa gravemente desfigurado(que vemos no final do filme),é recolhido e cuidado pela doce Hanna(a maravilhosa Juliette Binoche)em um mosteiro medieval abandonado na Toscana,Itália(uma das regiões mais belas do mundo).Hanna restaura as pinturas renascentistas de uma igreja.Essa oposição-a do Conde Almásy morrendo,abandonado e amargurado e a permanência fulgurante da arte,enfatiza esse mesmo lado amargo da vida(nunca vamos encontrar as respostas para nossas eternas perguntas metafísicas,enquanto seres humanos)-Nós passamos,nossas realizações permanecem.Nunca existirá nenhuma 'plenitude amorosa real'.
Hanna mantém um relacionamento com o indiano Kip(Naveen Andrews).É obsecada com a morte e acha que todos que se aproxima dela,de alguma maneira morrem-e como Kip é um desarmador de bombas,essa obsessão permanecerá entre os dois.
A trama avança em saltos temporais que assinalam o desenvolvimento do romance de Katharine e Almásy.Existem pontos -chaves na trama:o livro preferido do conde(História-do grego Heródoto),o deserto(de uma beleza além da imaginação) e a impressionante 'Caverna dos mergulhadores',onde acontece a consumação trágica do amor de Almásy e Katharine.Destaco a sequência final(uma das grandes cenas do cinema contemporâneo) com sua pungência e comovente beleza.
Grande direção do falecido diretor inglês Anthony Minghella,estupenda fotografia de John Seale,as icônicas interpretações de Phiennes,Scott-Thomas e Binoche (sem esquecer o grande William Dafoe,em ponta de luxo),o roteiro preciso de Minghella(baseado no romance de Michael Ondaatje),fizeram do filme o mais que merecido vencedor de 9 prêmios Oscar(incluindo melhor filme).A trilha sonora é um espetáculo à parte,dando o tom exato de desespero e ansiedade que perpassa o filme.
Uma obra para pensar,para comover(sem nenhum traço de melodrama barato);para mais uma vez,tentarmos entender como e porque somos levados pelo amor,mesmo que muitas vezes já saibamos o desfecho.Um filme para ver e rever.
Cinema-O Paciente Inglês(1996) de Anthony Minghella
Música-A-Ha Take on me-Uma saudação aos gloriosos anos 80
Marcadores: A-ha, Anos 80, pop dos anos 80, Take on me, Take on me-A-ha
Eu e a Vanessa Anacleto do indispensável Fio de Ariadne ,estamos promovendo mais uma Leitura Coletiva.A Vanessa me propôs essa leitura e sinto que ela é ,também uma homenagem ao grande escritor recentemente falecido.Escolhemos três livros de Saramago para a leitura:Caim,A Viagem do Elefante e Ensaio sobre a Cegueira.Vocês podem encontra-los online no site E-books Grátis .
Para partcipar da leitura,deixe um comentário com a url do seu blog e o livro escolhido aqui ou no Fio de Ariadne,leve o selo do evento e publiquem suas impressões de leitura no dia 26 de Julho.
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
Marcadores: MEMÓRIA, Memória-Carlos Drummond de Andrade
Um dos últimos escritores humanistas,que pagou um preço caro por seu desprezo pelo senso comum,pelas opiniões pré-fabricadas,por seu ateísmo militante,por sua vida sem concessões,por seu horror das mentiras que parecem verdades.Vítima preferida do fundamentalismo cristão e político,foi um dos três grandes prosadores da língua portuguesa no século XX,ao lado de Clarice e Guimarães Rosa.Na contra-corrente com o conformismo 'pós-moderno' da era do 'mercado total' e da reificação do ser humano,Saramago nos deixa seu exemplo de humanismo e sua genial e vasta obra.
Marcadores: José Saramago, RIP-José Saramago
Poesia-Os nomes dados à terra descoberta-Cassiano Ricardo
Os nomes dados a terra descoberta
Por se tratar de uma ilha deram-lhe o nome
de ilha de Vera-Cruz.
Ilha cheia de graça
Ilha cheia de pássaros
Ilha cheia de luz.
Ilha verde onde havia
mulheres morenas e nuas
anhangás a sonhar com histórias de luas
e cantos bárbaros de pajés em poracés batendo os pés.
Depois mudaram-lhe o nome
pra terra de Santa Cruz.
Terra cheia de graça
Terra cheia de pássaros
Terra cheia de luz.
A grande terra girassol onde havia guerreiros de tanga e
onças ruivas deitadas à sombra das árvores
mosqueadas de sol
Mas como houvesse em abundância,
certa madeira cor de sangue, cor de brasa
e como o fogo da manhã selvagem
fosse um brasido no carvão noturno da paisagem,
e como a Terra fosse de árvores vermelhas
e se houvesse mostrado assaz gentil,
deram-lhe o nome de Brasil.
Brasil cheio de graça
Brasil cheio de pássaros
Brasil cheio de luz.
Música-A Paixão segundo São Mateus de Bach(trecho-Wir setzen uns)
Talvez exista sim uma 'música de outras esferas' e esse trecho da Paixão segundo São Mateus de Bach seja um dos maiores exemplos.E exemplo da altura que o gênio humano pode conseguir chegar(não só para construir armas de destruição em massa,mas celebrar nossa humanidade e a comunhão com nossa planeta-casa).Música celeste,sublime.Aqui todos os lugares comuns fazem sentido.
1. A vida não é justa, mas ainda é boa.
2. Quando estiver em dúvida, dê somente o próximo passo, pequeno...
3. A vida é muito curta para desperdiçá-la odiando alguém.
4. Seu trabalho não cuidará de você quando você ficar doente. Seus amigos e familiares cuidarão. Permaneça em contato.
5. Pague mensalmente seus cartões de crédito.
6. Você não tem que ganhar todas as vezes. Concorde em discordar.
7. Chore com alguém. Cura melhor do que chorar sozinho.
8. É bom ficar bravo com Deus. Ele pode suportar isso.
9. Economize para a aposentadoria começando com seu primeiro salário.
10. Quanto a chocolate, é inútil resistir.
11. Faça as pazes com seu passado, assim ele não atrapalha o presente.
12. É bom deixar suas crianças verem que você chora.
13. Não compare sua vida com a dos outros. Você não tem idéia do que é a jornada deles.
14. Se um relacionamento tiver que ser um segredo, você não deveria entrar nele.
15. Tudo pode mudar num piscar de olhos. Mas não se preocupe; Deus nunca pisca.
16. Respire fundo. Isso acalma a mente.
17. Livre-se de qualquer coisa que não seja útil, bonito ou alegre.
18. Qualquer coisa que não o matar o tornará realmente mais forte.
19. Nunca é muito tarde para ter uma infância feliz. Mas a segunda vez é por sua conta e ninguém mais.
20. Quando se trata do que você ama na vida, não aceite um não como resposta.
21. Acenda as velas, use os lençóis bonitos, use lingerie chic. Não guarde isto para uma ocasião especial. Hoje é especial.
22. Prepare-se mais do que o necessário, depois siga com o fluxo.
23. Seja excêntrico agora. Não espere pela velhice para vestir roxo.
24. O órgão sexual mais importante é o cérebro.
25. Ninguém mais é responsável pela sua felicidade, somente você.
26. Enquadre todos os assim chamados "desastres" com estas palavras 'Em cinco anos, isto importará?'
27. Sempre escolha a vida.
28. Perdoe tudo de todo mundo.
29. O que outras pessoas pensam de você não é da sua conta.
30. O tempo cura quase tudo. Dê tempo ao tempo.
31. Não importa quão boa ou ruim é uma situação, ela mudará.
32. Não se leve muito a sério. Ninguém faz isso.
33. Acredite em milagres.
34. Deus ama você porque ele é Deus, não por causa de qualquer coisa que você fez ou não fez.
35. Não faça auditoria na vida. Destaque-se e aproveite-a ao máximo agora.
36. Envelhecer ganha da alternativa -- morrer jovem.
37. Suas crianças têm apenas uma infância.
38. Tudo que verdadeiramente importa no final é que você amou
39. Saia de casa todos os dias. Os milagres estão esperando em todos os lugares.
40. Se todos nós colocássemos nossos problemas em uma pilha e víssemos todos os outros como eles são, nós pegaríamos nossos mesmos problemas de volta.
41. A inveja é uma perda de tempo. Você já tem tudo o que precisa.
42. O melhor ainda está por vir.
43. Não importa como você se sente, levante-se, vista-se bem e apareça.
44. Produza!
45. A vida não está amarrada com um laço, mas ainda é um presente
Escrito por Regina Brett(90 anos)
do blog(y) do André Mans
Poesia-Love is not all(O Amor não é tudo)-de Edna Saint Vincent Millay(1892-1950)-Tradução
Nor yet a floating spar to men that sink
And rise and sink and rise and sink again:
Love can not fill the thickened lung with breath,
Nor clean the blood,nor set the fractured bone;
yet many a man is making friends with death
Even as I speak,for lack of love alone.
It will may be that in a difficult hour,
Pinned down by pain and moaning for release,
Or nagged by want past resolutions's power,
It might be driven to sell your love for peace,
Or trade the memory of this night for food.
It well may be.I do not think I would.
O amor não é tudo;não é comida nem bebida
Ou um torpor ou um teto contra a chuva,
Não é um destroço flutuante para aqueles que estão afundando
E vão à tona ,e afundam,e voltam à tona e afundam :
O amor não pode encher de ar os pulmões que se expandem,
Não pode limpar o sangue,nem endireitar um osso quebrado:
Ainda assim muitos estão tentando conectar-se com a morte,
Agora mesmo,por não terem amor.
Nessas horas difíceis,talvez,
Forçados pela dor e implorando por libertação,
Ou importunados pelas resoluções contrariadas,
quererão assim trocar o amor pela paz,
ou negociar a memória de uma noite por comida.
Pode ser.Eu não o faria.
(tradução minha)
"Nesta época em que a ciência e a ação adquiriram tal grandeza,a literatura tornou-se a camada mais superficial do pensamento de um povo.(...) Eu te mostrarei ,quando quiseres,pessoas que nunca lêm romances,moças que nunca foram ao teatro,homens que nunca se ocuparam de política-e isso,entre os intelectuais.Não viste nem nossos sábios,nem nossos poetas.Não viste os artistas solitários que se consomem em silêncio,nem o braseiro chamejante de nossos revolucionários.Não viste um único grande crente,nem um único incréu.
Não conheces nas habitações pobres ,nos sótãos,na província muda,os animosos,os sinceros corações,presos durante toda uma vida medíocre a graves pensamentos,a um abnegação cotidiana-ao pequeno cenáculo,que sempre existiu-pequeno pelo número,grande pela alma,quase desconhecido,sem ação aparente,e que é toda nossa força,a força que se cala e permanece,enquantro apodrece e se renova o que se intitula:a elite...
Há milhares de criaturas,assim como eu,e de mais mérito,mais piedosas,mais humildes,que até o dia de sua morte servem sem desfalecimento um ideal,um Deus que não lhes responde.Não conhece o povo metódico,econômico,trabalhador,tranquilo,que tem no fundo do coração uma chama que dorme-o povo sacrificado que defendeu,outrora contra o egoísmo dos grandes,o país.
Não conheces o povo,não conheces a elite.Fazes idéias de personalidades morais que são o nosso sol e cuja muda irradiação causa medo ao exército dos hipócritas.Estes não ousam lutar de viseira erguida,curvam-se diante daqueles,a fim de melhor traí-los.O hipócrita é um escravo,e quem fala em escravo fala em senhor.Conheces apenas os escravos,não conheces os senhores.Viste as nossa lutas e as classificaste de incoerências brutais porque não lhes compreendeste o sentido.Vês as sombras e o reflexo do dia,não vês o dia interior,nossa alma secular.Procuraste alguma vez conhece-la?Podemos permitir que se calunie um povo?
Um povo que passou vinte vezes pela prova do fogo,nele se retemperou e,sem morrer nunca,vinte vezes ressuscitou?
Os melhores entre nós estão bloqueados,somos prisioneiros de nosso próprio solo...Jamais se saberá tudo que sofremos,presos ao gênio da raça,guardando em nós mesmos,como em um depósito sagrado,a luz que dela recebemos,protegendo-a desesperadamente contra os sopros inimigos que se esforçam por apagá-la-sozinhos,sentindo em torno de nós a atmosfera empestada desses forasteiros que se abateram sobre o nosso pensamento como um enxame de moscas,cujas larvas pavorosas corroem nossa razão e poluem nossos corações,-traídos por aqueles cuja missão era defender-nos,nossos guias,nossos críticos imbecis ou covardes,que bajulam o inimigo para obterem o perdão por pertencerem a nosso povo.Ah,isso é o mais duro!Sabemos que somos milhares a pensar do mesmo modo,sabemos que falamos em seu nome e não nos podemos fazer ouvir.O inimigo tudo possui:jornais,revistas,teatros...A imprensa evita o pensamento,ou somente o admite se é um instrumento de prazer ou a arma de um partido.As 'panelinhas' não nos dão passagem livre a não ser à custa de aviltamento.A pobreza ainda acabrunha o povo,o trabalho excessivo nos cansa.Os políticos,ocupados em enriquecer-se,interessam-se somente por aqueles,que de alguma forma,podem comprar.A burguesia indiferente e egoísta,não se interessa pelo povo ou pelo país.
Sofri por tudo isso,em outros tempos.Mas hoje,estou tranquilo.Compreendi a força do meu povo.Agora,temos que construir agora o futuro.Por sob a lama que corre,vejo o fino granito.E,já agora,por aqui,por ali,emergem altos cimos.Nada será em vão."
Essa carta foi escrita,a princípio não aos brasileiros.Esse texto foi escrito pelo grande escritor francês Romain Rolland(hoje injustamente,bastante esquecido) em seu magnífico romance-rio Jean-Christophe .O romance é um dos melhores que já li.Relendo algumas partes,deparei com esse trecho.Ele foi escrito sobre a França de entre guerras,mas acho que se encaixa perfeitamente em nossa realidade.Download do livro aqui(está em domínio público-em inglês)