Something

Whose dwelling is the light of setting suns,

And the round ocean,and the living air,

And the blue sky,and in the mind of man;-

A motion and a spirit,which impels

All thinking things,all objects of all thought,

and rolls through all things.


Algo

Que habita a luz de sóis poentes,

E o oceano redondo,e o ar vivo,

E o céu azul,e a mente do homem;-

Um movimento e um espírito,que impele

Todas as coisas pensantes,todos os objetos de todo o pensamento,

E atravessa todas as coisas.

(William Wordsworth-traduçao de Luiz Carlos do Nascimento Silva)

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Fragmento

Daiane saiu às sete horas.A rua,quente e seca,estava vazia.Insetos zumbiam pelo ar.Caminhava devagar,pisando firme a calçada irregular.E ter que ver Luis de novo,meu Deus!Tudo novamente:a discussão inevitável,a hesitação que a enfurecia,as palavras trocadas em jatos.Como tudo isso a entediava,a lançava num desespero frio.E se as pessoas ao invés de viverem na sofreguidão aparentemente eterna de suas vidas,encontrassem aquele atalho que tanto queriam?
O pulsar frenético de sua vida a cansava.Queria um pouco de dormência,de lassidão.A indolência consentida,os tumultos apagados.No cruzamento com avenida apareceram pessoas:a velha apressada,com uma echarpe enrolada no pescoço,maquiadíssima(o que estaria fazendo ali?),grupos de adolescentes uniformizados,o mendigo habitual da esquina,as mãos sujíssimas,ao lado da caixa -casa de papelão que se desfazia já.E estava indo se encontrar com Luís.Deveria mesmo ter esperado pelos sinos que começavam a tocar em seus ouvidos.Não tinha nenhuma esperança de compreender qualquer sentimento.Sua mente,que não era dessas chamadas inescrutáveis ou poderosas,simplesmente oscilava entre o desprazer do corriqueiro,as cinzas das horas.Não devia esperar nada de Luís que não fosse o reflexo de seu próprio egoísmo,o confronto de vontades refletidas num espelho.
Parou no ponto de ônibus lotado.Mulheres com ar entediado carregavam sacolas de plástico,e ela,pronta para um desenlace qualquer.Poderia cortar então seus fios desconexos com o homem com quem vivera por tantos anos.Mas além de desconexos,esses fios tão finos e filigranados,lentamente se arrebentavam,tão degradados estavam.

(James Penido)

Talvez Virginia

Talvez Virginia
(Jim Anotsu 15 / 09 / 2008)

Jenny e Virginia são garotas anacrônicas,
ficam belas de rosa,mas consideram preto substancialmente melhor.
As garotas nem sempre fazem as coisas certas,mas quando cometem as erradas,
isso é acidentalmente de propósito.

Oh,não!, Jenny; fizemos isso de novo,
com toda a certeza deveríamos nos envergonhar,
e não nos sentirmos tão bem.
É meio tragicômico; uma dramédia para ser sincera,
isso que chamamos de cotidiano trivial.

Um dia tão triste; espero que concorde; e está na minha mão. - somente
porque assim você o quer, senhorita! - Você já sabia da verdade antes mesmo
de vir. - Você precisa ser tão mal humorada ?! - É necessário ser tão desagradável,
ò minha querida ?

Perfumes com cheiro de jasmim;
devemos admitir que são bons nessa época do ano.
Sim, sei disso muito bem, fui eu quem lhe contou.
Não importa o que você diga,
ele sempre me dará o que mereço.
Precisamos de uma solução,
os lençóis estão rasgados!

Espero que se lembre, Virginia,da primeira vez em que nos separamos,
e tivemos que dividir as nossas coisas: o céu, o mar, as estrelas e tudo mais,
não quero passar por isso novamente.
Pelo que me lembro você ficou com o vermelho, que absolutamente é uma cor legal,
e só me sobrou o roxo, que para dizer a verdade é bem cafona!

Um dia muito bom, esse dia de hoje, mui melhor que essa ilusão de amanhã.
Ora, ora, ora; não ria, minha amada! Venha aqui. Dá-me um beijo de boa noite.
O céu está caindo, Adeus, vamos lá, somos imunes à gravidade.

Mas não é necessário nos sobressaltarmos, um chá é sempre e sempre uma boa trégua,
principalmente para duas velhas bicicletas como nós.
Acordem!, hoje é o resto de suas vidas...

MARISA MONTE-DIARIAMENTE-BOA NOITE!

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Já era tarde
e cansaram-se as três de esperar.
Entraram,deixando o jardim ,
seco e escuro na noite.
Uma,enxugava os olhos,
outra,esfalfada,caindo no sofá
a última,trêmula,crispando as mãos

De esperar
juraram que jamais se cansariam.
Mas o jardim já agonizava,
a pintura da casa desaparecia
os móveis apodreciam,
tudo se desmanchava
lentamente


Um dia,uma olhou para as outras e disse
que não esperaria mais
porque se cansara e nada mais fazia sentido;
não havia solução.

Ainda ontem estavam lá no jardim,
de negro as duas,abismadas em esperar.
Pombos faziam ninhos no telhado.
O céu era de um azul intenso e ventava.

(James Penido)

THE CORRS-EVERYBODY HURTS-




O garoto que está estirado numa esteira,em um desses apocalípticos campos de refugiados do Sudão,há um bom tempo já quase não se move.A mãe,esquelética,apática,está deitada a seu lado,os olhos enormes e vazios,os seios murchos.Na vila-favela-acampamento ,uma multidão circula.Há cabanas de pau-a -pique,choças de palha,mas a maioria se estende pelo chão mesmo,num burburinho indistinto,em meio ao calor e aos insetos.Inacreditáveis(por deixarem o conforto da "boa " Europa) profissionais do "Medicos sem Fronteiras"circulam em meio às pessoas,olhando um e outro,fazendo o que podem em meio ao caos.È isso mesmo,a velha palavra:o horror,à la Joseph Conrad via Apocalipse now ate o REAL.



De repente,um ronco de motor.Um avião da cruz vermelha sobrevoa o acampamento.O menino e a mãe viram-se na direção do ruído que deve retumbar em seus ouvidos.A enorme cruz de um vermelho berrante pintada no bojo da aeronave significa uma coisa só :possibilidade de comer,e infundir um mínimo de força em corpos exaustos,inanimados,em mentes estáticas e olhos que já viram o inimaginável.Paraquedas soltam caixas de leite em pó,biscoitos,latas de sardinha;presentinhos do ocidente apiedado e nauseado.


Na idade média,o imaginário ocidental era repleto do horror da vinda do "anticristo",para a formação do "império do mal".As constantes epidemias de peste,a fome crônica,a opressão constante e sistemática dos"poderosos",em nada diferem do que grande parte da Africa têm como cotidiano ,,diante do desinteresse,da apatia da Europa,que hoje,imersa na inércia do consumismo e do mercado total(que parece estar agora desmoronando),simplesmente se atem à rétorica estéril e meia dúzia de passeatas de bem intencionados.


Até o fim do século 18,a miséria e a opressão política e religiosa deram o tom na Europa.As cenas goyescas de um desses manuscritos medievais sobre a peste e a fome são assim:filmes modernos.Um parágrafo qualquer do New York Times ou do Le Monde ,documentários escandalizados de estudantes de Oxford,teses de doutoramento da Sorbonne,tours de celebridades a campos de refugiados,enquanto tiram fotos ,afagam bebês,e correm para tomar o avião de volta.Oh my God!É,o infeno pode ser mesmo aqui.Todos os dias lemos reportagens sobre a miséria da África,horrorizados assistimos ao desfilar dos quase-mortos no jornal da noite,Mas dentro de qual filme essas pessoas realmente se situam?O garoto continua deitado na esteira.E a câmera,em rápidos volteios,mostra as caixas de leite em pó,a lama desses absurdos campos.


Estamos cansados de saber de tudo isso.O ocidente precisa abandonar a retórica,a ganância obscena em que está atolado.Bondade e espiritualidade nada têm a ver com acreditar ou não em deus.É preciso aproveitar esse momento caótico (que acho,mal começamos a viver),para mudar o rumo da nossa espécie,como seres em si,pensar no que queremos realmente nos transformar no futuro.




O MAGICO DE OZ-UMA OBRA PRIMA DA FANTASIA.MAGNIFICENT

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NOÇÕES



Entre mim e mim,há vastidões bastantes

para a navegação dos meus desejos afligidos.


Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.

Cada lâmina arrisca um olhar,e investiga o elemento que a atinge.


Mas,nesta aventura do sonho exposto à correnteza,

só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram


Virei-me sobre a minha própria existência,e contemplei-a.

Minha virtude era essa errância por mares contraditórios,

e este abandono para além da felicidade e da beleza.


Ó meu Deus,isto é a minha alma:

qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,

como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera...

SNOW WHITE-UM POUCO DE FANTASIA E NOSTALGIA.PORQUE NÂO?DURMAM EM PAZ

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Toda manhã leio alguns jornais online,entre eles ,o La Nacion e o Clarin.Gosto muito do La Nacion,apesar do seu aspecto gráfico não ser tão "bonitinho" como o da Folha ou do El País.Pois bem,foi assim lendo o La Nacion todo dia ,que passei a pesquisar na barra de navegação-Brasil",e para meu grande espanto qualquer noticiazinha irrlevante sobre nosso país aparece por lá.Desde reportagen sobre o reaparelhamento das forças armadas até a mais corriqueira banda que toca e Floripa no verão.

Mas o mais estarrecedor(acho que é essa palavra mesmo),foi constatar a visão que hoje os argentinos têm de nós.Durante anos foi repetida ad nauseam a velha história da rivalidade entre os dois países;a todo momento os "jornalões" usam a expressão(que acho que já se tornou ridícula),los hermanos,etc e tal.Os argentinos que comentam (e comentam muito)sobre as notícias a respeito do Brasiltêm uma opinião a nosso respeito que passa longe do nosso velho complexo de vira lata(que infelizmente parece não desaparecer).O Brasil grande potência dos governos militares(que era outra história)está de volta.Mas não na voz dos brasileiros,e sim dos argentinos.A percepção do nosso país é muita vezes vista de modo entusiasta,como garnde potência regional,um país cujo crescimento no mundo(aqui visto como relevância),causa inveja.Acho tudo isso muito significativo.Primeiro porque me parece aque a grande imprensa (e a grande maioria dos leitores)é um só rosário de lamúrias,de desqualificação do País.È claro que temos problemas muito graves ainda (e esse não é meu próposito aqui),mas negar veementemente como temos evoluido como povo e nação.é ser bem-pensante no seu sentido mais provinciano.E convenhamos,nossos vizinhoa sempre tivera uma grande sofisticação cultural(que não significa só Borges e Roberto Arlt).Eles parecem nos devolver a nossa própria imagem de uma outa forma:um real construido de fora para dentro.E vamos mesmo para com todas essas bobagens d rivalidade;deixemos isso só para o futebol.E quem sabe um dia não existirá uam fusão apaixonadamente louca de samba+tango?Já imaginaram?


Segue o teu destino

Rega as tuas plantas

Ama as tuas rosas.

O resto é sombra

De árvores alheias.

A realidade

Sempre é mais ou menos

Do que nós queremos.

Só nós seremos

Iguais a nós próprios.

Suave é viver só

Grande e nobre é sempre

Viver simplesmente.

Deixar a dor nos ares

Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida

Nunca a interrogues.

Ela nada pode

Dizer-te,a resposta

Está além dos deuses.

Mas serenamente

Imita o Olimpo

No teu coração.

Os deuses são deuses

Porque não pensam.


(Ricardo Reis-Fernando Pessoa)

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Eu me pergunto

porque o olhar de Marta

arde como candeia

numa igreja antiga


Não sei mais como gritar

ai,vou consultar cartomante

e quiromante,ler tarô.


Você me devastou,me deixou

esquálido,quadro de São Luis Gonzaga.

A peste ronda e eu grito:não me humilhe

porque preciso te ver com os olhos bem abertos


Marta canta"o amor pregou cravos

no meu coração".

È que ela não conhece as mil luzes

ardendo na noite louca


E assim eu choro,e o tempo passa,

e me joga no chão.

E eu vejo

chaminés da Inglaterra,telhados de Paris.

geleiras do Alaska,boates de Amsterdam,

ruas escuras no mundo,

tempo de dor no planeta.


Ah lótus!

Vênus das pinacotecas

Vou cantarcomo Marta antigamente

"ah esse amor vai me perder"


O que me salva

é digerir a diferença.

Ergo minhas estátuas

longe de seus abraços

enquanto passeio nu pelo pátio

que cobre a nossa distância

de peixes cegos na água escura.


Mas nada é novo,

me espalho pela sua casa

como se fosse um seu irmão

e você que tem escrúpulos

não sabe que o que tolda

a razão,é estar tão escondido

nessa caixa dourada.

(james penido)


AGUA


A memória da paixão

é um peixe na água turva de um poço


Pêssegos numa cesta

transfiguram sua luz de intocados,

dores espreitam

na porta aberta do desejo


As águas que encontram águas

apanhando os sinais

do escuro e da transparência;

pouco a pouco se fazem em imensidão,

terrores,ausência de peso,de sentido


Pedras rolando no fundo

a espuma do leito escuro,

uma calma medrosa.

Nuvens abrem o sol.Luz.


(james Penido)






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An engine,an engine

Chuffing me off like a jew.

A jew to Dachau,Auschwitz,Belsen.

I began to talk like a jew.

I think I may be well a jew.




The snows of the Tyrol,the clear beer of Vienna

Are not very pure or true.
With my gypsy ancestress and my weird luck
And my tarot pack and my tarot pack

I may be a bit of a jew.

(Sylvia Plath)





Um trem,um trem

me levando para longe como um judeu

Um judeu para Dachau,Auschwitz,belsen.

Comecei a falar como um judeu

Posso muito bem ser um judeu.




As neves do Tirol,a clara cerveja de Viena

não são puras nem verdadeiras

Com minha antepassada cigana e minha sorte estranha

e meu baralho de tarô e meu baralho de tarô

eu também sja um pouco um judeu,

(tradução minha)










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O JARDIM DAS TULIPAS 2





Parando junto à amureta,vislumbrou os jardins lá embaixo;os vultos das roseiras,das castanheiras rente ao muro.bem devagar,passou os dedos pela superfície do muro:fria e dura.Recostou-se na parede e por alguns segundos fechou sua mente.O ar muito frio e seco batia em seu rosto e de repente o encheu de felicidade.Como as manhãs de inverno antigas,a bruma entre as árvores quando desciam para a ginástica.Todos jovens e saudáveis ,e fortes e impávidos como jovens Hermes...Mas reabriu os olhos e à sua frente estava a porta do coro da capela.Ao abrir a porta,o cheiro leve de madeira envernizada e o velhos hinários amontoados o perturbou.A luz vermelha do sacrário embaixo dava um ar fantasmagórico ao olhar.tateando na semi-escuridão sentou-se num banco.Centenas de vezes estivera ali,juntara-se ao coral nas festas;nas manhãs de verão o barulho de pássaros enchia as manhãs.Jamais pensaria em tudo que um dia realmente perdera .As querelas e brigas fúteis o afetavam como um miserável seixo no sapato.

Ajudara a varrer,a espanar,a tirar com cuidado a poeira das imagens,a polir a coroa de nossa senhora.Os dias sem fim nem começo.Não eram eles assim?E ele os vivia com um ardor de náufrago salvo,o que fora resgatado do incêndio.E naquele continuum vivia como um nunca afundar na areia movediça que tinha se tornado sua vida.A madeira dos bancos estralava e eles povoavam a nave de um silêncio inusitado na noite e para ele,no tempo.Sentiu então a costumeira seta ferir com força.Mas dessa vez com uma força diferente,uma sensação muito mais profunda do irremediável de tudo que havia se ido pelo tempo,além.Como a grama queimada do jardim,a carcaça da borboleta que pela manhã se ressecaria ao sol,os hinários mofados,o verniz manchado das cadeiras do refeitorio.Existiriam mesmo os corpos incorruptos dos santos?Catherine Labouré na Rue du Bac em Paris,Bernadette em Lourdes.Pobres coitadas,suas imagens destituidas de realidade alimentando retinas abismadas e corações incrédulos.Quanto a seu próprio corpo,lentamente se corrompia.A pele do rosto se repuchava,pendurando-se junto com as bochechas;as bolsas dos olhos ressaltavam os olhos desfocados.E as mãos ásperas,cheias das ignóbeis pintas...Era esse o corriqueiro das coisas.E ele já não percorria seu rosto no espelho com meticulosidade de maníaco como antes.que tudo se danasse!E porque não?que a morte viesse arrematar a obra.O que lhe secava os ânimo era a vida que tinha de ser vivida com todos seus rituais cuidadosamente traçados.Os bons dias mecânicos,os ai meu deus não ditos,o aperto das tenazes.Acordava por vezes sufocado,embriagado de algo que desconhecia,farto de sonhos ,que belos e fantasmagóricos em sua estranheza de lugares impossíveis,mal lhe podiam trazer qualquer lembrança palpável daqueles outros tempos que revoavam a seu redor.

http://br.youtube.com/watch?v=Zv1SQFgfPR8


Ele avançou pelo corredor.Pelas pilastras entrava um vento frio.Era madrugada e seus passos ecoavam pelo edifício silencioso.Nessa hora em que se ouvem os mais tênues e subterrâneos barulhos,ele não escutava o trinado dos pássaros noturnos nas ramas das árvores.Não via o céu de azul pesado.Caminhava devagar,lendo maquinalmente o breviário,indo e voltando pelo corredor imenso.Estava cansado,e embora soubesse há muito tempo,não via rumo para a dor permanente que crescia mais e mais.Ela era a mesma sempre ;somente suas nuances mudavam com o passsar dos dias.Quando acordava todos os dias ,fitava o crucifixo na parede e a penumbra do quarto o confortava.Estar ali para ele era como estar em qualquer outro lugar;numa floresta escura,afogando-se lentamente num mar de folhas secas e úmidas,vozes distantes chamando ao longe.Há muitos anos se arrastava e viver era como tocar um harpa ou uma flauta:se o executor fosse ruim ,de nada adiantava.Dores sempre espreitavam numa porta aberta.

Quando tomava seu café no refeitório repleto e conversava com os outros e falava das aulas e do tempo e ai meu deus!de nada;um calafrio o percorria.Olhava as pessoas ao redor como se elas fossem o seu maior fardo.Os sorrisos,os tapinhas nas costas,as verdades que não eram bem verdades.As verdades que se escondiava nas frases vazias.Esse arrastar-se pelos dias era doloroso.Os dias passavam,luas novas,novos cardápios,e a dor inelutável :o horror mais horrivel por ser invisível e sinuoso.

O fracasso,ou o que chamavam fracasso,não o incomodava absolutamente.Os vitoriosos e os fracassados,todos tiveram seus dias de nunca mais,suas manhãs no colégio,com o sol brilhando e os amigos os cercando.Queria mais era gritar para todo mundo da enorme impossibilidade que fora sua vida.Ah os pacientes,os que choram à noite no escuro,passam a mão pela parede fria e sabem que tudo ,de certa forma,não é real,e aspiram a um outro lado qualquer,ao grande labirinto.

http://br.youtube.com/watch?v=t6xUaECu00Q

http://br.youtube.com/watch?v=nkp-U36c_wo

TARDE


Não havia o gado do sol.Nas tardes de sábado,antes do banho,gostava de passear pelo bosque atrás da quadra.(era como se sempre fosse Maio,a folhas caídas,uma aragem indo e vindo).Deitava-se no banco de pedra bem no centro da árvores,onde era sombreado e onde palnvam cheiros de terra e a umidade encastelava-se numa clareira.Deitava de costas e fechava sua mente a qualquer impressão externa.Esvaziava-se.O ar já frio da cinco horas o envolvia.Muitos anos depois,quando se olhava no espelho,e via o velho enrugado e triste,lembrava-se como ia li para se sentir totalmente so.A solidão naquele colégi er o grande luxo´;especialmente para quem aspirava viver no grande labirinto.As cinzas das horas então deslizavam lentamente pelos anos e ele pensava longe qualquer época de dores.Ainda não conhecia as traições porcas,as palavras duras,oas amores perdidos,o nunca mais.O cheiro forte de resina das árvores,seus pés afundados na grama crescida,a dureza fria do banco de cimento.Que mergulho !Intuia sim que o mundo existia com sua dureza irremovível ,que as pessoas lutavam por alguma que de certa forma lhe escapava.Ali no colégio via a si mesmo não como um espectro da vontade de algum outro ,mas como alguém que tinhaa um banco de jardim para descansar a cabeça.Ali alimentava sua inesgotável curiosidade e sua inteligência devorava tudo que pudesse.E seu amigos o amavam.No bosque sombreado de castanheiros,na sombra azulada da tardinha,pastava o gado do sol.cresciam as flores astrais.Quando se levantou para ir ao banho,pensou:que alegria!da noite tememos ,ams que doce luz que emana







Desperte querendo ser a nova diva-fetiche do inverno
because summer is over,my dear.
A paineira,a jaqueira,floridas,floridas,ornadas,pesadas
como as ondas filigranadas na manhã de Ipanema.
Ah esse ardor de starlet tupiniquim-
sonhos da odalisca mor,repetindo a história
tão sem sede,oblíqua e distante.


Infinitesimal cálculo da luz que banha
a barra ao cair do dia.
Tu és meu amplexo.Estamos juntos.Eu vejo então
os meninos pobres numa roda:cinza cobre o tempo,os dois irmãos
se encolhem na chuva miúda,corredores arrastam
água com os pés-o que na verdade existe
dentro do quadro?

Há uma foto amassada na luz quente e atlântica
pode-se imaginar anjos sobre o Rio de Janeiro?
A luz desce e amplia o rosto da moça-confiança
é dúvida,ela murmura.
Os mendigos são medievais no mega roteiro
do produtor de vídeo alemão,eas gaivotas rodopiam
pela câmera.

A garota da hora talvez tenha medo do poder do coração.não imagina
como é o tempo-ele não tem travas minha querida.
As ondas roçam a enseada,e a senhora passeando com um cachorrinho?
Na Etiópia ainda comem ratos suculentos-calamidade
é um dos nomes do real.




NA FLORESTA



O seguinte processo é igual a uma parada:
ouça Dvorak no escuro,lembre-se de toda brandura
que é falsa.

Picture one:lábios,silvo de cobra no campo,
arremedo de paz tão distante!
this is a jealous guy called Icarus,
dançando na neblina
Meninos passeiam pelos campos
e cantam toadas;os cumes são cobertos de grama e arbustos.
Parangolés e bonecas da beira do rio
gritam I love you
Ninguém passa,ninguém vê
danças de roda,fragmentos do céu
que vai se cobrindo de bruma.


Picture two:manhã,imã crestado de ferrugem,
o quadro se cobre de fina poeira.
O sol é duro e quente e poesia se fragmenta,
chama por dríades,náiades e sacis.
Há Rita Hayworth-terpsicore rodopiando pelo campo.
A luz vai se finando,tudo se torna cinza e negro,
espalhando pelos morros os meninos e as bonecas.
a poeira se espalhando como rastilho.


Thomas Jones insiste que o poema
é o limite da palavra.
Sombras ainda descem do céu.Luz!Mais luz!
Mas o que é tão duro que tolhe qualquer prazer real?
Não diga:quero estar só.Paraonde iremos então?


Picture three:existe a paisagem ressequida.
um vento antigo que bate nas pedras.
Mas,pastores"eis a descoberta.Flautas e bandolins
fadinhas de dior,veados do campo,ebós e erês.
a estrada que se estende sem destino.


Processos são construções
manufaturas,as correções do quadro.
Falta o vazio-porque cansados estamos
da sopa campbells e dos quadrados bienais
com bolas dentro de bolas dentro de que?
tudo isso é uma parada,declaração.



FRAGMENTO 1


Embora estar com alguém fosse um verdadeiro prazer,a solidão lhe era cara como pequenos presentes que recebesse.Sentiu-se eletrizado ao abrir a persiana e ver a cidade lá embaixo,mil luzes brilhando na noite fosca;os anúncios de neon piscando como novos os novos faróis dessa época em que nos foi dado viver.Havia chovido e uma aragem quase inacreditável subia pelos edifícios empurrando para longe o calor.Na televisão passava um programa qualquer-modelos siliconadas reclamavam da falta de amor do ser humano.Ah Deus!poderia estar lá com elas:vendo o rímel escorrer e expondo sua pobres mágoas.Porque vasculahndo noite da cidade,às vezes ia a um bar:nada acontecia ou pelo menos o que achava fosse nada.Não admitia seu medo tácito e sua sede infinita.Achava que todos estavam disponíveis eque também todos eram inacessíveis.
Entre ontem e hoje o abismo se alargava a cada dia.A voragem dos instantes eclipsava tudo.aquela mesma manhã de verão que surgira em meio à neblina fria,amanhã seria quente e insuportável.O bater do portão ao sair para o trabalho,balançando as dobradiças metálicas,já se misturara ao ar do nunca mais.O telefone a seu lado,abalava o mundo. Quem esperava que ligasse?Qualquer pessoa?sua mãe?Talvez ninguém ligasse.sua sofreguidão então se confirmaria e então nascesse uma estranha felicidade.como um conhecimento do desastre?




CECILIA EM PIRATININGA



Depois do fragor da tempestade,a água subiu.Agarrada a Peri,no tronco da palmeira `a deriva,ela viu transmutar-se de azul muito escuro em um negro de fumaça.Relâmpagos
amrelo-alaranjados cruzavam o poente.O barulho dos trovões,pensou,nunca acabaria.
Peri a segurava com força,seus braços enormes a amparando.Esgotada,abandonou-se,não mais ao pavor e ao medo da morte.mas à estranha situação que vivia.Deitada sob o tronco esguio,tinha a sensação que a qualquer momento iria ao fundo,e tudo finalmente terminaria.O mundo agora era só água,e aquele céu escuro e iluminado a cada segundo por estranhas luzes.
E todos os outros estariam certamente mortos agora:seu pai,Álvaro,Isabel.Todos mortos.Massacrados,cobertos de flechas,seus pobres corpos desfigurados imóveis no chão,seus olhos esbugalhados,os cabelos sujos de sangue e terra.Seus olhos se enchera de lágrimas.Via flores que passavam boiando,espantosamente azuis e vermelhas,rodopiando e pequenos redemoinhos pela agua suja.Não me leve,não me leve,pensou.Peri não parecia nem mesmo cansado.Como um ser de um outro lugar,a olhava com o mesmo olhar de devoção e doçura.Tão fraca estava,tão esgotada,molhada e fria,que já não lhe doia mais o corpo.Seu vstido encharcado não mais a incomodava;o medo a deixava finalmente.A cada momento pensava ser o fim.Até quando ele vai suportar,meu deus?Quando,por fim,mesmo em um esforço magistral,seus braços não o obedecessem mais?marés se eguiam pela terra inundada.Sltou um leve grito.Era assim então.