Filme-'Temple Grandin'-de Mick Jackson(2010)

O diagnóstico de uma criança com autismo quase sempre coloca os pais em desespero.E do desespero,perguntam-se:o que faremos agora?O estigma e a incompreensão que cercam o autismo,o modo como a sociedade encara os portadores,indo da piedade ao escárnio,pouco contribui para deixar esses pais mais tranquilos.Porém,mais e mais pais estão se juntando em associações que procuram mutuamente desfazer o pretenso estigma do autismo,querendo dar relevo ao que é realmente o autismo:uma disfunção global do desenvolvimento que 'afeta' a percepção da realidade(entre aspas porque esse 'afeta' se refere aos que não são autistas).O autista percebe e interage com a realidade,mas só que de uma forma diversa dos 'outros'.A maneira de usar o corpo de forma diferente provoca muitas vezes deboche das outras crianças e de pessoas ignorantes.
'Temple Grandin'é a cinebiografia da mulher do mesmo nome,feita para a televisão pela HBO.Temple,nascida em 1947,foi diagnosticada com autismo aos três anos.Sua mãe,inconformada,a manda estudar em escolas regulares.Ajudada pela família e por mentores,Temple(apesar de constantemente ridicularizada na escola por colegas insensíveis),forma-se em Psicologia,tendo mestrado e doutorado em Ciência Animal.Desenvolve um grande trabalho nas redes de proteção e amparo aos autistas,além de criar formas de 'humanização' das condições de abate de animais.
Seria lugar comum dizer que o filme é uma lição de vida.É uma lição de vida pela superação,por um ser humano,de obstáculos imensos,por mostrar,que temos sim,que lutar todos os dias contra o senso comum,que obstrui a sociedade,que nos impõe tantas vezes uma venda nos olhos.Temple Grandin é uma vitoriosa,não por ser uma pessoa realizada(só),mas por ter,contra todas as expectativas,realizado seu potencial como ser humano.
Fantasticamente dirigido por Mick Jackson,'Temple Grandin' levou,entre outros o Emmy de melhor filme para a televisão,e melhor atriz para Claire Danes.O trabalho de Danes é impactante,minucioso,um trabalho de grande atriz,procurando captar nos menores gestos,a Temple Gradin real.Merecidíssiomo prêmio para Danes,que prova que é sim,uma ótima atriz,madura,pronta para desafios como interpretar uma pessoa complexa como Temple Grandin.
Um grande filme,que nos faz questionar os 'comportamentos adquiridos',ou o 'que/quem é normal',passando pela pretensa idéia humana de sermos superiores aos animais por sermos mais inteligentes.

Música-Duran Duran -Come Undone




My immaculate dream, made of breath and skin.
I've been waiting for you.
Signed with a home tattoo.
Happy birthday to you, was created for you.


Can't ever keep from falling apart at the seams.
Cannot believe, you're taking my heart to pieces.


Oh, it'll take a little time, might take a little crime to come undone.
Now we'll try to stay blind to the hope and fear outside.
Hey child, stay wilder than the wind, and blow me in to cry.


Who do you need, who do you love, when you come undone?
Who do you need, who do you love, when you come undone?


Words, play me deja vu, like a radio tune I swear I've heard before.
Chill, is it something real, or the magic I'm feeding off your fingers?


Can't ever keep from falling apart at the seams.
Cannot believe, you're taking my heart to pieces.


Lost in a snow filled sky, we'll make it alright to come undone.
Now we'll try to stay blind to the hope and fear outside.
Hey child, stay wilder than the wind, and blow me in to cry.


Who do you need, who do you love, when you come undone?
Who do you need, who do you love, when you come undone?
Who do you need, who do you love, when you come undone?


Can't ever keep from falling apart.
Who do you need, who do you love, when you come undone?
Can't ever keep from falling apart.
Who do you need, who do you love?
Can't ever keep from falling apart.
Who do you love, when you come undone?
Can't ever keep from falling apart..


Meu sonho imaculado, feito de fôlego e pele
Eu estive esperando por você
Marcado com uma tatuagem caseira
Feliz aniversário para você, foi criado para você

(Não consigo evitar entrar em crise
Não consigo acreditar, que você esteja deixando meu coração em pedaços)

Oh,vai levar um tempo, talvez até um pequeno crime para desmoronar
Agora, nós tentaremos ficar cegos para a esperança e o medo lá fora
Hey criança, fique mais selvagem que o vento e arrebata-me para o choro

De quem você precisa, quem você ama, quando você desmoronar?
De quem você precisa, quem você ama, quando você desmoronar?

Palavras,brincando comigo de 'deja-vu',como uma sintonia de rádio,eu juro que já ouvi isso antes
Arrepio,isso é algo real, ou a mágica que eu estou me alimentando dos seus dedos?

(Não consigo evitar entrar em crise
Não consigo acreditar, que você esteja deixando meu coração em pedaços)

Perdidos num céu preenchido de neve nós faremos isso certo para desmoronar-mos
Agora,nós tentaremos ficar cegos para a esperança e o medo lá fora
Hey criança, fique mais selvagem que o vento e arrebata-me para o choro

De quem você precisa, quem você ama, quando você desmoronar?
De quem você precisa, quem você ama, quando você desmoronar?
De quem você precisa, quem você ama, quando você desmoronar?

Não consigo evitar entrar em crise
De quem você precisa, quem você ama,quando você desmoronar?
Não consigo evitar entrar em crise
De que você precisa, quem você ama?
Não consigo evitar entrar em crise
De quem você precisa, quem você ama, quando você desmoronar?
Não consigo evitar entrar em crise


Manifesto Pelo Casamento Igualitário-Carta aberta aos candidatos brasileiros

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To:  Candidatos das eleições 2010Carta aberta aos candidatos brasileiros – Manifesto Pró-Casamento Igualitário no Brasil

Senhoras e Senhores Candidatos,

Por meio desta carta-manifesto, nós, abaixo assinados, viemos reivindicar aos candidatos concorrentes no pleito de 2010 e perante a sociedade brasileira a aprovação urgente, no Brasil, do chamado casamento gay, melhor definido como casamento igualitário. Conclamamos que candidatos e cidadãos brasileiros aproveitem o processo eleitoral para refletir seriamente sobre o assunto.

Nós, sejamos lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros ou heterossexuais, somos apoiadores de um direito básico do qual todos os brasileiros devem ter neste país: a Igualdade Civil. Por isso, defendemos que o casamento igualitário, recentemente aprovado na Argentina, o seja também no Brasil. Não pensamos que tal medida seja radical ou subversiva, assim como não pensaram ser radicais aqueles que instituíram o divórcio ou o sufrágio secreto e universal em nosso país. Trata-se simplesmente de uma questão de igualdade civil e justiça democrática. Os conservadores devem aceitar que o Brasil é uma República Laica desde 1889, ou seja, há mais de 100 anos. Também repudiamos veementemente a proposta de se fazer um plebiscito sobre a União Civil Gay. Pensamos que a proposta, mesmo travestida de “democrática”, é cruel, humilhante e degradante com a população LGBT.

As razões para que o casamento igualitário seja aprovado no Brasil são muitas. Entretanto, o principal argumento é que somente esta reforma no código civil daria igualdade legal entre cidadãos com orientações sexuais diferentes da heteronormativa.

Esperamos, com esta carta-manifesto, fazer com que todos os candidatos do Brasil e a sociedade em geral entendam a gravidade da situação de exclusão civil, social e de direitos humanos em que se encontra grande parte da comunidade LGBT – estimada por especialistas em aproximadamente 10\% da população brasileira. Queremos chamar a atenção, especialmente, dos candidatos aos cargos de deputado estadual e federal, governadores, senadores e, principalmente, à Presidência da República, e pedir para que se manifestem claramente, sem hipocrisia, sobre o assunto.


Todas as mulheres e homens são iguais perante a lei

A Constituição Federal Brasileira, desde 1988, garante que todos os brasileiros são iguais perante a lei, portanto, têm os mesmos direitos e deveres. Em seu artigo 5º, a Carta Magna afirma: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, (...)”

Os cidadãos homo, bi e transexuais cumprem os mesmos deveres que os heterossexuais para com a República, são obrigados a votar, a servir militarmente à pátria (no caso masculino), a pagar os impostos etc. Todavia, a elas e eles ainda são negados, por parte do Estado, vários direitos básicos, como a igualdade civil e jurídica e mesmo a garantia e manutenção de sua integridade física. Direitos básicos estão comprometidos no país, como a garantia à segurança e à vida nos casos de atentados homofóbicos, a que costumeiramente estão expostos os LGBTs em seu dia-a-dia. No Brasil ainda se faz necessária a urgente aprovação do PLC-122, que criminaliza a discriminação por orientação sexual, como em todas as nações modernas do mundo. Não fazê-lo é ser conivente com os assassinatos de gays, lésbicas e transgêneros que acontecem a cada dois dias no Brasil.

Além das violações diárias de seus direitos, os cidadãos LGBTs são, ainda, discriminados pelo Estado brasileiro. Ao não equiparar os direitos civis entre heterossexuais e homossexuais, o Estado fere a isonomia republicana, deslegitimando sua própria base jurídica. Inclusive, com isso, ainda fortalece as pretensões daqueles que querem continuar a discriminar e excluir “legalmente” uma parcela da população brasileira - a LGBT.

Entre os objetivos declarados na Constituição da República Federativa do Brasil, em seu artigo 1º estão: “II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; (...)”. Percebe-se, claramente, que estes dois valores ainda são aviltados a gays, lésbicas, bissexuais e transexuais ao terem negados os direitos civis relacionados ao casamento e a constituição de família.

Sem a equiparação dos direitos civis entre homossexuais e heterossexuais, a legitimidade republicana deve contestada, afirmando a injustiça formal existente no Brasil. Para que essas diferenças sejam progressivamente resolvidas, é necessário que, ao menos legalmente, todos sejam considerados iguais, sem qualquer distinção, inclusive aquelas motivadas pela orientação sexual. O Estado não pode ser agente desta distinção, e por isso, deve urgentemente reconhecer a existência legal das famílias homoafetivas.

A aprovação do casamento igualitário seria a correção da injustiça civil relacionada aos direitos dos cidadãos LGBTs de constituírem família e possuírem os mesmos direitos civis e familiares que os heterossexuais. Somente a aprovação da união civil entre pessoas do mesmo sexo não se justifica mais na atual conjuntura política e histórica. Além de estabelecer uma evidente separação entre aqueles que deveriam ser constitucionalmente iguais, os direitos limitados por ela concedidos já foram, em parte, contemplados pelas inúmeras decisões do poder judiciário brasileiro, ou concedidas por decisões administrativas de órgãos federais (Receita Federal etc) e empresas públicas (Caixa Econômica etc) e privadas.

Ou seja, somente o casamento igualitário estabelece a isonomia civil de direitos republicanos, sem criar diferenças. Pensamos que a não-equiparação de direitos civis ou a manutenção da desigualdade legal entre todos os cidadãos é tão grave que abre precedente perigoso para garantia da manutenção e da legitimidade do regime constitucional brasileiro.


O Brasil é um Estado Laico

O Brasil também se afirma constitucionalmente como uma democracia que prima pela liberdade de pensamento. Para garanti-la, determina a separação entre Estado e Igrejas: O Art. 19 da Constituição Federal proíbe à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios "estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público", e também “criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si”.

Apesar dessa clara norma legal, muitos eleitos, principalmente deputados e senadores, e funcionários públicos não respeitam essa separação entre Estado e Igreja(s), provavelmente por não entenderem o que é um Estado Laico. O laicismo, princípio que rege a base teórica das leis brasileiras, é uma doutrina filosófica que defende e promove a separação do Estado das igrejas e comunidades religiosas, assim como a neutralidade do Estado em matéria religiosa. A palavra "laico" é um adjetivo que significa uma atitude crítica e separadora da interferência da religião organizada na vida pública das sociedades contemporâneas.

Entretanto, alguns grupos religiosos conservadores impõe seu pensamento na forma de lobbies político-religiosos, obrigando o conjunto da sociedade a aceitar seus conceitos estritamente religiosos, regulando leis e ditando padrões de comportamento beseados na religião. Um bom exemplo é como os grupos religiosos, sobretudo católicos e neopentecostais, pretendem obrigar a grupos que não confessam seus preceitos a viver de acordo com suas normas e dogmas. Neste caso, eles violam a Constituição pretendendo enfraquecer a exigência do Estado Laico.

Duas modificações importantes instituídas a partir da declaração da laicidade do Estado foram a a criação do Casamento Civil (coexistindo a partir de então com o Matrimônio religioso) e a adoção do Registro Civil de Nascimento (que substitui o Registro de Batismo).

A lei de igualdade civil da qual os brasileiros LGBTs clamam pela aprovação quer ampliar os direitos ao casamento civil. Importante reafirmar que não cabe aqui nenhuma exigência que altere o matrimônio religioso ou que pretenda obrigar as doutrinas a incluir o casamento gay. Isto porque o Estado laico funciona em duas vias: nele não cabe nenhuma interferência religiosa, mas ele também se abstém de decisões que afetem qualquer religião. Não cabe ao Estado brasileiro decidir sobre como a Igreja Católica, por exemplo, casa seus fiéis: só a Santa Sé, no Vaticano, tem esta prerrogativa. Contudo, ao Estado brasileiro cabe proteger todos os seus cidadãos de todas as formas que possam cercear seu direito a liberdade.

O casamento civil é um direito que somente a parcela heterossexual da população brasileira possui. O clamor entre os indivíduos homossexuais, bissexuais e transexuais da República é para que este direito seja ampliado a todos, sem distinções. Assim, não haverá desigualdade jurídica instituída.

Pode-se constatar que o “argumento” mais poderoso contra o casamento gay origina-se do meio religioso, e começa sempre com citações da Bíblia Sagrada. Entretanto, esse discurso não serve como argumento quando se discute políticas públicas, leis e modelos de Estado. Em um Estado laico e democrático, crenças religiosas não podem, em absolutamente nenhuma circunstância, ser incluídas entre elementos formadores do pensamento legislador ou público. Nessas condições, nenhum preceito de base religiosa tem qualquer legitimidade na configuração normativa de leis, códigos ou regulamentos estatais.


Formar família é para poucos?

Um argumento comum dos setores conservadores contrários ao casamento é o de que um casal homossexual não forma uma família. Retrocedendo historicamente, também o modelo de família que se vê hoje em dia (homem, mulher e filhos) pode ser datado como posterior a Segunda Guerra Mundial (isto é, a partir da década de 1950). E isto somente se falarmos do ocidente.

A antropologia e a sociologia comprovam que, fora do mundo ocidental, ainda hoje, o modelo de família pode ser muito distinto do que se convencionou chamar de família. Já no ocidente, mais de 38 tipos de família coexistem hoje nas sociedades urbanas. O “modelo” de família não é unívoco mesmo no mundo ocidental: famílias de mães ou pais solteiros; divorciados que casam-se novamente e reúnem seus filhos, os filhos do cônjuge e os nascidos desse casamento; famílias formadas por pessoas que, na verdade, não têm nenhum parentesco sanguíneo. O modelo de família é extremamente mais amplo do que o texto da lei brasileira permite afluir.

Outro argumento contrário ao casamento gay é o de que duas pessoas do mesmo sexo não podem gerar filhos e, portanto, não podem per si constituir família. Este argumento, se for levado a sério, excluiria também os casais heterossexuais que, por um motivo ou outro, também não geram filhos. Casais estéreis ou casais idosos não deveriam mais constituir uma unidade familiar perante a lei. Isto absolutamente não faz sentido. Até porque a lei brasileira prevê o caso de adoção. Crianças são abandonadas por inúmeros motivos em abrigos e protegidas pelo Estado, e podem ser adotadas por estes casais heterossexuais que não podem gerar filhos. Porque não pelos casais homossexuais?

Outra afirmação usada contra a família homoafetiva é dar uma natureza “transviada” à relação de duas pessoas do mesmo sexo, crendo que os indivíduos não forneceriam bons modelos para a formação de uma criança. Argumenta-se que esta “má influência” seria prejudicial ao desenvolvimento destas jovens mentes.

Há os que sentenciam que o filho de um homossexual teria o mesmo comportamento afetivo sexual, ignorando aqueles que são frutos de lares heterossexuais. Com esse enunciado, nega-se outro direito aos gays: a adoção, em conjunto, de uma criança.

Os candidatos a cargos públicos devem a todos os cidadãos, no mínimo, um posicionamento claro sobre estas questões. Isso é fundamental para que a democracia possa tornar-se mais do que uma bela palavra.

Brasil, agosto de 2010
Sincerely,
The Undersigned

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Poesia-"Despedida" de Cecília Meireles(1901-1964)

Vais ficando longe de mim
como o sono,nas alvoradas;
mas há estrelas sobressaltadas
resplandecendo além do fim.

Bebo essas luzes com tristeza,
porque sinto bem que elas são
o último vinho e o último pão
de uma definitiva mesa.

E olho para a fuga do mar,
e para a ascensão das montanhas,
e vejo como te acompanhas
-para me desacompanhar.

As luzes do amanhecimento
acharão toda a terra igual.
-tudo foi sobrenatural,
sem peso de contentamento,

sem noções do mal nem do bem
-jogo de pura geometria,
que eu pensei que se jogaria,
mas não se joga com ninguém.

(Para H.)

Madonna e Lady Gaga-Aproximações/Distâncias

Madonna surgiu em 1984 em pleno advento da era do videoclipe(assim como Michael Jackson).A Madonna de 'Borderline' dificilmente sugeriria uma cantora que tem se mantido em evidência por 26 anos,e é sem dúvida,um dos ícones da nossa época.E Madonna passou por várias fases,todas devidamente estudadas e orquestradas para chamar o máximo de atenção e trazer a maior publicidade possível.Mas é claro nunca teria ido longe se não fossem dois detalhes:inteligência e talento.
Lady Gaga é o produto de um novo tipo de mídia:aquela da era da Internet,que faz e desfaz em questão de meses,de semanas,de dias.E a moça tem se sustentado bem.Embora sua música não seja(ainda?) o que se possa qualificar de boa,seus vídeos são criativos e intensos.
Preâmbulos:
Gaga-sua colagem visual é mais fragmentada,mas também mais inócua.
Madonna-Evoluiu dos vídeos rasteiros de pin-up suburbana(como uma Marilyn reciclada e mais pop),passou pelo erótico-chique (ou 'porn-soft')de "Erotica" .Em 1990 causou grande escândalo com o livro de fotos também chamado Erótica(e com o documentário-"Na Cama com Madonna").O livro é tudo,menos erótico:as fotos são de uma sofisticação pseudo-decadente,estudada demais,e a encenação monocromática e algo forçada da cena S/M não passa nenhuma sensação de realidade-é um teatro estático,sem vida.
Mas grandes obras de Madonna surgem na virada dos anos 90:as grandes canções do álbum "Ray of Light" e alguns vídeos fabulosos como "Frozen","Ray of light" e a impressionante obra-prima "Bedtime Stories"(que é do álbum do mesmo nome).
Parêntese-Em ambas as cantoras é evidente a influência de um certo imaginário pornográfico gay(que em Madonna tem sutilezas e gradações-do mais chocante lugar comum ao sublime) e em Gaga transmuta-se muitas vezes na encenação do clichê,como em "Alejandro"( ou "Telephone"),com seu pesado cenário pseudo S/M,seus rapazes bombados e paramentados de couro negro,e o cenário rebuscado,pesado demais.E é até engraçado que Gaga ache 'blasfemo(?)" fantasias usando rosários e símbolos religiosos-nada mais antigo(Confiram a própria Madonna,Sade,Genet,os 'libertinos' do século XVIII).
Muito tem se falado da influência da cineasta alemã Leni Riefensthal no trabalho tanto de Madonna quanto de Lady Gaga.Riefensthal,que encenou com maestria os delírios do nacional-socialismo,e foi a diretora querida e preferida de Hitler e do sinistro Goebbels(o mentor do holocausto),hoje caminha para a quase canonização,passada uma borracha conveniente em seu passado de colaboração com o nazismo.A cineasta alemã que(apesar de seu passado)é uma grande diretora,promoveu em seus filmes(especialmente "Olympia" e "O Triunfo da Vontade") a glorificação da raça ariana,com seus homens e mulheres supostamente perfeitos(essa glorificação não existe na obra de Madonna e Gaga).É na glorificação de um ideal estético(não racista) que reside um ponto comum à videografia das duas cantoras.O que em Madonna é sempre sugerido,nunca sendo o foco,nos vídeos de Gaga torna-se o ponto central.Os filmes de Leni Riefensthal são pornográficos não por exibirem sexo gráfico(não há qualquer imagem dessa natureza),mas sim por pregarem a submissão dos corpos a um outro(no caso a um líder político-Hitler).Os corpos dos filmes de Riefensthal  não são os corpos reais,submetidos à realidade,portanto à decadência física,ao sofrimento,à morte,ou pelo menos à imperfeição corriqueira.São corpos fora do tempo,fora do real e portanto,meros símbolos de coisas,de idéias.A humanidade não é uma idéia monolítica,não é composta de top-models ou atletas malhados/bombados(esse é um tipo de imaginário que divide o mundo em duas absurdas/hiper-hipotéticas categorias:os 'muito belos' e os 'comuns ou feios(ou velhos,ou muito magros,etc)-como se essa realidade  fosse realmente possível,dada à  quase infinita e maravilhosa variedade dos seres humanos.A beleza em Riefensthal e em Gaga é pornográfica devido a essa 'coisificação' do ser humano,à insistência em estabelecer um suposto padrão estético,gerando um mundo que plana além do real,um mundo ideal(mas um ideal eminentemente perverso).Madonna foi sempre muito mais esperta e inteligente,e porque não brilhante,nesse aspecto.A narração em seus vídeos é quase sempre linear,embora nunca de maneira óbvia ou gratuita.As imagens são eloquentes,elas 'falam',exercem uma autoridade,ilustram idéias e conceitos e também buscam uma interpretação,uma mediação.Se há uma narração nos vídeos de Gaga,ela é fragmentada(o que é supostamente moderno),mas fragmentada não devido a um artifício artístico,mas  porque é a força da própria imagem em si e somente ela,que parece importar.As letras das canções de Lady Gaga são artísticas e estilisticamente pobres,redundantes,não se buscando qualquer outro significado(como Madonna nos anos 80),e indo além,as imagens impactantes estão ali inclusive para mascarar a ausência de conteúdo,para se contrapor à deficiência das palavras.assim,as palavras como que descem a um outro nível ,enquanto as imagens,de um hiper-realismo alucinatório são o único suporte.
A contestação radical dos costumes,que começando de forma explosiva nos anos 60,chegou até nós,teve desdobramentos específicos à  medida em que a indústria cultural foi capaz de assimilar e reciclar(assim aniquilando como sentido)a rebeldia autêntica e sincera em produto,(especialmente em produto midiático).Dois fatores parecem ter transformado o relacionamento indústria cultural /costumes de uma maneira absolutamente inesperada:o surgimento da epidemia de AIDS nos anos 80 e o triunfante advento da Internet.

É nesse cenário que se desenrolou a trajetória de Madonna e o no incerto(em todos os sentidos)quadro desse início esquizofrênico  do século XXI em que Gaga pode ou não decidir-se(ou ser decidida)a ser realmente,uma grande artista,alguém que tem algo a dizer que não sejam só balbucios estereotipados.

Porque não vou parar(de escrever nesse blog)

Quando comecei esse blog(depois de duas tentativas infrutíveras),minha proposta foi(e ainda é),falar do que amo e respeito em literatura(muito),cinema(bastante) e política(alguma coisa).
Muito cedo,constatamos alguns fatos na blogosfera,que gostemos ou não,parecem ser pontos-chave:se não comentamos em outros blogs,esses blogueiros não comentarão nos nossos;existe uma pressão para uma suposta ''clareza" nos posts,algo como,não publique resenhas "profundas" ou extensas(porque as pessoas teem preguiça de ler e entender);a maioria das pessoas prefere blogs com 'mensagens' à Augusto Cury(auto-ajuda e quejandos),ou platitudes da vida das celebridades ou garimpagem de vídeos que ridicularizam os outros.Nada contra,a princípio.Talvez por ser de outra geração,ou por ter uma visão de mundo muito pouco 'utilitarista',ou mais libertária,talvez(tendo um horror quase sagrado ao senso comum,ao libertarismo sem ação concreta,à hiper vazia cultura das celebridades) me recuso a isso.É mais fácil dizer que nunca pretendi dar shows de erudição por aqui,mas pura e simplesmente falar do que gosto.
Os comentários rareiam,assim como as visitas dos amigos blogueiros.E o incrível é,que sinceramente,nunca esperei chegar aqui-com um page rank razoável,e um certo respeito.
Talvez por não me inserir em um nicho visível eu supostamente tenha perdido.Não creio.Não tenho nicho.Não quero rótulo.Todo mundo que me acompanha aqui e no twitter sabe um pouco da minha vida,da minha orientação sexual,dos meus posicionamentos políticos,enfim,da minha visão de mundo.
Quantos blogs às vezes leio que destilam o preconceito que juram combater?Quantos nivelam a cultura a Paulo Coelho e afins?E assim,continuarei aqui,"à moda antiga" falar da importância da literatura em nossa vida,da beleza(não do simulacro dela),dos filmes que são marcantes para mim,da política sem a qual não vivo(porque tudo é política nessa vida).Obrigado,meus amigos.
Quero também agradecer a esses queridos amigos que conheci na blogosfera:seu apoio e sua compreensão são muito importantes:Vanessa Anacleto,Paulo Braccini,Cris Caetano,Luciano Santos,Marcelo Moraes,Luma Rosa,Mauri Boffil,Waldeir Almeida,Alexandre Lucas,Serginho Tavares.Um beijo a todos.
E esse blog continua,sim.

All We need is love


E tudo nos será acrescentado,certamente.