Desde o tempo sem número em que as origens se elaboram,
se estendem para mim os seus braços eternos,
que um estatuário de caminhos invisíveis
construiu com a cor e o frio e o som morto de mármores,
para que em teu abraço haja imóveis invernos.
Tu bem sabes que sou uma chama da terra,
que ardentes raízes nutrem meu crescer sem termo;
adestrei-me com o vento,e a minha festa é a tempestade,
e a minha imagem,como jogo e pensamento,
abre em flor o silêncio,para enfeitar alturas e ermo.
Os teus braços que vêm com essa brancura incalculável
que de tão ser sem cor nem se compreende como existe
-são os braços finais em que cedem os corpos,
e a alma cai sem mais nada,exausta de seu próprio nome,
com uma improvável forma,um vão destino e um peso triste.
Pois eu,que sinto bem esses teus braços paralelos,
na atitude sem dor que é o rumo e o ritmo dessa viagem,
digo que não cairei com uma fadiga permitida,
que não apagarei este desenho puro e ardente
com que,de fogo e sangue,foi traçada a minha imagem.
Eu ficarei em ti,mísera,inútil,mas rebelde,
última estrela só,do campo infiel aos seus escassos.
E tu mesma achará pasmos de lagos e areias,
diante da forma exígua,sustentada só de sonho,
mantendo chama e flor no gelo dos teus braços.
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12 comentários:
Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz
17 de fevereiro de 2010 às 11:36
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"imagem,como jogo e pensamento" ...
hoje, ler isto foi mais que profético ...
obrigado querido
bjux
;-)
Mylla Galvão
17 de fevereiro de 2010 às 20:29
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Ei James,
Eu sou suspeita para falar da Cecília, pq a adoro...
Suas poesias me remetem a minha infância...
Mas esse poema não conhecia...
Bela tb... mas ainda prefiro sua coletânea dedicada às crianças...
Obrigado pela visita aos meus blogs!
bjão
Unknown
18 de fevereiro de 2010 às 14:20
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Paulo,acho esse um dos poemas mais intensos da grande Cecília.
Um abraço.
Unknown
18 de fevereiro de 2010 às 14:22
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Mylla,obrigado.É um prazer visitar seus blogs.
Um beijo do james.
Fê Colcerniani
18 de fevereiro de 2010 às 21:55
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Hum... delícia.... adoro Cecília Meireles! Adoro! Bjs
Alexandre Lucas
19 de fevereiro de 2010 às 03:43
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E pensar que esta pessoa maravilhosa sofria de depressão...
http://rhdoinferno.blogspot.com/2009/09/ensinamento-pesadinho-do-dia-palavras.html
Unknown
19 de fevereiro de 2010 às 13:08
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Fê,obrigado pela visita.Espero que volte mais vezes.
Um abraço.
Unknown
19 de fevereiro de 2010 às 13:09
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Não sabia desse detalhe,Alexandre.Isso só me faz gostar mais dela.
Um abraço.
Unknown
19 de fevereiro de 2010 às 13:12
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Tiago,obrigado pela visita e pela proposta.Deixei um comentário lá no seu blog.Abração.
TgDsGooD
19 de fevereiro de 2010 às 22:09
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Laurene
21 de fevereiro de 2010 às 00:38
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Cecília é demais, né, poemas leves, vaporosos, com musicalidade.
Como está o seu Foucault? Foucault é Marx + Nietzsche, na equação do Alan Renaut no livro Pensamento 68, da Ensaio.
O que vc estudar dele? Acho realmente um imbróglio essa história do humanismo e do antihumanismo. Parece-me que ele radicalizou para acabar com as bobagens sobre o humanismo que os comunistas diziam na época, festejando alegremente o domínio do homem sobre a natureza, o triunfo inevitável da razão, da história, do Ocidente enquanto marxismo europeu, etc.
Abs do Lúcio Jr.
Cristina Caetano
22 de fevereiro de 2010 às 18:46
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Acho que já sabes que adoro Clarice. Me identifico, sou uma fã incondicional.
Beijinhos
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