Poesia-Amar(Carlos Drummond de Andrade-1902-1987)

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas,amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar,desamar,amar?
sempre,e até de olhos vidrados,amar?

Que pode,pergunto,o ser amoroso,
sozinho,em rotação universal,senão
rodar também,e amar?
amar o que o mar  traz à praia,
o que ela sepulta,e o que,na brisa marinha,
é sal,ou precisão de amor,ou simples ânsia

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito,o cru,
um vaso sem flor,um chão de ferro,
e o peito inerte,e a rua vista em sonho,e uma ave de
                                                                    rapina.

Este é o nosso destino:amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente,de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor,e na secura nossa
amar a água implícita,e o beijo tácito,e a sede infininita.

                                
Um dos mais belos poemas do século XX na minha humilde opinião.Drummond é inquestionavelmente um orgulho para o nosso país,uma glória.

6 comentários:

1

disse...

Amar ... amar ... amar ... nascemos para amar mas não sabemos amar nem a nós mesmos ... fato

Drummond é Drummond né?

bjux

;-)

Ana

6 de abril de 2010 às 11:36
Permalink this comment

1

disse...

Como não amar Drummond?!!!
Beijos!

Mylla Galvão

6 de abril de 2010 às 13:28
Permalink this comment

1

disse...

James,
Amar é mto bom mesmo!
Mas se não ouver respeito entre as duas pessoas, o amor não faz sentdo.
Aí o amor vira dor...

Belo poema de Drummond. Ele era mineiro como eu...

bjs

Carla Martins

6 de abril de 2010 às 17:30
Permalink this comment

1

disse...

Olá, publiquei a segunda parte da entrevista. Passa lá e me fala o que você achou???? :)

Beijos!

Cristina Caetano

6 de abril de 2010 às 23:19
Permalink this comment

1

disse...

Eu amo sem conta, até a minha falta de amor, mas amo.

Beijinhos, querido.

Revistacidadesol

7 de abril de 2010 às 10:37
Permalink this comment

1

disse...

Oi, James.

Drummond derruba a gente, né? Eu quase caí de costas quando li Ausência, aquele poema para a Ana Cristina César. Eu gostaria de ter escrito aquilo.