Desperte querendo ser a nova diva-fetiche do inverno
because summer is over,my dear.
A paineira,a jaqueira,floridas,floridas,ornadas,pesadas
como as ondas filigranadas na manhã de Ipanema.
Ah esse ardor de starlet tupiniquim-
sonhos da odalisca mor,repetindo a história
tão sem sede,oblíqua e distante.


Infinitesimal cálculo da luz que banha
a barra ao cair do dia.
Tu és meu amplexo.Estamos juntos.Eu vejo então
os meninos pobres numa roda:cinza cobre o tempo,os dois irmãos
se encolhem na chuva miúda,corredores arrastam
água com os pés-o que na verdade existe
dentro do quadro?

Há uma foto amassada na luz quente e atlântica
pode-se imaginar anjos sobre o Rio de Janeiro?
A luz desce e amplia o rosto da moça-confiança
é dúvida,ela murmura.
Os mendigos são medievais no mega roteiro
do produtor de vídeo alemão,eas gaivotas rodopiam
pela câmera.

A garota da hora talvez tenha medo do poder do coração.não imagina
como é o tempo-ele não tem travas minha querida.
As ondas roçam a enseada,e a senhora passeando com um cachorrinho?
Na Etiópia ainda comem ratos suculentos-calamidade
é um dos nomes do real.




NA FLORESTA



O seguinte processo é igual a uma parada:
ouça Dvorak no escuro,lembre-se de toda brandura
que é falsa.

Picture one:lábios,silvo de cobra no campo,
arremedo de paz tão distante!
this is a jealous guy called Icarus,
dançando na neblina
Meninos passeiam pelos campos
e cantam toadas;os cumes são cobertos de grama e arbustos.
Parangolés e bonecas da beira do rio
gritam I love you
Ninguém passa,ninguém vê
danças de roda,fragmentos do céu
que vai se cobrindo de bruma.


Picture two:manhã,imã crestado de ferrugem,
o quadro se cobre de fina poeira.
O sol é duro e quente e poesia se fragmenta,
chama por dríades,náiades e sacis.
Há Rita Hayworth-terpsicore rodopiando pelo campo.
A luz vai se finando,tudo se torna cinza e negro,
espalhando pelos morros os meninos e as bonecas.
a poeira se espalhando como rastilho.


Thomas Jones insiste que o poema
é o limite da palavra.
Sombras ainda descem do céu.Luz!Mais luz!
Mas o que é tão duro que tolhe qualquer prazer real?
Não diga:quero estar só.Paraonde iremos então?


Picture three:existe a paisagem ressequida.
um vento antigo que bate nas pedras.
Mas,pastores"eis a descoberta.Flautas e bandolins
fadinhas de dior,veados do campo,ebós e erês.
a estrada que se estende sem destino.


Processos são construções
manufaturas,as correções do quadro.
Falta o vazio-porque cansados estamos
da sopa campbells e dos quadrados bienais
com bolas dentro de bolas dentro de que?
tudo isso é uma parada,declaração.



FRAGMENTO 1


Embora estar com alguém fosse um verdadeiro prazer,a solidão lhe era cara como pequenos presentes que recebesse.Sentiu-se eletrizado ao abrir a persiana e ver a cidade lá embaixo,mil luzes brilhando na noite fosca;os anúncios de neon piscando como novos os novos faróis dessa época em que nos foi dado viver.Havia chovido e uma aragem quase inacreditável subia pelos edifícios empurrando para longe o calor.Na televisão passava um programa qualquer-modelos siliconadas reclamavam da falta de amor do ser humano.Ah Deus!poderia estar lá com elas:vendo o rímel escorrer e expondo sua pobres mágoas.Porque vasculahndo noite da cidade,às vezes ia a um bar:nada acontecia ou pelo menos o que achava fosse nada.Não admitia seu medo tácito e sua sede infinita.Achava que todos estavam disponíveis eque também todos eram inacessíveis.
Entre ontem e hoje o abismo se alargava a cada dia.A voragem dos instantes eclipsava tudo.aquela mesma manhã de verão que surgira em meio à neblina fria,amanhã seria quente e insuportável.O bater do portão ao sair para o trabalho,balançando as dobradiças metálicas,já se misturara ao ar do nunca mais.O telefone a seu lado,abalava o mundo. Quem esperava que ligasse?Qualquer pessoa?sua mãe?Talvez ninguém ligasse.sua sofreguidão então se confirmaria e então nascesse uma estranha felicidade.como um conhecimento do desastre?




CECILIA EM PIRATININGA



Depois do fragor da tempestade,a água subiu.Agarrada a Peri,no tronco da palmeira `a deriva,ela viu transmutar-se de azul muito escuro em um negro de fumaça.Relâmpagos
amrelo-alaranjados cruzavam o poente.O barulho dos trovões,pensou,nunca acabaria.
Peri a segurava com força,seus braços enormes a amparando.Esgotada,abandonou-se,não mais ao pavor e ao medo da morte.mas à estranha situação que vivia.Deitada sob o tronco esguio,tinha a sensação que a qualquer momento iria ao fundo,e tudo finalmente terminaria.O mundo agora era só água,e aquele céu escuro e iluminado a cada segundo por estranhas luzes.
E todos os outros estariam certamente mortos agora:seu pai,Álvaro,Isabel.Todos mortos.Massacrados,cobertos de flechas,seus pobres corpos desfigurados imóveis no chão,seus olhos esbugalhados,os cabelos sujos de sangue e terra.Seus olhos se enchera de lágrimas.Via flores que passavam boiando,espantosamente azuis e vermelhas,rodopiando e pequenos redemoinhos pela agua suja.Não me leve,não me leve,pensou.Peri não parecia nem mesmo cansado.Como um ser de um outro lugar,a olhava com o mesmo olhar de devoção e doçura.Tão fraca estava,tão esgotada,molhada e fria,que já não lhe doia mais o corpo.Seu vstido encharcado não mais a incomodava;o medo a deixava finalmente.A cada momento pensava ser o fim.Até quando ele vai suportar,meu deus?Quando,por fim,mesmo em um esforço magistral,seus braços não o obedecessem mais?marés se eguiam pela terra inundada.Sltou um leve grito.Era assim então.

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