Para ver-"Carrington" de Christopher Hampton(1995)


Quando em 1905,Thoby,o irmão mais velho de Virginia Woolf,levou seus amigos da Universidade de Cambridge para jantar na casa de suas irmãs(Virginia e Vanessa)em Londres,nunca imaginou que nasceria ali o famoso Grupo de Bloomsbury (o bairro londrino onde se localiza o Museu Britânico).Entre esses amigos,se destacava pelo brilhantismo intelectual e pela excentricidade o futuro escritor Lytton Strachey(1880-1932).
O Grupo de Bloomsbury se destacou pelo talento de seus membros,por sua estatura intelectual,pela amplitude de horizontes e visão.Dele emergiram a grande Virginia Woolf,o economista John Maynard Keynes,Lytton Strachey,os pintores Vanessa Bell e Duncan Grant,os críticos de arte Clive Bell e Roger Fry,entre outros.
O que o grupo de Percy e Mary Shelley e Lorde Byron haviam sido no começo do século XIX para a Inglaterra,o Grupo de Bloomsbury foi no início do século XX,ou seja:a vanguarda intelectual,artística,comportamental e sexual de sua época.Paulo Francis diz que até hoje causariam espanto.Eram quase todos bissexuais,quase todos casados,isso em uma época em que o processo de Oscar Wilde estava ainda recente e qualquer tipo de comportamento alternativo era tido como abominação.Virginia woolf casou-se com o editor e escritor Leonard Woolf,e teve casos tórridos com mulheres,especialmente com a aristocrática Vita Sackville-West(o modelo de "Orlando');sua irmã Vanessa,casada com o crítico Clive Bell(com quem teve 2 filhos),viveu depois com o bem resolvido pintor gay Duncan Grant(que sempre teve outros relacionamentos com homens)e tiveram uma filha,Angelica.Mas a história mais diferente,mais original,aconteceu entre Lytton Strachey e a pintora Dora Carrington.Os dois se conheceram na célebre casa de campo de Vanessa Bell e Duncan Grant,Charleston,em 1915.Carrington(como gostava de ser chamada),heterosexual convicta,apaixonou-se louca e irremediavelmente por Strachey,iniciando um relacionamento que se estenderia por 17 anos,e só terminaria com a morte de ambos(com dois meses de diferença)em 1932.Carrington casou-se,teve casos;assim como Lytton teve vários relacionamentos mais ou menos duradouros.Mas sempre moraram juntos,amaram-se profundamente,num relacionamento que não incluia relações sexuais.Um amor grande e louco,frente à hiper-hipócrita sociedade britânica da época,que obviamente não conseguia entende-lo.
O diretor inglês Christopher Hampton,também diretor dos maravilhosos"Ligações Perigosas"e "Desejo e Reparação",constroi Carrington com o que realmente foi a sua história-o encontro de um grande amor em circunstâncias insólitas e a decisão firme de levá-lo até o fim,custasse o que custasse.Para que seu filme desse a exata medida das personagens,Hampton precisava de atores à altura.Jonathan Pryce faz ,apesar do lugar comum,um Lytton Strachey "mediúnico",com todo o trabalho corporal de composição baseado numa pessoa real,numa interpretação impressionante que lhe valeu o prêmio de melhor ator em Cannes.Emma Thompson faz uma Carrington atormentada e doce,resoluta e introspectiva,dando como sempre,um show.
"Carrington" é uma obra que nos faz pensar que as coisas tidas como "as normais"na verdade,raramente existem,e o que o sentimento de um ser humano pelo outro é muito mais forte do que às vezes imaginamos,e que o amor toma muitas formas.Um exercício de humanismo em nossa era do cinismo terminal.

7 comentários:

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disse...

James vc sempre surpreendendo ... estava de há muito tentando me lembrar deste filme e não conseguia ... coisa maravilhosa ... adoro o cinema britânico ... sempre austero, de classe, mas sempre forte. Hampton é um dos gênios deste segmento e Emma Thompson não tenho o que dizer desta atriz ... só q é magnífica em tudo q se propõe ... sua conclusão é perfeita querido ... "Um exercício de "

;-)

Carla Martins

16 de setembro de 2009 às 15:48
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disse...

Vou até anotar essa frase...amei: "Um exercício de humanismo em nossa era do cinismo terminal".

beijos e parabéns pela resenha!

Daniel C.da Silva

16 de setembro de 2009 às 15:52
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disse...

Belissima e bem documentada dissertação, com a cereja do filme a adocicar ainda mais o texto. Apenas nao sei se o cinismo é terminal. Oxalá fosse.

Aquele grande abraço, meu amigo.

Alexandre Lucas

17 de setembro de 2009 às 04:40
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disse...

O amor sempre arruma um modo de nos pregar peças...

Valdeir Almeida

17 de setembro de 2009 às 06:36
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disse...

James,

Obrigado pelo texto e pelo e pelo seu texto.

Para mim, a sociedade se chocava com o estilo de vida dos escritores não apenas porque seus comportamentos não eram comuns, mas porque eles eram os grande influenciadores de gerações.

Abraços e boa quinta-feira.

Cristina Caetano

17 de setembro de 2009 às 20:54
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disse...

Enchanté. :)

Beijos, querido.

Mauri Boffil

18 de setembro de 2009 às 10:08
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disse...

vou dar uma olhada na locadora