Desde que surgiu Harry Potter pelas mãos geniais de J.K.Rowling ,não tem também cessado de crescer uma certa patrulha ideológica(?),que tenta desmerecer o trabalho da escritora inglesa.Essa patrulha cresce e vive entre certos ressentidos das redações dos grandes jornais e claro,entre os papais-sabem-tudo acadêmicos(o americano Allan Bloom chamou a saga de Harry Potter de "idiotice sistemática").Ao contrário do que esses pensam,creio que a saga de Harry Potter é uma das grandes obras-primas da literatura juvenil e de fantasia.E ao contrário de certas celebridades e artistas de quinta que ganham fortunas,o fato de que Rowling tem uma fortuna calculada em US1 bi é totalmente justificada aqui:o talento mereceu cada centavo.
Os dois primeiros filmes da saga;"A Pedra Filosofal"(2001) e "A Câmera Secreta"(2002) são ainda um tanto quanto ingênuos(Harry tem 12,13 anos então).Foi a partir do ótimo "O Prisioneiro de Azkaban"(2004),que seguindo a tendência dos livros,os filmes foram se tornando mais maduros,menos infantis,e os diretores começaram a ver que Harry Potter poderia ser também sinal de um excelente cinema.Foi em 2005 que foi lançado o "Cálice de Fogo",até ontem,meu filme preferido da série.Com a definitiva volta de Voldemort,a história ganhou contornos mais escuros,mais trágicos."A Ordem da Fênix"(2007) mostrava a definitiva intromissão do "fascismo bruxo" no mundo da magia e o começo de uma resistência a esse poder-destaque para Imelda Staunton como a pavorosa e grotesca Dolores Umbridge.A verdadeira história do Lorde das trevas é contada em "O Príncipe Mestiço"(2009),assim como ficamos sabendo das horcruxes,os objetos nos quais Voldemort escondeu parte de sua alma,para que se tornasse imortal.
"As Relíquias da Morte,parte 1 é o "road-movie " de Harry,Hermione e Ron depois da tomada de poder de Voldemort e dos comensais da morte.Definitivamente,o filme se torna escuro,denso,angustiante mesmo:o medo paira no ar.
"As Relíquias da Morte,parte 2" foi um dos filmes mais aguardados dos últimos tempos.E prova que os últimos filmes não são,definitivamente para crianças.Ontem fui assistir ao filme em 3-D em uma sala lotada e ansiosa,não só de adolescentes e jovens,mas também de adultos.E o filme cumpre plenamente sua promessa de obra prima.O tom épico,monumental mesmo,a fotografia alternando luz e sombra,a edição ao mesmo tempo ágil e intimista e as interpretações do elenco tornam o último Harry Potter um biscoito dos mais finos.
O mundo bruxo tornou-se uma ditadura sangrenta,um fascismo incidioso domina tudo,a raça "inferior" os bruxos nascidos trouxas,são condenados à tortura atroz a à morte,a sociedade é controlada pelo terror.Todos os pesadelos do mundo moderno,enfim,da história humana:a coisificação do ser humano,a opressão de pessoas ditas "inferiores",o desprezo pela diferença,a escravidão e a colonização da mente humana estão presentes no belo filme de David Yates.
A fina flor do teatro inglês marca presença(pena que Kate Winslet esnobou o filme-quem perdeu foi ela).Helena Bonham-Carter(Belatriz Lestrange) arrasa em grande estilo como sempre.Maggie Smith(Minerva) mostra porque é uma atriz de primeiro time.Mas é Alan Rickman(Snape) que dá um show.Seu Severo Snape é mais que nunca atormentado e infeliz.Em uma sequência belíssima,somos levados à infância de Snape e seu grande amor pela mãe de Harry,Lilian Potter.Rickman deveria ser indicado ao Oscar,no mínimo.
E o estupendo Ralph Fiennes faz um Voldemort totalmente operístico,intenso,de uma intensidade ao mesmo tempo eloquente e silenciosa.Destaque também para Daniel Radcliffe que tornou-se um ator de verdade,capaz de nos passar a angústia profunda de Harry Potter,assim como sua coragem e determinação.
Destacamos a sequência do Gringots,e a batalha de Hogwarts,com seus desdobramentos emocionais tão profundos.
Um filme que vai ficar,um filme para amar.
Cinema-Harry Potter e as Relíquias da Morte,Parte 2
Poesia-"O mundo que venci deu-me um amor" de Mário Faustino(1930-1962)
O mundo que venci deu-me um amor
Um troféu perigoso,este cavalo
Carregado de infantes couraçados.
O mundo que venci deu-me um amor
Alado,galopando em céus irados,
Por cima de qualquer mundo de credo,
Por cima de qualquer fosso de sexo.
O mundo que venci deu-me um amor
Amor feito de insulto e pranto e riso,
Amor que força a porta dos infernos,
Amor que galga o cume ao paraíso.
Amor que dorme e treme.Que desperta
E torna contra mim,e me devora
E me rumina em cantos de vitória...
O fabuloso Mário Faustino continua um dos melhores poetas do Brasil.Assim como continua restrito a uma "elite" intelectual.Homofobia de certos círculos acadêmicos?Ignorância pura e simples?Talvez seja porque Faustino(assim como o sublime Alexei Bueno) não se enquadre nos parâmetros anti-intelectuais de uma auto denominada "vanguarda" literária brasileira que tem por hábito incensar mediocridades.
Mas a poesia do piauiense Mário Faustino está e é cada vez mais lida.Um dos nossos maiores poetas,sem mais nem menos.
Confesso que do conjunto de expressões criadas pela turma do "mercado",alguns até me horrorizam como "capital humano".A linguagem metafórica dos "Departamentos de Relações Humanas" refletem muito bem o momento que passa boa parte da humanidade-momento esse bem longe das metáforas.
A atual crise sistêmica,baseada em uma escala exponencial de especulação e precarização do trabalho(e consequentemente dos salários) consome o mundo.E continuamos a ouvir os arautos da entidade mercado gritarem:"mais flexibilização das leis trabalhistas","menos direitos sociais"!Assistimos agora na Europa,à luta do povo contra os governos aliados do capital transnacional.Irlanda,Grécia,Portugal (e agora a Itália)passam por arrocho histórico,com diminuição drástica dos direitos sociais e sua rede de proteção,obedecendo aos ditames do Banco Central Europeu e do famigerado FMI.Desses países,a Grécia é o que mais sofre-há diminuição de salários,do salário-desemprego,corte de aposentadorias,enfim todas as mazelas preconizadas pelo "mercado" para que meia dúzia de bancos "não percam dinheiro".O sistema de amparo social que o povo europeu conseguiu após a segunda guerra mundial foi algo sem precedentes na história da humanidade e creio que logicamente ,não vão querer entregar tudo ao "mercado" em um piscar de olhos.A luta está só começando,e essa luta dos europeus tem que servir de lição a todos nós-não nos deixemos enganar.A turminha do mercado financeiro não está nem um pouco interessada no ser humano em si,e sim,no que ele venha a valer ou consumir,simplesmente.É preciso não nos deixarmos enganar pela linguagem cifrada,repleta de metáforas óbvias e toscas da "banca".A demonização de toda e qualquer crítica a esse estado de coisas já é bastante conhecida.
E no Brasil,o que temos a construir ainda é uma rede mais ampla de proteção social(ao contrário do que dizem os adeptos do "vale-tudo" financeiro)-semana de 40 horas,aumento do tempo de seguro-desemprego,do salário real,melhoria do sistema de sáude pública.O estado do bem estar social nunca foi uma utopia,é a evolução mesma da humanidade.E nisso acredito firmemente."E la nave va"...Vamos ver se a humanidade reagirá à altura com os querem destrui-la.
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A Roma de Hollywood sempre mostrou uma Roma ideal do que a cidade real,o Império real.Os romanos nos filmes e séries americanos costumam ser muito mais uma espécie de "alter ego" dos cidadãos do "Império Americano".A cidade grandiosa com seus templos de mármore branco,os fóruns monumentais,os palácios imperiais,a vasta multidão cosmopolita e o "pão e circo" cotidianos,nunca é mostrada em seu lado sinistro,obscuro-o máximo que nos é permitido ver são as atrozes lutas e penas da arena.Acrescentemos aos filmes pitadas de aventura,melodrama familiar,romance a sexo,e pronto,temos um filme sobre Roma à moda americana.
Grandes filmes foram feitos assim:"Júlio Cesar"(1953-de Joseph Mankiewicz),"A Queda do Império Romano"(1964-de Anthony Mann),"Gladiador"(2000-de Ridley Scott) assim como séries tão intensas e de alto nível como "Eu,Claúdio"(BBC-1976) e "Roma"(HBO-2005)."Júlio César",baseado na peça de Shakespeare(e bastante fiel a ela),é uma obra prima do cinema com interpretações soberbas(e hoje raramente vistas)-um fascinante estudo do poder e sua embriaguez assim como da vingança."Eu,Cláudio",considerada por muitos a melhor série histórica de todos os tempos,é baseada no livro já clássico de Robert Graves-"Eu,Cláudio,Imperador"Estrelada por atores ingleses e irlandeses shakesperianos a série hoje é cult total.
Todos esses filmes e séries se voltam para a análise da voracidade da luta pelo poder,a corrosão implacável que traz qualquer poder "absoluto"e as consequências trágicas da perda do controle sobre si mesmo.Mas "Roma" trouxe além disso,a visão de uma Roma que jazia oculta,aquela dos "humilhados e ofendidos"",de sua "não-vida",como meras marionetes de um jogo de poder que apenas queria se utilizar deles e depois descarta-los na primeira oportunidade.A trama se inicia em 49 A.C. no final da campanha de Júlio César na Gália e narra a vida de dois legionários:Lucius Vorenus(Kevin McKidd) e Titus Pullo(Kevin Stevenson).A vida dos dois legionários se entrelaça nos acontecimentos que mudaram a vida de Roma e do mundo de então.
A reconstrução da Roma dos "desafortunados" é no mínimo,de um impressionante detalhismo.Todas as pequenas misérias cotidianas são vistas-as ruas imundas,os prédios decrépitos,os becos escuros,as "ínsulas" paupérrimas da cidade com seus habitantes aglomerados como ratos.E a criminalidade,a venalidade dos poderosos,a prostituição onipresente,a violência endêmica.E tudo isso magnificamente contrastado com as magníficas casas da nobreza romana com seu enorme grupo de escravos,que tratados como "coisas",assistiam a tudo(tudo mesmo) como se fossem uma pilastra da casa.
Acompanhando o fim da República Romana (com a ascensão de César) e o início do Império com Otávio Augusto,"Roma" é um melodrama assumido e de primeira,com cenários fabulosos(filmado principalmente na Cinecittá-Roma),ótimos diálogos,direção geral firme de Michael Apted e interpretações maravilhosas do elenco,em sua maioria anglo-irlandês-destacando o show à parte de Ray Stevenson (Titus Pullo),Polly Walker(Atia),os fenomenais David Bamber(Cícero) e Lindsay Duncan(Servilia)e o ótimo Max Pirkis,que aos 14 anos arrasa como o jovem Otávio Augustus.Uma ótima opção para quem se interessa por Roma e por sua história.
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Confesso que sempre tive dúvidas em relação ao quanto as pessoas gostariam de ler posts sobre livros que nem muitos leram e sobre filmes que poucos viram.Mas descobri,maravilhado que sim,muitos sempre nos visitaram e generosamente fizeram questão de deixar suas impressões.
Nos últimos seis meses(ou mais) este blog meio que foi abandonado,por motivos pessoais-(há momentos na vida que precisamos nos focar em prioridades).Mas enfim,voltamos à blogosfera(que em suma nunca abandonamos) com prazer e muita disposição.Vocês podem ver que o "agora" sumiu do nome que agora,com domínio próprio passa a ser "www.minhaliteratura.net".
Obtrigado a todos que nesses três anos nos teem dado força e nos prestigiado.Beijo grande.
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