Feliz Natal!Ótimo 2011!



Um feliz Natal a todos e um ótimo 2011.Estamos de férias do blog até o começo de Janeiro.E 2011 será um ano de mais postagens,de'retomada'.
Um grande abraço a todos que visitam nosso canto,mesmo que esse blogueiro aqui tenha sido 'relapso' em visitar os blogs dos amigos.Saudações!

Música-Vete de mi (Homero e Virgilio Esposito)-Caetano Veloso



Tú, que llenas todo de alegría y juventud
Que ves fantasmas en la noche de trasluz
Y oyes el canto perfumado del azul
Vete de mí
No te detengas a mirar
Las ramas muertas del rosal
Que se marchitan sin dar folr
Mira el paisaje del amor
Que és la razón para soñar y amar
Yo, que ya he luchado contra toda la maldad
Tengo las manos tan desechas de apretar
Que ni te puedo sujetar
Vete de mí
Seré en tú vida lo mejor
De la neblina del ayer
Cuándo me llegues a olvidar
Como és mejor el verso aquél
Que no podemos recordar

Prodígio de letra e melodia na interpretação perfeita e tocante de Caetano.
Para os que já se apaixonaram ou estão se apaixonando.

Uma saudação a Julian Assange,herói da nossa triste 'pós-modernidade'



Elegia 1938

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.

Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.

Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.

Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.

Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século, a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.

(Carlos Drummond de Andrade)

Eu Acredito

-"Que não existe nenhum deus pessoal nem vida após a morte"
-"Que a única diferença entre os seres humanos é a inteligência"
-"Que o único critério para uma ação é a felicidade ou a infelicidade individual  que em última instância ela produz"
             (Susan Sontag-1933-2004)-em "Diários-1947-1963")

Poesia-"O Prelúdio" de William Wordsworth(1770-1850)

E eu senti

Uma presença que me perturba 
com a alegria
De elevados pensamentos; 
um sentido sublime
De algo mais profundamente entremesclado,
Cuja moradia é a luz dos poentes
E o redondo oceano 
e o ar vivo.
E o céu azul, 

E na mente do homem:
Um movimento e um espírito 
que impelem
Todas as coisas que pensam,
todos os objetos de todo o pensamento,
E que rola através de todas as coisas.

William Wordsworth, 13 de julho de 1798

Os cacos de vidro e os cacos da consciência-Homofobia e desigualdade

Os jovens que agrediram esse final de semana os rapazes gays na Avenida Paulista foram libertados.
Só essa frase causa um arrepio.Então,usar cacos de vidro para agredir pessoas não é um crime suficiente para ficar detido,embora se você for pobre e negro,e roubar um pote de manteiga,se arrisca a passar até anos atrás das grades.
O ato dos playboyzinhos paulistanos em si é um tratado da educação(?) que certas camadas da classe média/alta brasileira recebe-educados em 'bolhas',distantes da realidade do povo e das 'minorias',são ensinados a ter horror a tudo que não cheira a seu mundinho claustrofóbico de condomínio fechado.Pobres,gays,negros,deficientes, são uma outra categoria de pessoas-são os estranhos,os que devem ser
desprezados,inclusive por existirem e 'manchar' seu mundo cor de rosa.
Muito dessa mentalidade se deve à essa própria classe média,que sempre apoiou com unhas e dentes o país do 'elevador social',do 'cubículo de empregada',do porteiro-salário mínimo,da casa grande e senzala.E claro,são contra a elevação do salário mínimo,são contra o bolsa família,são contra a criminalização da homofobia,e socorro!! arqui-inimigos do casamento gay-essa aberração!!E assim,é com essa mentalidade que esses garotos são educados e a justiça faz sua parte,ao passar a mão na cabeça desses monstrinhos.Gostaria que alguém pudesse me convencer que se fossem pobres e/ou negros esses rapazes não estariam ainda presos.
O país continua basicamente a ter duas justiças:uma para as classes A/B,outra para o "resto".
É de causar pavor que a mãe de um dos envolvidos,tente justificar o injustificável,assim passando o recibo da péssima educação que essa gente dá a seus filhos.O advogado disse que os rapazes sofreram 'uma agressão,uma ameaça,uma paquera'.É essa a mentalidade vigente.
Ainda não vi a estridente turma do "Cansei" pedindo o fim desse tipo de violência,ainda não vi a OAB se pronunciar,ainda não vi os tais blogs 'progressistas' se manifestarem.Isso tudo prova como a homofobia permeia o tecido social.Verdade seja dita,se fosse um crime envolvendo racismo ou sexismo,a gritaria já se faria (com muita justiça) se ouvir.Mas...

O movimento gay também precisa deixar um pouco as festas de lado e se posicionar como entidade política-exigir mesmo igualdade de direitos.Menos retórica e mais ação.Porque esses cacos estão na nossa consciência.E esses garotos nunca vão se esquecer disso.Chega de os gays serem cidadãos de segunda nesse país.Que a constituição seja cumprida.PARA TODOS.

Sobre escrever

"Eu escrevo sobre o amor e o dinheiro.O que mais existe para escrever?"(Jane Austen-1775-1817)
"A partir de certo ponto,não há volta.Esse é o ponto que se deve atingir"(Kafka-1883-1924)
"Não gosto de escritores que ignoram o elemento estranheza que se introduziu na vida contemporânea a partir da bomba atômica"(Susan Sontag-1933-2004)

Filme-"Coverboy,a última revolução"(2006)-de Carmine Amoruso

A queda do Muro de Berlim,o final da União Soviética e o desmantelamento dos regimes repressores do chamado "socialismo real" no Leste europeu,causaram surpreendentes mudanças no ordenamento das 'forças ideológicas' planetárias.O que a princípio foi saudado com expressões como "nova era democrática","fim do comunismo" e até mesmo "fim da história",etc,também poderia ter sido chamado de "advento da era do mercado total","reunificação da ideologia neoliberal,neoconservadora".Esses fatos intricados entre si,deram o tom à quase total desregulamentação dos mercados nacionais,à precarização do trabalho,gerando a então tão louvada "globalização",hoje mais que questionada por sua criação monstruosa de concentração de renda e miséria.
Por mais que se tenha dito então que 'a esquerda estava morta',que o marxismo(que não é o socialismo real do leste) era uma filosofia/sistema falido,o fracasso retumbante da era do mercado total levou à atual crise sistêmica  pela qual ainda passamos.
A Europa Ocidental,seriamente afetada,com crescimento econômico negativo ou muito baixo,começa a sentir os trancos do envelhecimento populacional acelerado com o consequente aperto dos serviços de segurança e previdência social.Lá,a crise só gera mais desemprego e insatisfação,levando grandes contingentes a votar na direita e até mesmo na extrema direita xenófoba e racista(e estúpida),que demoniza os imigrantes ilegais,não querendo enxergar os verdadeiros culpados da crise.Os EUA patinam na pior recessão em 80 anos,com altos níveis de desemprego e decepção popular com o governo de Obama(que foi eleito em meio a aclamações retumbantes).A infra-estrutura,a educação e a desigualdade de renda caem a níveis nunca vistos hoje.E por fim,assistimos à inevitável ascensão do BRICs,que desenham já no presente,um outro futuro.
"Cover Boy" é um filme italiano que se insere na tradição política de Elio Petri e Pasolini,com sua crítica ácida da ilusão do fim da luta de classes,do teatro bem-pensante burguês,seu desvelamento dos meios mais reacionários de controle social e ocultamento e manipulação das relações sociais.
Por mais que certas revistas semanais insistam no contrário,tudo é político,e por mais que o chamado "estado do bem estar social",tenha construido sociedades muito mais justas em muitos países da Europa,esse mesmo sistema tem sido corroído em suas bases pela ganância desregulamentadora e pelo inevitável embate social causado por ela.
"Cover Boy" conta a história de Ion(Eduard Gabia) e Michelle(Luca Lionello).Ion é um jovem romeno,que acossado pela pobreza da Romênia pós-comunista,vai tentar a sorte no suposto eldorado italiano.Como era de se esperar,de grande prosperidade,a Itália já não tem muita coisa.Com a econonia estagnada há anos,o país é na verdade um viveiro de xenofobia e racismo.Ion,recém chegado,não tem para onde ir ,onde dormir,onde tomar um simples banho.E é em circunstâncias surpreendentes que conhece Michele na estação Termini em Roma.Michele,é um empregado terceirizado,que embora italiano,e"cidadão pleno da União Européia",é pouco menos pobre que o romeno.Mora em um minúsculo e desconjuntado apartamento em um prédio decrépito,gerenciado por uma por uma detestável e amargurada atriz decadente.É esse apartamento e também sua vida que passa a dividir com Ion.
Pasolini registrou magnificamente a vida do sub-proletariado italiano em obras primas como Accatone(em uma Itália que surpreenderia muitos hoje,com favelas iguaizinhas às brasileiras na periferia de Roma) e lamentava melancolicamente,que a rica Itália que nascia nos anos 60,significava também um país que se abastardava,que se consumia no fogo do consumismo e da ganância erigidas como modo de vida.
Esse mesmo Pasolini se surpreenderia com a Itália de 2010.O país que depois da Segunda Guerra,teve um enorme e intenso crescimento econômico,com o decréscimo rápido da desigualdade social e aumento exponencial de salários,passa de exportador a receptor de mão de obra barata do chamado "terceiro mundo".Mas a Itália de 2010 é o país do patético Sílvio Berlusconi,do racismo mais lamentável da Europa Ocidental e de uma decadência sócio-econômica que só tem aumentado ano a ano.
É nesse cenário que vive Michele,o amigo de Ion,ele próprio imigrado do mais pobre sul da Itália.,que procura em Roma(ou em Milão,ou Turim,etc) a vida melhor que certamente,hoje,não vai encontrar.
Os dois,perdidos em uma sociedade indiferente,teem a si mesmos.Michele literalmente se apaixona por um Ion inacessível como objeto de paixão e a dor dos dois se mescla em vários tons.

Um filme corajoso e contemporâneo,aclamado e premiado em vários festivais,com maravilhosa fotografia,ótima direção de atores e uma crítica social cortante e oportuna.Vale destacar a Roma degradada a que poucos turistas devem prestar atenção.

Poesia-Despedida(de Alfred Tennyson)


Correnteza abaixo, riacho frio, para o mar,
a onda libertadora ela refere:
Não mais por ti meus passos irão,
para sempre e sempre 
Corrente, doce corrente, por gramado e prado
Um riacho, então, um rio:
Agora, por ti meus passos devem ir,
para sempre e sempre
 
Mas aqui suspirará vosso carvalho
E aqui vosso arbusto estremecerá
E aqui por ti zumbirão as abelhas
para sempre e sempre
 
Milhares de sois jorrarão sobre ti,
Milhares de luas rebrilharão;
Mas não por ti meus passos irão,
para sempre e sempre.
 
Alfred Tennyson "A Farewell" in "The Poetical Works of Alfred Tennyson"

Dilema das classes médias: Estado do Bem-Estar ou apartheid social?



Na hora mais grave de sua história, os ingleses, na linguagem de seus liberais cívicos e trabalhistas, cunharam o lema do “Estado do Bem-Estar Social”. Este grito de civilização contrastava com o outro, da barbárie, vindo da Alemanha de Hitler, o Estado da guerra, da máquina de guerra nazista. “Sangue, suor e lágrimas”, os ingleses uniram a Nação e resistiram. Hoje, decerto, não há nenhum Hitler às portas do Brasil, mas quem ousaria negar que a barbárie da violência social ainda ronda o nosso cotidiano e, pode, se a linha vitoriosa nestas eleições for neoliberal, voltar a crescer? O artigo é de Juarez Guimarães.
À Maria Rita Kehl

Em seu poema mais terno, comovente e terrível, o maior poeta negro brasileiro, Cruz e Souza, versa sobre o berço do recém nascido: 

“Meu filho que eu adoro e cubro de carinhos,/ que do mundo vilão ternamente defendo,/ Há de mais tarde errar por tremendais e espinhos/ Sem que o possa acudir no suplício tremendo.” 

E mais adiante:

“Tu não sabes, jamais, tu nada sabes, filho,/ Do tormentoso Horror, tu nada sabes, nada.../ O teu caminho é claro, é matinal de brilho,/ Não conheces a sombra e os golpes da emboscada.”

Postado assim no livro “Faróis”, um pouco antes do belíssimo “Litania dos pobres” ( “As sombras das sombras mortas,/Cegos, a tatear nas portas./ Procurando o céu, aflitos/ E varando o céu de gritos./ Faróis à noite apagados/ Por ventos desesperados/ Inúteis, cansados braços/ Pedindo amor aos Espaços./ Mãos inquietas, estendidas/ Ao vão deserto das vidas.” e mais adiante : “ Bandeiras rotas, sem nome,/ Das barricadas da fome.”), o poema “Meu filho” de Cruz e Souza parece-se como uma oração desesperada de todos os pobres do Brasil aos recém nascidos de seu amor. 

A consciência mais alta dos abolicionistas brasileiros, no fim do século XIX, chegou à conclusão de que a abolição não era principalmente um imperativo de modernização econômica nem apenas uma dádiva humanitária para com os negros. O que estava em jogo ali era um princípio de civilização: enquanto houvesse escravidão, não seria possível formar uma moralidade do cidadão, toda cultura cívica seria cínica, a própria dignidade do trabalho seria negada. Hoje, nestes inícios do século XXI, o que está em jogo mais do que a força econômica autônoma do Brasil, muito além da comiseração com a vida de humilhações e carências dos pobres, é também um princípio de civilização. 

Ou retornamos ao princípio de civilização dos anos noventa, da era Fernando Henrique Cardoso, o qual, pela apologia do mercado, se legitimava a exposição ostensiva da riqueza em meio à legião dos pobres e o cultivo da diferença social como sinal de status, ou vamos formar a casa comum da democracia brasileira, vamos aparar os extremos em direção ao predomínio das “classes médias”, vamos formar, enfim, o cidadão e a cidadã de direitos e deveres simétricos. O que está em jogo é a nossa moralidade, a possibilidade de nossa cultura cívica republicana, o destino democrático que formamos na crítica ao nosso passado de violenta exclusão.

As engenharias mercantis da produção da miséria em massa produzem a morte física: pela fome ou subnutrição, pelas epidemias evitáveis ou pela vida subtraída pelo cuidado sanitário precário, pelas genocídios de jovens pobres nas periferias. Ao final dos anos noventa, pela primeira vez na história brasileira no século XX, a esperança média de vida dos brasileiros parou de crescer. Mas a injustiça – legitimada ou cinicamente absorvida – produz um aleijão na alma do cidadão: as nossas crianças e jovens – mesmo as mais protegidas – não ficam imunes à legião dos pobres nas ruas mais suntuosas, pessoas a cata dos restos nos lixos dos bairros mais ricos, o pobre suspeito de ser criminoso e o rico absolvido de todos os crimes.

Não se trata de dividir o mundo pequeno dos privilegiados ou socializar os privilégios para todos. “A felicidade ou é compartilhada ou não vigora”, escreveu o presidente Lula como dedicatória ao livro de sua biografia presenteado a Dom Luciano Mendes, como este mesmo próprio revelou a uma platéia de ouvintes comovidos. O que se trata exatamente é a meta de por fim aos privilégios: expandir o espaço da vida de cada um pela expansão da riqueza da vida social, prosperar o nosso quinhão de afetos pela amizade e amorosidade da vida em comum, modular em aquarela as cores de nossa vida subjetiva ao sentimento do mundo, como versou o poeta maior.

Desterrados na própria terra? 

Talvez a mais fina leitura do livro “Raízes do Brasil”, do mestre Sérgio Buarque de Holanda, revelou que em sua primeira edição ele escrevia na abertura uma contradição: ao modo de Gilberto Freyre, ele trazia o reconhecimento de que havia se enraizado aqui uma civilização nos trópicos ; mas, ao mesmo tempo, ao modo de Euclides da Cunha, éramos desterrados na própria terra. Nas edições seguintes, esta tensão criativa teria se apagado, ficando soberana a noção do desterro. O fino leitor, porém, preferia a tensão, ao modo da obra que cresce na sua abertura de sentidos.

O fato é que esta tensão veio hoje ao centro da democracia brasileira. Continuaremos a ser desterrados na nossa própria terra, como uma nação que não se fez, ou construiremos aqui a mais bela e generosa civilização democrática e interracial dos trópicos, na utopia mesma de Darcy Ribeiro? 

O tema do desterro ou do exílio estrutura a cultura brasileira desde o século XIX, quando ela começou a procurar nossa identidade, entre a cópia do centro ou a busca da originalidade. Origem, identidade e destino, amarrados na mesma imaginação: de onde viemos, o que somos e para onde vamos ? Na clareira da dúvida, emergiu o tema do sertão: dentro de nós, ao redor de nós, presença do mal ou ausência do bem, o lugar onde vige a violência na ausência da lei, nossas veredas. Como numa comédia farsesca, o “bem” e o “mal” voltaram hoje a terçar armas em busca da consciência dos brasileiros. Mas nem Hermógenes (o princípio do mal no sertão) nem o fero belo Diadorim (o princípio do bem absoluto no sertão) : mas Riobaldo e sua fala sábia, humanizando o imperfeito do vivido, repropondo para nós o caminho do livre e do justo.

No desterro, os ricos abandonam a noção de nação e migram para seus oligárquicos céus do cosmopolitanismo: os de tradição, para a Europa, os “novos ricos” para Miami, erguem fossos e pontes levadiças em seus condomínios de luxo. Os pobres, ah! Os pobres, estes migram para os infernos: para o anonimato do desemprego ou os sem nome do emprego precário, para as drogas e seus circuitos, para o sobre humano esforço pela sobrevida de cada dia.

E as classes médias o que fazem: elas vão ao limbo, sem identidade de Nação, sem futuro para os filhos, com a universidade cada vez mais restrita ou mais cara e os planos de saúde que faltam na hora mais crítica, com a humilhação de ser brasileiro, fugindo da bala perdida e evitando as zonas do “no man´s land” das cidades perigosas. 

No governo Lula, o sertão não virou mar mas recomeçamos a construção interrompida da Nação. A nação democrática e republicana é, por sua própria natureza, a identidade e futuro das classes médias brasileiras. Vamos retornar ao limbo?

Estado do Bem-Estar Social
Na hora mais grave de sua história, os ingleses, na linguagem de seus liberais cívicos e trabalhistas, cunharam o lema do “Estado do Bem-Estar Social”. Este grito de civilização contrastava com o outro, da barbárie, vindo da Alemanha de Hitler, o Estado da guerra, da máquina de guerra nazista. “Sangue, suor e lágrimas”, os ingleses uniram a Nação e resistiram. Hoje, decerto, não há nenhum Hitler às portas do Brasil, mas quem ousaria negar que a barbárie da violência social ainda ronda o nosso cotidiano e, pode, se a linha vitoriosa nestas eleições for neoliberal, voltar a crescer?

Coube a Maria Lúcia Werneck Vianna falar, pela primeira vez entre nós, ainda no final dos anos oitenta, da americanização perversa de nossa vida social. “Escolas para ricos” segregadas de “escolas para pobres”; “saúde para ricos” e “saúde para pobres”; previdência privada e imprevidência para todos. Mas como dizia o Relatório Beveridge, fundador do sistema de Bem-Estar inglês, uma medicina só para pobres será sempre uma pobre medicina. No final dos anos noventa, já se falava entre nós das dinâmicas de apartação social, isto é, estávamos reproduzindo aqui no Brasil o sistema do apartheid vigente na África do Sul, só que com o estigma social da riqueza e da pobreza.

O Estado do Bem-Estar é, por natureza, o lugar do interesse público, do encontro necessário e possível entre trabalhadores e classes médias, entre os direitos do trabalho e os direitos da mulher, da educação pública e do SUS pleno, do emprego garantido e da previdência firmada, da economia do setor público e dos avanços da democracia. 

Em um regime do Bem-Estar, as classes médias podem realizar, de modo universalista, seus interesses: a inclusão de miseráveis e pobres, que no Brasil quase equivalem a uma França inteira, gera uma plataforma de milhões de novos empregos para engenheiros, médicos, dentistas, psicólogos, advogados, comunicadores e economistas. A expansão das funções públicas do Estado gera uma profusão de concursos públicos. A recuperação dos bancos públicos produz uma pressão de baixa nos juros e o crédito para a compra de casas torna-se acessível; a retomada dos investimentos em ciência e tecnologia alenta as carreiras universitárias. Crescem as receitas do Estado, diminuem as dívidas públicas e as políticas sociais podem almejar metas de universalização. A violência social diminui claramente e os jovens de periferia entram, com passos firmes, no circuito da civilização, das artes e da educação, com suas próprias identidades. A reforma agrária e a agricultura familiar expandem e barateiam a produção de alimentos. A força da economia do setor público permite planejar e evitar a predação da natureza que nos ameaça. 

Com uma dinâmica de Bem-Estar, cria-se uma infra-estrutura econômica propícia à retomada da moralidade pública, de desprivatização do Estado e de suas cadeias alentadoras de privilégios ou de rentismos. O interesse público passa se a base de uma vida política pública virtuosa.

O governo Lula deve ser reconhecido como o que mais fez até hoje na luta contra a corrupção: através do fortalecimento da Controladoria Geral da União (CGU), da multiplicação das operações da Polícia Federal, da criação de Corregedorias em todos os ministérios, da auditagem das verbas federais que vão para os municípios e estados, da garantia da independência do Ministério Público Federal, da punição aos corruptores, da transparência dos gastos públicos e do envio ao Congresso Nacional de novas leis de punição exemplares aos corruptos. Mas é evidente que , por seu caráter histórico e sistêmico, a corrupção exige medidas mais profundas, como a Reforma Política, e uma postura mais intransigente. 

A voz da república

Com os ricos e grandes capitalistas e banqueiros e agro-business alinhados com Serra e pobres, sindicatos e sem-terra mais alinhados com Dilma, o segundo turno destas eleições presidenciais de 2010 será decidido pelo voto das classes médias.

Serra oferece a elas uma apologia virulenta de um sentimento contra a esquerda, contra as morais emancipatórias da mulher e um ressentimento de quem vê seus privilégios ameaçados, ao mesmo tempo, que satura os seus programas de televisão de pobres, tentando fugir à identidade de ser o candidato dos “bem... ricos”, como diz o refrão da campanha de Dilma.

O argumento moral que solda liberdade e justiça, o sentimento da identidade e orgulho de ser brasileiro e o rico mundo dos interesses públicos do Estado Bem-Estar Social constituem três grandes argumentos para o seu voto em Dilma.

Se Vinícius de Moraes estivesse presente entre nós, ele apenas aconselharia as classes médias brasileiras a ouvir a bela canção de Orfeu, que ele figurou como um menino negro no alto de uma favela brasileira.
Esse artigo foi publicado originalmente no site Carta Maior 


Aviso

Esse blog volta ao normal depois das eleições.Confesso que não tenho tido inspiração.Estou imerso na campanha,fazendo minha parte.É uma questão,reafirmo de convicção e determinação pessoal.
Um abraço a todos.

Música-"Mistake Number Three"-Culture Club



You can't bystand all the people
Stand them on their own
They will fall to pieces
So we watch them grow
Into strange and pretty faces
I don't know
Clutching to my lipstick traces
Watch them go
Make Mistake Number Three
It's strange how much it changes
How they want to know
How cynical are people
That's where children go
Dragged into a conversation
They can't hold
Its so sad but it prepares them
For the mould
Make Mistake Number Three
Why is my love like an ocean run dry?
And why is my love such a struggle with life?
You can't bystand all the people
Stand them on their own
They will fall to pieces
So we watch them grow
Into strange and pretty faces
I don't know
Clutching to my lipstick traces
Watch them go
Make Mistake Number three

Uma das canções mais lindas,tocantes dos(maravilhosos) anos 80,cantada por um ícone que quebrou mais que barreiras à época-Boy George.

Livros-Memórias de Adriano-de Marguerite Yourcenar

Memórias de Adriano(1951) foi o romance que projetou Marguerite Yourcenar (1903-1987) internacionalmente,e fez que o mundo conhecer uma grande escritora.
Memórias de Adriano é a história romanceada do imperador romano Adriano(76-138 d.c.) na forma de longas cartas a seu sucessor Marco Aurélio.Essas cartas são divididas em:Animula Vagula Blandula(Pequena alma terna flutuante),Varius multiplex multiformis(vário multiplo multiforme),Saeculum aureum(século dourado),Disciplina Augusta e Patientia(paciência).
Em cada uma das diferentes epístolas,Adriano reconta uma parte de sua vida,desde seu nascimento na Espanha,sua infância solitária,sua juventude em Roma e depois sua ascensão ao poder e sua vida como imperador romano.
Obra prima da literatura,o romance é uma longa divagação sobre a vida,o amor,a sociedade,o poder.
O Adriano de Yourcenar,um imperador romano com poder absoluto se coloca como um ser humano muitas vezes frágil e amedrontado frente às armadilhas do destino,as ironias da sorte.
Yourcenar dá grande destaque ao romance entre Adriano e o jovem grego Antínoo-ela achava que a história desse relacionamento era a chave para entender a personalidade de Adriano.A parte que narra o romance-Saeculum Aureum-é a melhor do livro.A meditação do imperador sobre o amor é impressionante,mostrando como tudo muda,menos a verdade essencial da vida.
Marguerite Yourcenar recria todo um tempo em que em suas próprias palavras:"O deuses estando mortos e ainda não existindo o cristianismo,houve um breve momento em que só existiu o homem".
Um dos grandes romances do século XX,amado e sempre relido por seus fiéis admiradores.
Trechos:
"Nosso grande erro é tentar encontrar em cada um ,em particular,as virtudes que ele não tem,negligenciando o cultivo daquelas que ele não tem"
"Fui amado por alguns;estes me deram muito mais do que eu tinha direito de exigir ou mesmo de esperar deles:algumas vezes sua vida;outras sua morte."
"Foi dessa maneira,com uma mistura de prudência e audácia,de submissão e revolta cuidadosamente calculadas,de extrema exigência e prudentes concessões,que acabei finalmente por aceitar-me a mim mesmo."
"A moral é uma convenção privada:a decência,um assunto público;toda permissividade muito visível sempre me pareceu uma exibição de mau gosto."
"Quando tivermos reduzido o máximo possível as servidões inúteis,evitado as desgraças desnecessárias,restará sempre,para manter viva as virtudes heróicas do homem,a longa série de males verdadeiros:a morte,a velhice,as doenças incuráveis,o amor não partilhado,a amizade rejeitada ou traída,a mediocridade de uma vida menos vasta do que nossos projetos e mais enevoadas que nossos sonhos.Enfim,todas as desventuras causadas pela divina natureza das coisas."
"Tudo se desmoronava;tudo parecia extinguir-se.O Zeus Olímpico,o Senhor de Tudo,o Salvador do Mundo aluíram;de repente,existiu apenas um homem de cabelos grisalhos soluçando no convés de um barco."(ao saber da morte de Antínoo)
"Não sabia ainda que a dor contém em si estranhos labirintos,(...)"
"Tentei ir em pensamento até essa revolução pela qual todos nós passaremos,o coração que renuncia,o cérebro que se submete,os pulmões que cessam de aspirar a vida.Passarei por uma convulsão análoga;morrerei num dia.Mas cada agonia é diferente."

As Eleições e a Coerência Pessoal

Como todos podem ver aqui na barra lateral,voto Dilma em 3 de Outubro.Esse post não é uma explicação de voto,porque não tenho que explica-lo,mas uma declaração de intenções e motivos.
Voto Dilma por convicção pessoal,convicção essa que vem de muito tempo.Aprendi muito cedo na vida(às vezes a duras penas) que a direita é a coroação do supremo lugar comum da política,com seu conservadorismo dogmático,seu preconceito de classe,seu horror à transformação social,sua convicção absurda em uma humanidade monolítica e em uma suposta submissão de todos ao interesse econômico de uma minoria,em detrimento da maioria.
Não sou e nem nunca fui filiado a nenhum partido político-sou avesso a dogmas e ortodoxias.Mas jamais votaria na direita,por história de vida e de familia.Penso nos milhões de pessoas que melhoraram de vida nos últimos oito anos de governo Lula.E isso no país do 'elevador de serviço'-uma metáfora do nosso apartheid social,que sempre foi muito bem aceito por uma boa parcela da classe média que talvez pensasse-''pobres?sempre existirão!".O que Lula fez e penso Dilma continuará é algo muito fácil de definir-um choque de capitalismo,uma inclusão social,a criação de um mercado de consumo de massa.Nada de comunismo,de 'regime autoritário' que uma parte da mídia(saudosa da época casa grande e senzala)tenta apregoar.
Fico pasmo quando perguntam;porque 'os pobres' vão votar na esquerda?É preciso mesmo responder?
Não sou a favor de loteamento de cargos públicos,nem de corrupção no governo-em qualquer governo.
O que é preciso fazer agora é avançar as conquistas sociais:aumento real dos salários,redução da semana de trabalho para 40 horas,melhoria urgente da educação e do Sistema Público de Saúde,proteção mais efetiva às minorias,aos idosos e crianças,criação de mecanismos mais democráticos ,que deem oportunidades a todos,igualmente.Pelo fim da casta de privilegiados que tem governado esse país há 500 anos
Voto com coerência pessoal.Perdi a conta dos 'unfollows' que levei no twitter,até de mensagens ofensivas que recebi.A democracia é a união das diferenças-e parafraseando o que Voltaire  e tantos outros disseram-"Todos temos o direito de expressar nossas opiniões,respeitando também a dos outros".
Que essa eleição,independente do resultado,resulte em um país realmente melhor para todos,sem exceção.

Poesia-'Sinto"-de Pedro Penido

Sinto

seguia gallows pole,do led zeppelin,quando no papel caía o que se

segue...escorrido...

Às vezes eu sinto e...sou.
outras,poucas,sinto e vou.
sinto o que todo mundo sente.
penso que é truque do tempo,
mas o tempo,eu sei,não mente.

dele arranquei dúvidas.
confessei a loucura.
nele encontrei monstros.
encontrei bravura.

mas dói na carne o sentimento.
sinto,escorro...
sinto,sofro,peço socorro.

não vêm mãos ou olhares.
poucos sorrisos no horizonte.
enquanto naufrago no meu tempo.
onde sofri e escorri...e senti.

mantenho minha bandeira.
como sangue novo,escarlate.
resta pouco de humano.

e dói o vazio desta alma imensidão.
imersa na loucura ao som de gallows pole.
enquanto tropeço em busca de paixão,
sinto,sofro,morro,vivo...apemas,agora,sou.

despreendido,entorpecido por veneno e dor.
peçonha dos prédios apertados e muita,muita dor.
encurralado nos labirintos da insana solidão,
flagrado nos limites do absurdo vago amor.


Pedro Penido é um 'novo' poeta,e poeta de verdade,não mero versejador ou organizador de períodos.Sua poesia tem uma força na qual eu sinto a tradição e a vanguarda juntas.Não será esse o destino da poesia,um diálogo permanente entre  o passado,o presente o inconsciente?
Pedro Penido acontece de ser meu primo e fico honrado em apresenta-lo aqui  nesse espaço.

Música-Loser-Versão do elenco de Glee




In the time of chimpanzees
I was a monkey
Butane in my veins
So I'm out to cut the junkie
With the plastic eyeballs,
Spray-paint the vegetables
Dog food stalls with the beefcake pantyhose
Kill the headlights
And put it in neutral
Stock car flamin' with a loser
And the cruise control
Baby's in Reno with the vitamin D
Got a couple of couches,
Sleep on the love-seat
Someone keeps sayin'
I'm insane to complain
About a shotgun wedding
And a stain on my shirt
Don't believe everything that you breathe
You get a parking violation
And a maggot on your sleeve
So shave your face
With some mace in the dark
Savin' all your food stamps
And burnin' down the trailer park
(Yo. Cut it.)
Soy un perdedor
I'm a loser baby, so why don't you kill me?
(Double-barrel buckshot)
Soy un perdedor
I'm a loser baby, so why don't you kill me?
Forces of evil in a bozo nightmare
Banned all the music with a phony gas chamber
'Cuz one's got a weasel
And the other's got a flag
One's on the pole, shove the other in a bag
With the rerun shows
And the cocaine nose-job
The daytime crap of the folksinger slop
He hung himself with a guitar string
Slap the turkey-neck
And it's hangin' from a pigeon wing
You can't write if you can't relate
Trade the cash for the beef
For the body for the hate
And my time is a piece of wax
Fallin' on a termite
Who's chokin' on the splinters
Soy un perdedor
I'm a loser baby, so why don't you kill me?
(Get crazy with the cheeze whiz)
Soy un perdedor
I'm a loser baby, so why don't you kill me?
(Drive-by body-pierce)
(Yo, bring it on down)
Soooooooyy....
[chorus backwards]
(I'm a driver, I'm the winner;
Things are gonna change
I can feel it)
Soy un perdedor
I'm a loser baby, so why don't you kill me?
(I can't believe you)
Soy un perdedor
I'm a loser baby, so why don't you kill me?
Soy un perdedor
I'm a loser baby, so why don't you kill me?
[repeat]
(Sprechen sie Deutches, baby?)
Soy un perdedor
I'm a loser baby, so why don't you kill me?
(Know what I'm sayin'?)
*[Translation: "I'm a loser"]
Crítica perfeita ao obsessivo  culto americano pelo sucesso,a canção de Beck ganha nova e ótima roupagem em Glee.Glee,que vira e mexe é desqualificada como série brega,'gay'(oi?),sentimentalóide,etc.Glee fala dos supostos losers,ou seja,dos que são constantemente desqualificados pelos supostos bambambans.Glee vira isso tudo de cabeça para baixo,e nos diz,que literalmente,a coisa é muito mais complexa.


Enquanto isso no Brasil...




Imagens daqui e daqui

Poesia-"Traduzir-se" de Ferreira Gullar

Uma parte de mim é todo mundo
Outra parte é ninguém,fundo sem fundo
Uma parte de mim é multidão
Outra parte estranheza e solidão
Uma parte de mim pesa,pondera
Outra parte delira
Uma parte de mim almoça e janta
Outra parte se espanta
Uma parte de mim é permanente
Outra parte se sabe de repente
Uma parte de mim é só vertigem
Outra parte linguagem
Traduzir uma parte na outra parte
Que é uma questão de vida e morte
Será arte?

Filme-'Temple Grandin'-de Mick Jackson(2010)

O diagnóstico de uma criança com autismo quase sempre coloca os pais em desespero.E do desespero,perguntam-se:o que faremos agora?O estigma e a incompreensão que cercam o autismo,o modo como a sociedade encara os portadores,indo da piedade ao escárnio,pouco contribui para deixar esses pais mais tranquilos.Porém,mais e mais pais estão se juntando em associações que procuram mutuamente desfazer o pretenso estigma do autismo,querendo dar relevo ao que é realmente o autismo:uma disfunção global do desenvolvimento que 'afeta' a percepção da realidade(entre aspas porque esse 'afeta' se refere aos que não são autistas).O autista percebe e interage com a realidade,mas só que de uma forma diversa dos 'outros'.A maneira de usar o corpo de forma diferente provoca muitas vezes deboche das outras crianças e de pessoas ignorantes.
'Temple Grandin'é a cinebiografia da mulher do mesmo nome,feita para a televisão pela HBO.Temple,nascida em 1947,foi diagnosticada com autismo aos três anos.Sua mãe,inconformada,a manda estudar em escolas regulares.Ajudada pela família e por mentores,Temple(apesar de constantemente ridicularizada na escola por colegas insensíveis),forma-se em Psicologia,tendo mestrado e doutorado em Ciência Animal.Desenvolve um grande trabalho nas redes de proteção e amparo aos autistas,além de criar formas de 'humanização' das condições de abate de animais.
Seria lugar comum dizer que o filme é uma lição de vida.É uma lição de vida pela superação,por um ser humano,de obstáculos imensos,por mostrar,que temos sim,que lutar todos os dias contra o senso comum,que obstrui a sociedade,que nos impõe tantas vezes uma venda nos olhos.Temple Grandin é uma vitoriosa,não por ser uma pessoa realizada(só),mas por ter,contra todas as expectativas,realizado seu potencial como ser humano.
Fantasticamente dirigido por Mick Jackson,'Temple Grandin' levou,entre outros o Emmy de melhor filme para a televisão,e melhor atriz para Claire Danes.O trabalho de Danes é impactante,minucioso,um trabalho de grande atriz,procurando captar nos menores gestos,a Temple Gradin real.Merecidíssiomo prêmio para Danes,que prova que é sim,uma ótima atriz,madura,pronta para desafios como interpretar uma pessoa complexa como Temple Grandin.
Um grande filme,que nos faz questionar os 'comportamentos adquiridos',ou o 'que/quem é normal',passando pela pretensa idéia humana de sermos superiores aos animais por sermos mais inteligentes.

Música-Duran Duran -Come Undone




My immaculate dream, made of breath and skin.
I've been waiting for you.
Signed with a home tattoo.
Happy birthday to you, was created for you.


Can't ever keep from falling apart at the seams.
Cannot believe, you're taking my heart to pieces.


Oh, it'll take a little time, might take a little crime to come undone.
Now we'll try to stay blind to the hope and fear outside.
Hey child, stay wilder than the wind, and blow me in to cry.


Who do you need, who do you love, when you come undone?
Who do you need, who do you love, when you come undone?


Words, play me deja vu, like a radio tune I swear I've heard before.
Chill, is it something real, or the magic I'm feeding off your fingers?


Can't ever keep from falling apart at the seams.
Cannot believe, you're taking my heart to pieces.


Lost in a snow filled sky, we'll make it alright to come undone.
Now we'll try to stay blind to the hope and fear outside.
Hey child, stay wilder than the wind, and blow me in to cry.


Who do you need, who do you love, when you come undone?
Who do you need, who do you love, when you come undone?
Who do you need, who do you love, when you come undone?


Can't ever keep from falling apart.
Who do you need, who do you love, when you come undone?
Can't ever keep from falling apart.
Who do you need, who do you love?
Can't ever keep from falling apart.
Who do you love, when you come undone?
Can't ever keep from falling apart..


Meu sonho imaculado, feito de fôlego e pele
Eu estive esperando por você
Marcado com uma tatuagem caseira
Feliz aniversário para você, foi criado para você

(Não consigo evitar entrar em crise
Não consigo acreditar, que você esteja deixando meu coração em pedaços)

Oh,vai levar um tempo, talvez até um pequeno crime para desmoronar
Agora, nós tentaremos ficar cegos para a esperança e o medo lá fora
Hey criança, fique mais selvagem que o vento e arrebata-me para o choro

De quem você precisa, quem você ama, quando você desmoronar?
De quem você precisa, quem você ama, quando você desmoronar?

Palavras,brincando comigo de 'deja-vu',como uma sintonia de rádio,eu juro que já ouvi isso antes
Arrepio,isso é algo real, ou a mágica que eu estou me alimentando dos seus dedos?

(Não consigo evitar entrar em crise
Não consigo acreditar, que você esteja deixando meu coração em pedaços)

Perdidos num céu preenchido de neve nós faremos isso certo para desmoronar-mos
Agora,nós tentaremos ficar cegos para a esperança e o medo lá fora
Hey criança, fique mais selvagem que o vento e arrebata-me para o choro

De quem você precisa, quem você ama, quando você desmoronar?
De quem você precisa, quem você ama, quando você desmoronar?
De quem você precisa, quem você ama, quando você desmoronar?

Não consigo evitar entrar em crise
De quem você precisa, quem você ama,quando você desmoronar?
Não consigo evitar entrar em crise
De que você precisa, quem você ama?
Não consigo evitar entrar em crise
De quem você precisa, quem você ama, quando você desmoronar?
Não consigo evitar entrar em crise


Manifesto Pelo Casamento Igualitário-Carta aberta aos candidatos brasileiros

w Current Signatures   -   Sign the Petition



To:  Candidatos das eleições 2010Carta aberta aos candidatos brasileiros – Manifesto Pró-Casamento Igualitário no Brasil

Senhoras e Senhores Candidatos,

Por meio desta carta-manifesto, nós, abaixo assinados, viemos reivindicar aos candidatos concorrentes no pleito de 2010 e perante a sociedade brasileira a aprovação urgente, no Brasil, do chamado casamento gay, melhor definido como casamento igualitário. Conclamamos que candidatos e cidadãos brasileiros aproveitem o processo eleitoral para refletir seriamente sobre o assunto.

Nós, sejamos lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros ou heterossexuais, somos apoiadores de um direito básico do qual todos os brasileiros devem ter neste país: a Igualdade Civil. Por isso, defendemos que o casamento igualitário, recentemente aprovado na Argentina, o seja também no Brasil. Não pensamos que tal medida seja radical ou subversiva, assim como não pensaram ser radicais aqueles que instituíram o divórcio ou o sufrágio secreto e universal em nosso país. Trata-se simplesmente de uma questão de igualdade civil e justiça democrática. Os conservadores devem aceitar que o Brasil é uma República Laica desde 1889, ou seja, há mais de 100 anos. Também repudiamos veementemente a proposta de se fazer um plebiscito sobre a União Civil Gay. Pensamos que a proposta, mesmo travestida de “democrática”, é cruel, humilhante e degradante com a população LGBT.

As razões para que o casamento igualitário seja aprovado no Brasil são muitas. Entretanto, o principal argumento é que somente esta reforma no código civil daria igualdade legal entre cidadãos com orientações sexuais diferentes da heteronormativa.

Esperamos, com esta carta-manifesto, fazer com que todos os candidatos do Brasil e a sociedade em geral entendam a gravidade da situação de exclusão civil, social e de direitos humanos em que se encontra grande parte da comunidade LGBT – estimada por especialistas em aproximadamente 10\% da população brasileira. Queremos chamar a atenção, especialmente, dos candidatos aos cargos de deputado estadual e federal, governadores, senadores e, principalmente, à Presidência da República, e pedir para que se manifestem claramente, sem hipocrisia, sobre o assunto.


Todas as mulheres e homens são iguais perante a lei

A Constituição Federal Brasileira, desde 1988, garante que todos os brasileiros são iguais perante a lei, portanto, têm os mesmos direitos e deveres. Em seu artigo 5º, a Carta Magna afirma: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, (...)”

Os cidadãos homo, bi e transexuais cumprem os mesmos deveres que os heterossexuais para com a República, são obrigados a votar, a servir militarmente à pátria (no caso masculino), a pagar os impostos etc. Todavia, a elas e eles ainda são negados, por parte do Estado, vários direitos básicos, como a igualdade civil e jurídica e mesmo a garantia e manutenção de sua integridade física. Direitos básicos estão comprometidos no país, como a garantia à segurança e à vida nos casos de atentados homofóbicos, a que costumeiramente estão expostos os LGBTs em seu dia-a-dia. No Brasil ainda se faz necessária a urgente aprovação do PLC-122, que criminaliza a discriminação por orientação sexual, como em todas as nações modernas do mundo. Não fazê-lo é ser conivente com os assassinatos de gays, lésbicas e transgêneros que acontecem a cada dois dias no Brasil.

Além das violações diárias de seus direitos, os cidadãos LGBTs são, ainda, discriminados pelo Estado brasileiro. Ao não equiparar os direitos civis entre heterossexuais e homossexuais, o Estado fere a isonomia republicana, deslegitimando sua própria base jurídica. Inclusive, com isso, ainda fortalece as pretensões daqueles que querem continuar a discriminar e excluir “legalmente” uma parcela da população brasileira - a LGBT.

Entre os objetivos declarados na Constituição da República Federativa do Brasil, em seu artigo 1º estão: “II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; (...)”. Percebe-se, claramente, que estes dois valores ainda são aviltados a gays, lésbicas, bissexuais e transexuais ao terem negados os direitos civis relacionados ao casamento e a constituição de família.

Sem a equiparação dos direitos civis entre homossexuais e heterossexuais, a legitimidade republicana deve contestada, afirmando a injustiça formal existente no Brasil. Para que essas diferenças sejam progressivamente resolvidas, é necessário que, ao menos legalmente, todos sejam considerados iguais, sem qualquer distinção, inclusive aquelas motivadas pela orientação sexual. O Estado não pode ser agente desta distinção, e por isso, deve urgentemente reconhecer a existência legal das famílias homoafetivas.

A aprovação do casamento igualitário seria a correção da injustiça civil relacionada aos direitos dos cidadãos LGBTs de constituírem família e possuírem os mesmos direitos civis e familiares que os heterossexuais. Somente a aprovação da união civil entre pessoas do mesmo sexo não se justifica mais na atual conjuntura política e histórica. Além de estabelecer uma evidente separação entre aqueles que deveriam ser constitucionalmente iguais, os direitos limitados por ela concedidos já foram, em parte, contemplados pelas inúmeras decisões do poder judiciário brasileiro, ou concedidas por decisões administrativas de órgãos federais (Receita Federal etc) e empresas públicas (Caixa Econômica etc) e privadas.

Ou seja, somente o casamento igualitário estabelece a isonomia civil de direitos republicanos, sem criar diferenças. Pensamos que a não-equiparação de direitos civis ou a manutenção da desigualdade legal entre todos os cidadãos é tão grave que abre precedente perigoso para garantia da manutenção e da legitimidade do regime constitucional brasileiro.


O Brasil é um Estado Laico

O Brasil também se afirma constitucionalmente como uma democracia que prima pela liberdade de pensamento. Para garanti-la, determina a separação entre Estado e Igrejas: O Art. 19 da Constituição Federal proíbe à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios "estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público", e também “criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si”.

Apesar dessa clara norma legal, muitos eleitos, principalmente deputados e senadores, e funcionários públicos não respeitam essa separação entre Estado e Igreja(s), provavelmente por não entenderem o que é um Estado Laico. O laicismo, princípio que rege a base teórica das leis brasileiras, é uma doutrina filosófica que defende e promove a separação do Estado das igrejas e comunidades religiosas, assim como a neutralidade do Estado em matéria religiosa. A palavra "laico" é um adjetivo que significa uma atitude crítica e separadora da interferência da religião organizada na vida pública das sociedades contemporâneas.

Entretanto, alguns grupos religiosos conservadores impõe seu pensamento na forma de lobbies político-religiosos, obrigando o conjunto da sociedade a aceitar seus conceitos estritamente religiosos, regulando leis e ditando padrões de comportamento beseados na religião. Um bom exemplo é como os grupos religiosos, sobretudo católicos e neopentecostais, pretendem obrigar a grupos que não confessam seus preceitos a viver de acordo com suas normas e dogmas. Neste caso, eles violam a Constituição pretendendo enfraquecer a exigência do Estado Laico.

Duas modificações importantes instituídas a partir da declaração da laicidade do Estado foram a a criação do Casamento Civil (coexistindo a partir de então com o Matrimônio religioso) e a adoção do Registro Civil de Nascimento (que substitui o Registro de Batismo).

A lei de igualdade civil da qual os brasileiros LGBTs clamam pela aprovação quer ampliar os direitos ao casamento civil. Importante reafirmar que não cabe aqui nenhuma exigência que altere o matrimônio religioso ou que pretenda obrigar as doutrinas a incluir o casamento gay. Isto porque o Estado laico funciona em duas vias: nele não cabe nenhuma interferência religiosa, mas ele também se abstém de decisões que afetem qualquer religião. Não cabe ao Estado brasileiro decidir sobre como a Igreja Católica, por exemplo, casa seus fiéis: só a Santa Sé, no Vaticano, tem esta prerrogativa. Contudo, ao Estado brasileiro cabe proteger todos os seus cidadãos de todas as formas que possam cercear seu direito a liberdade.

O casamento civil é um direito que somente a parcela heterossexual da população brasileira possui. O clamor entre os indivíduos homossexuais, bissexuais e transexuais da República é para que este direito seja ampliado a todos, sem distinções. Assim, não haverá desigualdade jurídica instituída.

Pode-se constatar que o “argumento” mais poderoso contra o casamento gay origina-se do meio religioso, e começa sempre com citações da Bíblia Sagrada. Entretanto, esse discurso não serve como argumento quando se discute políticas públicas, leis e modelos de Estado. Em um Estado laico e democrático, crenças religiosas não podem, em absolutamente nenhuma circunstância, ser incluídas entre elementos formadores do pensamento legislador ou público. Nessas condições, nenhum preceito de base religiosa tem qualquer legitimidade na configuração normativa de leis, códigos ou regulamentos estatais.


Formar família é para poucos?

Um argumento comum dos setores conservadores contrários ao casamento é o de que um casal homossexual não forma uma família. Retrocedendo historicamente, também o modelo de família que se vê hoje em dia (homem, mulher e filhos) pode ser datado como posterior a Segunda Guerra Mundial (isto é, a partir da década de 1950). E isto somente se falarmos do ocidente.

A antropologia e a sociologia comprovam que, fora do mundo ocidental, ainda hoje, o modelo de família pode ser muito distinto do que se convencionou chamar de família. Já no ocidente, mais de 38 tipos de família coexistem hoje nas sociedades urbanas. O “modelo” de família não é unívoco mesmo no mundo ocidental: famílias de mães ou pais solteiros; divorciados que casam-se novamente e reúnem seus filhos, os filhos do cônjuge e os nascidos desse casamento; famílias formadas por pessoas que, na verdade, não têm nenhum parentesco sanguíneo. O modelo de família é extremamente mais amplo do que o texto da lei brasileira permite afluir.

Outro argumento contrário ao casamento gay é o de que duas pessoas do mesmo sexo não podem gerar filhos e, portanto, não podem per si constituir família. Este argumento, se for levado a sério, excluiria também os casais heterossexuais que, por um motivo ou outro, também não geram filhos. Casais estéreis ou casais idosos não deveriam mais constituir uma unidade familiar perante a lei. Isto absolutamente não faz sentido. Até porque a lei brasileira prevê o caso de adoção. Crianças são abandonadas por inúmeros motivos em abrigos e protegidas pelo Estado, e podem ser adotadas por estes casais heterossexuais que não podem gerar filhos. Porque não pelos casais homossexuais?

Outra afirmação usada contra a família homoafetiva é dar uma natureza “transviada” à relação de duas pessoas do mesmo sexo, crendo que os indivíduos não forneceriam bons modelos para a formação de uma criança. Argumenta-se que esta “má influência” seria prejudicial ao desenvolvimento destas jovens mentes.

Há os que sentenciam que o filho de um homossexual teria o mesmo comportamento afetivo sexual, ignorando aqueles que são frutos de lares heterossexuais. Com esse enunciado, nega-se outro direito aos gays: a adoção, em conjunto, de uma criança.

Os candidatos a cargos públicos devem a todos os cidadãos, no mínimo, um posicionamento claro sobre estas questões. Isso é fundamental para que a democracia possa tornar-se mais do que uma bela palavra.

Brasil, agosto de 2010
Sincerely,
The Undersigned

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Poesia-"Despedida" de Cecília Meireles(1901-1964)

Vais ficando longe de mim
como o sono,nas alvoradas;
mas há estrelas sobressaltadas
resplandecendo além do fim.

Bebo essas luzes com tristeza,
porque sinto bem que elas são
o último vinho e o último pão
de uma definitiva mesa.

E olho para a fuga do mar,
e para a ascensão das montanhas,
e vejo como te acompanhas
-para me desacompanhar.

As luzes do amanhecimento
acharão toda a terra igual.
-tudo foi sobrenatural,
sem peso de contentamento,

sem noções do mal nem do bem
-jogo de pura geometria,
que eu pensei que se jogaria,
mas não se joga com ninguém.

(Para H.)

Madonna e Lady Gaga-Aproximações/Distâncias

Madonna surgiu em 1984 em pleno advento da era do videoclipe(assim como Michael Jackson).A Madonna de 'Borderline' dificilmente sugeriria uma cantora que tem se mantido em evidência por 26 anos,e é sem dúvida,um dos ícones da nossa época.E Madonna passou por várias fases,todas devidamente estudadas e orquestradas para chamar o máximo de atenção e trazer a maior publicidade possível.Mas é claro nunca teria ido longe se não fossem dois detalhes:inteligência e talento.
Lady Gaga é o produto de um novo tipo de mídia:aquela da era da Internet,que faz e desfaz em questão de meses,de semanas,de dias.E a moça tem se sustentado bem.Embora sua música não seja(ainda?) o que se possa qualificar de boa,seus vídeos são criativos e intensos.
Preâmbulos:
Gaga-sua colagem visual é mais fragmentada,mas também mais inócua.
Madonna-Evoluiu dos vídeos rasteiros de pin-up suburbana(como uma Marilyn reciclada e mais pop),passou pelo erótico-chique (ou 'porn-soft')de "Erotica" .Em 1990 causou grande escândalo com o livro de fotos também chamado Erótica(e com o documentário-"Na Cama com Madonna").O livro é tudo,menos erótico:as fotos são de uma sofisticação pseudo-decadente,estudada demais,e a encenação monocromática e algo forçada da cena S/M não passa nenhuma sensação de realidade-é um teatro estático,sem vida.
Mas grandes obras de Madonna surgem na virada dos anos 90:as grandes canções do álbum "Ray of Light" e alguns vídeos fabulosos como "Frozen","Ray of light" e a impressionante obra-prima "Bedtime Stories"(que é do álbum do mesmo nome).
Parêntese-Em ambas as cantoras é evidente a influência de um certo imaginário pornográfico gay(que em Madonna tem sutilezas e gradações-do mais chocante lugar comum ao sublime) e em Gaga transmuta-se muitas vezes na encenação do clichê,como em "Alejandro"( ou "Telephone"),com seu pesado cenário pseudo S/M,seus rapazes bombados e paramentados de couro negro,e o cenário rebuscado,pesado demais.E é até engraçado que Gaga ache 'blasfemo(?)" fantasias usando rosários e símbolos religiosos-nada mais antigo(Confiram a própria Madonna,Sade,Genet,os 'libertinos' do século XVIII).
Muito tem se falado da influência da cineasta alemã Leni Riefensthal no trabalho tanto de Madonna quanto de Lady Gaga.Riefensthal,que encenou com maestria os delírios do nacional-socialismo,e foi a diretora querida e preferida de Hitler e do sinistro Goebbels(o mentor do holocausto),hoje caminha para a quase canonização,passada uma borracha conveniente em seu passado de colaboração com o nazismo.A cineasta alemã que(apesar de seu passado)é uma grande diretora,promoveu em seus filmes(especialmente "Olympia" e "O Triunfo da Vontade") a glorificação da raça ariana,com seus homens e mulheres supostamente perfeitos(essa glorificação não existe na obra de Madonna e Gaga).É na glorificação de um ideal estético(não racista) que reside um ponto comum à videografia das duas cantoras.O que em Madonna é sempre sugerido,nunca sendo o foco,nos vídeos de Gaga torna-se o ponto central.Os filmes de Leni Riefensthal são pornográficos não por exibirem sexo gráfico(não há qualquer imagem dessa natureza),mas sim por pregarem a submissão dos corpos a um outro(no caso a um líder político-Hitler).Os corpos dos filmes de Riefensthal  não são os corpos reais,submetidos à realidade,portanto à decadência física,ao sofrimento,à morte,ou pelo menos à imperfeição corriqueira.São corpos fora do tempo,fora do real e portanto,meros símbolos de coisas,de idéias.A humanidade não é uma idéia monolítica,não é composta de top-models ou atletas malhados/bombados(esse é um tipo de imaginário que divide o mundo em duas absurdas/hiper-hipotéticas categorias:os 'muito belos' e os 'comuns ou feios(ou velhos,ou muito magros,etc)-como se essa realidade  fosse realmente possível,dada à  quase infinita e maravilhosa variedade dos seres humanos.A beleza em Riefensthal e em Gaga é pornográfica devido a essa 'coisificação' do ser humano,à insistência em estabelecer um suposto padrão estético,gerando um mundo que plana além do real,um mundo ideal(mas um ideal eminentemente perverso).Madonna foi sempre muito mais esperta e inteligente,e porque não brilhante,nesse aspecto.A narração em seus vídeos é quase sempre linear,embora nunca de maneira óbvia ou gratuita.As imagens são eloquentes,elas 'falam',exercem uma autoridade,ilustram idéias e conceitos e também buscam uma interpretação,uma mediação.Se há uma narração nos vídeos de Gaga,ela é fragmentada(o que é supostamente moderno),mas fragmentada não devido a um artifício artístico,mas  porque é a força da própria imagem em si e somente ela,que parece importar.As letras das canções de Lady Gaga são artísticas e estilisticamente pobres,redundantes,não se buscando qualquer outro significado(como Madonna nos anos 80),e indo além,as imagens impactantes estão ali inclusive para mascarar a ausência de conteúdo,para se contrapor à deficiência das palavras.assim,as palavras como que descem a um outro nível ,enquanto as imagens,de um hiper-realismo alucinatório são o único suporte.
A contestação radical dos costumes,que começando de forma explosiva nos anos 60,chegou até nós,teve desdobramentos específicos à  medida em que a indústria cultural foi capaz de assimilar e reciclar(assim aniquilando como sentido)a rebeldia autêntica e sincera em produto,(especialmente em produto midiático).Dois fatores parecem ter transformado o relacionamento indústria cultural /costumes de uma maneira absolutamente inesperada:o surgimento da epidemia de AIDS nos anos 80 e o triunfante advento da Internet.

É nesse cenário que se desenrolou a trajetória de Madonna e o no incerto(em todos os sentidos)quadro desse início esquizofrênico  do século XXI em que Gaga pode ou não decidir-se(ou ser decidida)a ser realmente,uma grande artista,alguém que tem algo a dizer que não sejam só balbucios estereotipados.

Porque não vou parar(de escrever nesse blog)

Quando comecei esse blog(depois de duas tentativas infrutíveras),minha proposta foi(e ainda é),falar do que amo e respeito em literatura(muito),cinema(bastante) e política(alguma coisa).
Muito cedo,constatamos alguns fatos na blogosfera,que gostemos ou não,parecem ser pontos-chave:se não comentamos em outros blogs,esses blogueiros não comentarão nos nossos;existe uma pressão para uma suposta ''clareza" nos posts,algo como,não publique resenhas "profundas" ou extensas(porque as pessoas teem preguiça de ler e entender);a maioria das pessoas prefere blogs com 'mensagens' à Augusto Cury(auto-ajuda e quejandos),ou platitudes da vida das celebridades ou garimpagem de vídeos que ridicularizam os outros.Nada contra,a princípio.Talvez por ser de outra geração,ou por ter uma visão de mundo muito pouco 'utilitarista',ou mais libertária,talvez(tendo um horror quase sagrado ao senso comum,ao libertarismo sem ação concreta,à hiper vazia cultura das celebridades) me recuso a isso.É mais fácil dizer que nunca pretendi dar shows de erudição por aqui,mas pura e simplesmente falar do que gosto.
Os comentários rareiam,assim como as visitas dos amigos blogueiros.E o incrível é,que sinceramente,nunca esperei chegar aqui-com um page rank razoável,e um certo respeito.
Talvez por não me inserir em um nicho visível eu supostamente tenha perdido.Não creio.Não tenho nicho.Não quero rótulo.Todo mundo que me acompanha aqui e no twitter sabe um pouco da minha vida,da minha orientação sexual,dos meus posicionamentos políticos,enfim,da minha visão de mundo.
Quantos blogs às vezes leio que destilam o preconceito que juram combater?Quantos nivelam a cultura a Paulo Coelho e afins?E assim,continuarei aqui,"à moda antiga" falar da importância da literatura em nossa vida,da beleza(não do simulacro dela),dos filmes que são marcantes para mim,da política sem a qual não vivo(porque tudo é política nessa vida).Obrigado,meus amigos.
Quero também agradecer a esses queridos amigos que conheci na blogosfera:seu apoio e sua compreensão são muito importantes:Vanessa Anacleto,Paulo Braccini,Cris Caetano,Luciano Santos,Marcelo Moraes,Luma Rosa,Mauri Boffil,Waldeir Almeida,Alexandre Lucas,Serginho Tavares.Um beijo a todos.
E esse blog continua,sim.

All We need is love


E tudo nos será acrescentado,certamente.

Música-"O Tempo não para"(Cazuza)



Canção emblemática de um grande artista,durante muito tempo considerado 'meio doido','autodestrutivo'(prova quer muita gente não entendeu nada).Canção profética em sua amarga auto-ironia,sua descrição precisa da sociedade burguesa e de nosso país("eu vejo o futuro repetir o passado","eu vejo um museu de grandes novidades").Cazuza permaneceu e permanecerá como um dos gênios da nossa raça.Salve!

Leitura Coletiva-"A Viagem do Elefante"(José Saramago)

José Saramago(1922-2010),é um típico caso do escritor que,embora considerado pela crítica um dos grandes do século que passou,embora tenha merecidamente recebido o Prêmio Nobel(ao contrário de alguns mais que questionáveis ganhadores),é um ficcionista que está sempre na lista dos considerados 'difíceis'.Essa lista não é de maneira alguma pequena:Guimarães Rosa,Clarice,especificamente seus romances),Hermann Broch,Kafka,Sartre,entre outros,para só falar dos grandes.
Os romances de Saramago,muito mais que difíceis,exigem uma entrega total do leitor a seu estilo,ao seu manejo virtuoso de uma língua portuguesa raras vezes tão vibrante de vida das palavras e expressões,tão sonora,tão admiravelmente moldada.Os textos de Saramago sempre formam um bloco compacto onde a língua é a própria vida do texto.
"A Viagem do Elefante" não é diferente.Até,ao contrário,aqui,o português de Saramago nunca foi mais saboroso,a forma com que maneja suas frases é de uma impressionante lucidez,não se deixando levar pelo rastejar fácil dos vocábulos,sempre manejando seu idioma como mestre.
A viagem do elefante Salomão em 1551/52 ,de Lisboa a Viena,é contada como uma espécie de apólogo da vida humana e  suas vicissitudes,seus altos e baixos,suas surpresas,boas e más,sua alegria e sua tristeza.
Presente do Rei Dom João III de Portugal ao imperador Maximiliano da Áustria,o elefante,seu tratador indiano Subrho e sua comitiva atravessam uma Europa muitíssimo diferente da que conhecemos,uma terra de sofrimento e misérias,mas também de alegria e prazer.A viagem do elefante,com seus acontecimentos tristes,reais,até atrozes,é também a viagem dos seres humanos por esse planeta,que bem ou mau,é nossa única casa.E Saramago sabe trabalhar sua narrativa com drama e humor(porque não?),dando ao texto uma densidade invejável ,profunda,com pausas que são dadas pelo próprio texto,que é lido com prazer constante,dada a maestria do escritor e seu domínio da narração e da palavra.
Fabuloso romance de um escritor que polêmicas à parte é um dos maiores do século XX,não só nas literaturas de língua portuguesa,mas também na literatura mundial.Perfeito mestre da palavra,Saramago na "Viagem do Elefante" nos lembra "(...)porque a vida ri-se das previsões e põe palavras onde imaginámos silêncio,e súbitos regressos quando pensámos que não voltaríamos a encontrar-nos.".
Um romance para ser lido com o coração aberto,saboreando uma obra prima real da nossa bela língua portuguesa.

Esse texto faz parte da Leitura Coletiva-José Saramago,em parceria com o  Fio de Ariadne .